Os libaneses recordam, neste sábado (17/10), o primeiro aniversário do movimento de protesto popular, que abalou a liderança política, mas que ainda não conseguiu provocar reformas concretas.
Três chefes de governo renunciaram desde o início dos protestos. Ainda assim, apesar da pressão dentro e fora do Líbano, as principais figuras políticas continuem no poder.
As manifestações estão programadas para este sábado, a partir das 15h locais (9h em Brasília), em direção ao porto de Beirute. Neste local, uma poderosa explosão ocorrida em 4 de agosto deixou mais de 200 mortos e cerca de 6.500 feridos.
Os manifestantes farão uma vigília à luz de velas às 18h07 (12h07 em Brasília), hora exata da explosão. A responsabilidade pela tragédia é atribuída, principalmente, à negligência das autoridades.
Próximo a este local, foi instalada uma estátua para relembrar o aniversário da "revolução" de 17 de outubro.
"Continuamos a desconsiderar" nossos líderes políticos como legítimos, disse Melissa, de 42 anos, que está fortemente envolvida no movimento.
"Continuamos na rua (...), juntos contra o governo corrupto", frisou.
Os protestos começaram no outono de 2019, em reação a um projeto do governo para taxar as ligações feitas pelo aplicativo WhatsApp. Na sequência, tornaram-se um movimento nacional de alcance sem precedentes para exigir a renovação completa de uma classe política no poder há décadas e considerada incompetente e corrupta.
O país também enfrenta sua pior crise econômica desde a guerra civil (1975-1990). Cada vez mais libaneses caem na pobreza e no desemprego, o que leva muitos deles a tentarem a sorte no exterior.
A situação se vê agravada pelo colapso da moeda nacional e pelas restrições bancárias a saques e a transferências para o exterior.
A este cenário, soma-se uma inflação galopante, dezenas de milhares de demissões e cortes nos salários. Tudo isso se agrava ainda mais no contexto da pandemia da covid-19.
As autoridades proibiram manifestações e reuniões públicas como forma de controlar os contágios por coronavírus. Mesmo com uma capacidade de mobilização reduzida nas ruas, muitos dizem, no entanto, que a revolta não para de crescer.
No Twitter, o cientista político Jamil Muawad observou que, apesar dos "inúmeros esforços" dos manifestantes, o movimento não tem um "programa político e liderança, o que impede seu progresso".
Enquanto isso, o coordenador especial da ONU para o Líbano, Khan Kubis, comentou na sexta-feira que, "em um ano catastrófico, as queixas e demandas legítimas dos libaneses não foram ouvidas". Ele concluiu que "tudo isso agravou ainda mais a falta de confiança que os libaneses têm em seus líderes".
A classe política permanece mergulhada em uma negociação sem fim para formar um governo, ignorando os apelos da comunidade internacional para iniciar reformas.
Inicialmente agendadas para quinta-feira (15), as consultas parlamentares para nomear o futuro chefe de Estado foram adiadas por uma semana pelo presidente Michel Aoun.
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