O papa Francisco recebeu, nesta segunda-feira (12/10), em audiência privada, o cardeal australiano George Pell, absolvido em abril em um caso de pedofilia na Austrália e que retornou a Roma na quarta-feira, 30 de setembro, após mais de três anos de ausência.
A notícia foi anunciada no boletim oficial do Vaticano, que detalha as atividades diárias do pontífice.
O encontro entre o papa, muito sensível à presunção de inocência e ao destino dos prisioneiros, e o seu antigo "ministro" da Economia não surpreende.
No entanto, parece altamente improvável que o prelado australiano de 79 anos receba um novo cargo na Santa Sé.
O cardeal Pietro Parolin, o número dois do Vaticano, havia colocado os pontos nos "i" um dia após o retorno do prelado australiano a Roma.
"Não houve convocação do cardeal Pell pelo papa", disse ele a repórteres durante a apresentação de um livro. "O cardeal Pell devia vir a Roma para resolver sua permanência, ele partiu e ainda tinha seu apartamento".
O cardeal Pell, que teoricamente deveria observar uma quarentena de 14 dias ao chegar da Austrália, havia sido fotografado recentemente em um café perto da Cidade do Vaticano.
O australiano, conhecido pelo seu domínio e conhecimento dos assuntos econômicos, foi nomeado em 2014 pelo papa Francisco para chefiar um novo Secretariado da Economia, responsável pelo controle das finanças e das despesas nas várias administrações da Santa Sé.
A tarefa despertou grande resistência interna em uma Cúria Romana (governo do Vaticano) acostumada a uma grande autonomia financeira.
Uma hipótese recentemente divulgada pelo jornal Il Corriere della Sera, segundo a qual o cardeal italiano Angelo Becciu (influente prelado afastado em 24 de setembro pelo papa sob suspeita de malversação) teria enviado 700.000 euros à Austrália para pagar testemunhas australianas e incriminar Pell, foi negada.
"Eu nego categoricamente qualquer interferência no julgamento sobre o cardeal Pell", escreveu o cardeal Becciu, enquanto uma testemunha anônima que acusou o prelado na Austrália também desmentiu o boato por meio de seu advogado na imprensa australiana.
O cardeal foi condenado em março de 2019 a seis anos de prisão por estupro e agressão sexual contra dois coroinhas em 1996 e 1997 na Catedral de São Patrício em Melbourne (sudeste), da qual era arcebispo.
O Vaticano reagiu a esta "dolorosa notícia" assegurando seu "profundo respeito" pela Justiça australiana e lembrando, no entanto, que o cardeal Pell disse que era inocente e tinha "o direito de se defender até o último recurso".
O cardeal, no entanto, foi demitido do cargo de secretário de Economia do Vaticano ao término de seu mandato de cinco anos. O Vaticano anunciou que uma investigação canônica interna seria aberta.
Sua condenação, confirmada em recurso, foi finalmente anulada pelo Tribunal Superior da Austrália, que o absolveu em abril de cinco acusações de violência sexual, em razão do benefício da dúvida.
Pell, que ficou preso mais de um ano, foi então libertado da prisão e disse que o julgamento possibilitou reparar "uma grave injustiça".
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