Diplomacia

Londres ameaça ruptura pós-Brexit, se UE não mudar abordagem

Até o fim de dezembro, o país se encontra em um período de transição para negociar com Bruxelas um acordo de livre-comércio que determine suas futuras relações

Agência France-Presse
postado em 16/10/2020 10:58 / atualizado em 16/10/2020 11:08
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson participando das Perguntas do primeiro-ministro (PMQs) semanais na Câmara dos Comuns em Londres em 14 de outubro de 2020. -  (crédito: JESSICA TAYLOR / PARLAMENTO DO REINO UNIDO / AFP)
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson participando das Perguntas do primeiro-ministro (PMQs) semanais na Câmara dos Comuns em Londres em 14 de outubro de 2020. - (crédito: JESSICA TAYLOR / PARLAMENTO DO REINO UNIDO / AFP)

O Reino Unido deve se preparar para uma ruptura brutal com a União Europeia (UE) no fim do ano, caso não aconteça uma "mudança fundamental" na abordagem de Bruxelas nas negociações comerciais pós-Brexit - advertiu o primeiro-ministro Boris Johnson, nesta sexta-feira (16/10).

Os 27 "renunciaram à ideia de um acordo de livre-comércio, não parece acontecer nenhum progresso por parte de Bruxelas", afirmou Johnson em um discurso exibido na TV um dia depois de uma reunião em que os líderes europeus pediram a Londres que faça concessões para evitar uma ruptura sem acordo.

"Assim, dissemos a eles: 'venham nos encontrar, se existir uma mudança fundamental na abordagem, caso contrário, estamos dispostos a falar sobre os aspectos práticos' de uma separação brusca", acrescentou.

Após anos de atrasos e de caos político, o Reino Unido abandonou oficialmente a UE em 31 de janeiro passado, graças à esmagadora maioria parlamentar obtida pelo Partido Conservador de Johnson nas legislativas de dezembro de 2019.

Até o fim de dezembro próximo, o país se encontra em um período de transição para negociar com Bruxelas um acordo de livre-comércio que determine suas futuras relações.

Apesar das nove rodadas de conversações formais realizadas desde março e das tentativas de contatos informais das últimas duas semanas, os dois principais pontos de divergência continuam sem resultados.

Em troca de oferecer aos britânicos acesso ao mercado único, os europeus exigem que eles possam continuar pescando em suas águas e limitar os subsídios públicos a empresas privadas.

Para que seja ratificado a tempo pelos respectivos Parlamentos, as duas partes concordam que o acordo deve ser alcançado em outubro.

Johnson havia estabelecido como limite a data de 15 de outubro, dia de início da reunião de cúpula europeia, enquanto a UE defendia negociações até o fim do mês.

Apesar das dificuldades, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta que negociadores da UE visitarão Londres na segunda-feira para "intensificar as negociações" por um acordo pós-Brexit, "como estava planejado".

Em uma mensagem no Twitter, Von der Leyen destacou que a UE "continua trabalhando por um acordo, mas não a qualquer preço".

Na quinta-feira, a cúpula do Conselho Europeu insistiu em que ainda não existem condições para assinar um acordo sobre como funcionará a relação pós-Brexit. Nas conclusões da reunião, porém, o organismo pediu a Londres que adote "as medidas necessárias" para que isso aconteça.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tentou suavizar a posição, ao afirmar que as duas partes deveriam fazer concessões para se chegar a um acordo.

O principal negociador europeu, Michel Barnier, confirmou que permanecerá em Londres na próxima semana para tentar alcançar um acordo.

Alguns sinais indicaram nas últimas semanas que as posições poderiam estar mudando: Barnier pediu aos países pesqueiros da UE que fizessem concessões sobre o acesso aos barcos britânicos, e o negociador inglês David Frost deu a entender que aceitaria um mecanismo de arbitragem sobre subsídios públicos.

Mas, no momento crítico, nenhuma parte deseja ser a primeira a piscar.

"Estamos todos decepcionados e surpresos com o resultado do Conselho Europeu", realizado em Bruxelas, na quinta-feira, disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab, ao canal Sky News.

Na opinião do governo britânico, "um acordo pode ser alcançado, mas deve haver flexibilidade de ambos os lados", afirmou, posteriormente, em declarações à rádio BBC.

Apesar de seu discurso, Johnson está sob forte pressão ante as catastróficas consequências econômicas de uma eventual ruptura brutal em dois meses e meio. Este é um cenário, para o qual as empresas britânicas não estão preparadas.

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