Investigação

Ex-secretário de Defesa do México é detido no aeroporto de Los Angeles

O governo mexicano não informou o motivo da detenção de Salvador Cienfuegos, no entanto a imprensa do país afirma que ele é investigado por narcotráfico

Agência France-Presse
postado em 16/10/2020 08:52 / atualizado em 16/10/2020 16:32
Neste arquivo, foto tirada em 16 de abril de 2016, o secretário de Defesa mexicano, Salvador Cienfuegos, lê um pedido público de desculpas diante de 26.000 soldados reunidos em uma base militar na Cidade do México. -  (crédito: RONALDO SCHEMIDT / AFP)
Neste arquivo, foto tirada em 16 de abril de 2016, o secretário de Defesa mexicano, Salvador Cienfuegos, lê um pedido público de desculpas diante de 26.000 soldados reunidos em uma base militar na Cidade do México. - (crédito: RONALDO SCHEMIDT / AFP)

O ex-ministro da Defesa Nacional do México Salvador Cienfuegos (2012-2018) foi detido no aeroporto de Los Angeles, na Califórnia - anunciou o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard.

Segundo a acusação apresentada pela Promotoria do Brooklyn, ele foi acusado perante um tribunal de Nova York por três crimes de narcotráfico e um de lavagem de dinheiro, entre 2015 e 2017, quando era membro do gabinete.

Os promotores afirmam que Cienfuegos "conspirou para produzir e distribuir" nos Estados Unidos heroína, metanfetaminas, cocaína e maconha entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2017.

A acusação deste general às vezes apelidado de "El Padrino", datada de 14 de agosto de 2019, foi divulgada apenas nesta sexta-feira (16).

"O acusado abusou de seu cargo público para ajudar o cartel H-2, uma organização de tráfico de drogas mexicana extremamente violenta, a traficar milhares de quilos de cocaína, heroína metanfetamina e maconha aos Estados Unidos, inclusive a cidade de Nova York", diz o memorando da prisão.

Mensagens de Blackberry interceptadas 

"Em troca de subornos, ele permitiu que o cartel H-2 - um cartel que frequentemente comete atos de violência, incluindo torturas e assassinatos - operasse com impunidade no México", destaca.

A Promotoria afirmou que as provas contra o ex-secretário incluem milhares de mensagens de Blackberry entre Cienfuegos e membros do cartel, interceptadas pelas autoridades.

Os crimes atribuídos a Cienfuegos são castigados nos EUA com uma pena mínima de 10 anos de prisão e uma máxima de prisão perpétua.

O ex-secretário deve comparecer diante de um juiz federal de Los Angeles às 13h00 locais. Será transferido para Nova York "nas próximas semanas", informaram os promotores, que pediram que Cienfuegos não seja libertado sob fiança porque apresenta "risco de fuga".

"Lamentável", diz Obrador 

Em sua coletiva de imprensa matutina, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que "é muito lamentável que um ex-secretário da Defesa seja detido acusado por vínculos com o narcotráfico" e assegurou que não há investigação alguma contra Cienfuegos no México.

Ele explicou que, há duas semanas, a embaixada do México nos Estados Unidos já havia lhe informado sobre a investigação contra Cienfuegos.

O líder esquerdista também alertou que os possíveis envolvidos com Cienfuegos que continuam ativos no Exército "serão suspensos, retirados e, se for o caso, colocados à disposição das autoridades competentes".

A prisão de Cienfuegos ocorre após a captura do ex-secretário de Segurança Pública do México, Genaro García Luna, nos EUA em dezembro de 2019, acusado de conspiração para traficar ao menos 53 toneladas de cocaína e que atualmente está preso em Nova York, mas aparentemente os casos não estão relacionados.

Dez anos de investigação 

A imprensa mexicana informou que Cienfuegos, de 72 anos, foi detido pelas autoridades americanas ao desembarcar no país com a família.

O MP mexicano não respondeu aos pedidos de informação sobre se Cienfuegos, general da reserva, era investigado no México, ou nos Estados Unidos.

O "Wall Street Journal" informou em seu site que o ex-ministro mexicano foi detido "a pedido da DEA", a agência que luta contra as drogas nos Estados Unidos, e citou como fontes "altos funcionários mexicanos".

Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA e que esteve mais de uma década no México, disse à AFP via telefone que soube de "rumores" sobre um possível vínculo de Cienfuegos com o crime organizado, mas sem elementos suficientes para acusá-lo.

A revista mexicana "Proceso" revelou que a detenção foi "resultado de uma investigação de corrupção por narcotráfico de vários anos, por parte do Departamento de Justiça" dos Estados Unidos.

De acordo com a revista, que cita fontes do Departamento de Justiça americano, "há pelo menos dez anos, antes de Cienfuegos assumir a Secretaria de Defesa", seus passos eram investigados no país.

Outros comandantes do Exército mexicano também começaram a ser investigados quando a Justiça dos Estados Unidos "começou a compilar evidências para fundamentar os processos de narcotráfico contra Joaquín Chapo Guzmán Loera", conhecido como "El Chapo, afirma a publicação.

"El Chapo", um dos líderes do cartel de Sinaloa, foi extraditado em 2017 para os Estados Unidos, onde foi condenado à prisão perpétua.

Cienfuegos comandou a Secretaria de Defesa durante o governo do presidente Enrique Peña Nieto, do outrora hegemônico Partido Revolucionário Institucional (PRI). Sua detenção nos Estados Unidos é a segunda de um ex-membro desta administração.

Acusado de conspiração para traficar ao menos 53 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, o ex-secretário de Segurança Pública do México Genaro García Luna foi detido em Dallas (Texas), em dezembro de 2019, e está preso em Nova York.

E o próprio Peña Nieto enfrenta acusações de corrupção.

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