ESTADOS UNIDOS

Duelo a distância

O presidente republicano, Donald Trump, e o democrata Joe Biden se atacam e defendem propostas, ao serem sabatinados por eleitores. Magnata recusa máscara e diz ter feito "trabalho incrível". Rival admite que tomaria vacina contra coronavírus

Correio Braziliense
postado em 16/10/2020 00:15
 (crédito: Brendan Smialowski/AFP)
(crédito: Brendan Smialowski/AFP)


A apenas 18 dias das eleições, o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden travaram, na noite de ontem, um duelo à parte, por força da pandemia da covid-19, que também atingiu a campanha do partido da oposição (leia abaixo). Ao contrário do tumultuado debate de 29 de setembro, quando o titular da Casa Branca interrompeu o rival por várias vezes, em Cleveland (Ohio), ambos participaram de town halls, separados por 1.190km. Durante o tradicional evento, um painel de eleitores, supervisionado por um moderador, interroga um candidato. Segundo o cronograma inicial, Trump e Biden fariam, ontem, em Miami (Flórida), o segundo de três debates. Como o republicano foi infectado pelo coronavírus, a Comissão de Debates Presidenciais decidiu pelo formato virtual, rejeitado por Trump. Por fim, o embate direto foi cancelado e substituído pelos town halls, que começaram exatamente no mesmo horário, às 20h (21h em Brasília). Enquanto Biden utilizou uma máscara o tempo todo, Trump dispensou o acessório.

As primeiras perguntas direcionada a ambos tiveram, como tema, o coronavírus. No National Constitution Center, na Filadélfia (Pensilvânia), um cidadão questionou Biden sobre como teria manejado a pandemia. “Trump perdeu enormes oportunidades e continuou a dizer coisas que não eram verdadeiras. (…) Ele não falou sobre o que era preciso ser feito, porque se preocupava com o mercado de ações”, respondeu o democrata, ao explicar que teria seguido o plano pandêmico criado pelo ex-presidente Barack Obama. Os ataques da campanha de Biden ocorreram no Twitter quase que de forma simultânea. “Mais de 215 mil americanos morreram e o que o presidente tem feito? Nada. Estamos no oitavo mês desta pandemia. Donald Trump ainda não tem um plano para controlar o vírus. Eu tenho”, disparou o ex-vice de Obama.

No Pérez Art Museum, em Miami, Trump tergiversou ao ser perguntado sobre a chamada “imunidade de rebanho” — fenômeno que ocorre quando uma porcentagem significativa de indivíduos fica imune a uma doença transmissível. “A cura não pode ser pior do que o problema em si”, respondeu o magnata. Ele tornou a atacar governadores democratas por terem implementado medidas de distanciamento social e fechado estabelecimentos comerciais. Trump assegurou que fez um “trabalho incrível” e que os EUA têm “dobrado a esquina” em relação à pandemia.

Imunização

Por sua vez, Biden garantiu a um eleitor que não hesitaria em tomar a vacina contra a covid-19, caso sua segurança e eficácia fossem comprovadas. “Se o corpo de cientistas afirmar (que ela está pronta) e ela tiver sido testada, (….) sim, eu a tomaria e encorajaria as pessoas a fazê-lo”, afirmou. O mesmo questionamento foi feito à senadora Kamala Harris, candidata a vice pelo Partido Democrata, durante o debate com Mike Pence, em 7 de outubro. Biden também lembrou que Trump “disse coisas malucas, como injetar alvejante no braço” para combater o coronavírus.

Confrontado sobre o tema do racismo, Trump afirmou: “Eu denunciei a supremacia branca por anos, (…) mas você não perguntou a Joe Biden se ele denuncia ou não o Antifa (movimento antifascismo formado por grupos de esquerda)”. “Eu denunciei a supremacia branca. Eu denunciei o Antifa, e eu denunciou essas pessoas da esquerda que incendeiam nossas cidades, administradas pelos democratas”, disse o presidente. Ao ser pressionado por um jovem eleitor negro sobre como pretende energizar o eleitorado afro-americano, o democrata defendeu mudanças sistêmicas nas instituições americanas, da Justiça penal à educação primária, como forma de fechar a lacuna de riqueza racial entre negros e brancos.

Quando perguntado sobre para quem deve dinheiro, Trump se recusou a responder, e apenas disse que a quantia era pequena, e que o valor de US$ 421 milhões (ou R$ 2,3 bilhões), divulgado pelo jornal The New York Times, era errado. Sobre a imigração, foi evasivo ao responder uma pergunta ligada ao DACA — programa lançado por Obama que impede a deportação dos ‘dreamers’, estrangeiros levados aos EUA pelos pais, ilegalmente, quando crianças. “Nós cuidaremos dos ‘dreamers’”, disse. “Nós construiremos 400 milhas (640km) de muro na fronteira sul”, prometeu Trump.

O presidente foi interrogado sobre se discutiu a eventual impugnação da eleição de 3 de novembro com a juíza Amy Coney Barrett, indicado por ele para a Suprema Corte. “Acho que ela terá que tomar essa decisão. Não acho que tenha qualquer conflito. Nunca perguntei a ela sobre isso. Nunca conversamos sobre isso”, comentou. Biden, por sua vez, disse que, em caso de vitória, não pedirá uma investigação sobre o governo Trump e deixará que o Departamento de Justiça decida sobre isso. Ele sublinhou que não acredita em vingança política.

Pensilvânia e Flórida são estados-chave para definir o vencedor das eleições. Pesquisa recente da Reuters/Ispsos, na Pensilvânia, aponta vitória de Biden, com 51% dos votos contra 44% para Trump. Na Flórida, o democrata também venceria, com 49% a 47% dos votos. Nos Estados Unidos, os cidadãos votam para escolher 538 delegados — em sua maioria, legisladores locais e dirigentes estaduais de seus partidos. O número de delegados em cada estado é proporcional ao tamanho da população. Para chegar à Casa Branca, um candidato precisa conquistar 270 votos do Colégio Eleitoral.

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Covid-19 atinge assessores de Kamala

 (crédito: Jeff Kowalsky/AFP)
crédito: Jeff Kowalsky/AFP

Kamala Harris, candidata à vice-presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, suspendeu os seus delocamentos até domingo, depois que dois casos de covid-19 foram diagnosticados em sua comitiva. De acordo com a equipe democrata, a senadora não teve “contato próximo” com os infectados pelo coronavírus. Duas pessoas ligadas à campanha testaram positivo para Sars-CoV-2, incluindo Liz Allen, diretora de comunicações de Harris, segundo um comunicado.

Harris não precisa ficar em quarentena, mas, “por precaução e de acordo com o compromisso de nossa equipe de campanha (…), estamos cancelando os deslocamentos da senadora Harris até domingo, 18 de outubro”, disse Jen O’Malley Dillon, responsável pela campanha da candidata. As duas pessoas que testaram positivo para o coronavírus viajaram de avião com a senadora democrata em 8 de outubro.

A equipe de campanha democrata informou que Kamala Harris realizou dois teses de PCR, ambos com resultado negativo. A senadora democrata não manteve contato com os dois indivíduos “nas 48 horas anteriores ao teste positivo”, especifica. Segundo O’Malley Dillon, “durante o voo de 8 de outubro (depois do debate com o republicano Mike Pence), a senadora Harris usou uma máscara N95, assim como os dois indivíduos”. “Ela não ficou a menos de 1,8m, por mais de 15 minutos, de qualquer um deles”, assegurou. A campanha começou o processo de rastreamento, “a fim de notificar todas as pessoas que mantiveram contato com os indivíduos durante a potencial janela de infecção”.

Segurança

Na quarta-feira, em entrevista à emissora MSNBC, Kamala disse que ela e a equipe estiveram “muito seguras” durante toda a campanha, em relação à covid-19. “Eu gostaria de abraçar as pessoas. Você não abraça pessoas nesses dias. Isso não é uma opção. Você não pode apertar mãos. Mas você pode olhar nos olhos, pode escutar e pode estar lá”, comentou. O anúncio sobre os casos de infecção pelo coronavírus na equipe da senadora democrata é a mais recente reviravolta em uma campanha presidencial virada de cabeça para baixo pela pandemia, duas semanas após o presidente Donald Trump testar positivo.

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