ESTADOS UNIDOS

Trump chama Fauci de "idiota"

Em conversa telefônica com a equipe de campanha, presidente republicano afirma que líder da força-tarefa de resposta à covid-19 é um "desastre". Magnata também cita "cansaço" dos norte-americanos em relação à pandemia do coronavírus

Correio Braziliense
postado em 19/10/2020 21:49
 (crédito: Caitlin O'Hara/AFP)
(crédito: Caitlin O'Hara/AFP)


O coronavírus provocou a morte de mais de 219 mil norte-americanos e infectou 8,1 milhões, entre eles o próprio presidente dos Estados Unidos. Apesar das estatísticas e a apenas 15 dias das eleições, o republicano Donald Trump voltou a atacar o médico infectologista Anthony Fauci, coordenador da Casa Branca da resposta contra a pandemia, a quem chamou de “desastre”. Também referiu-se ao especialista e a outras autoridades da saúde como “idiotas”. As declarações foram feitas em ligação para assessores de campanha, a partir de um hotel em Las Vegas. Jornalistas tiveram acesso à gravação da conversa telefônica.
“As pessoas estão cansadas da covid. Eu tenho esses grandes comícios. As pessoas estão dizendo: ‘Sejá lá o que for, apenas nos deixem em paz’. Elas estão cansadas. As pessoas estão cansadas de escutar Fauci e todos esses idiotas”, afirmou Trump. O magnata disse que Fauci é “um cara legal”, mas que “está aqui há uns 500 anos”. “Toda vez que ele vai à televisão, há sempre uma bomba, mas há uma bomba maior se você o demite. Esse cara é um desastre”, alfinetou o presidente. “Se o escutássemos, teríamos 700 mil (ou) 800 mil mortes”, acrescentou Trump. Fauci, 79 anos, ficou mundialmente reconhecido por seu trabalho como diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), situado nos arredores de Washington.
O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, não poupou críticas a Trump pelo ataque ao médico. “Agitar uma bandeira branca e dizer ‘isso é o que é’ é inaceitável, quando milhares de vidas de norte-americanos são tiradas a cada semana, quando empresas estão sendo fechadas. (...) O povo americano precisa de um líder para mostrar o caminho. Tudo o que o presidente Trump fez foi se encolher e se afundar na autopiedade”, declarou.
No domingo, Fauci concedeu entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS, na qual desqualificou a tese de Trump de que a pandemia estaria próxima do fim. Segundo o jornal The New York Times, o infectologista disse que não estava surpreso com o fato de o presidente ter contraído o Sars-CoV-2 e citou a falta de precaução da Casa Branca em tomar medidas protetivas durante eventos oficiais. “Eu fiquei preocupado que ele adoecesse, quando o vi em uma situação precária de aglomeração, sem separação entre as pessoas e com quase ninguém usando máscara”, admitiu.
O mais recente ataque do presidente a Fauci provocou uma dura reação do senador republicano Lamar Alexander. “O doutor Fauci é um dos servidores públicos mais distintos do nosso país. Serviu a seis presidentes, a começar por Ronald Reagan”, tuitou Alexander. “Se mais americanos prestassem atenção a seus conselhos, teríamos menos casos da covid-19.”

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Há uma semana, Fauci também tinha expressado descontentamento pelo uso de imagens suas em um anúncio de campanha de Trump sobre o coronavírus. “Nas minhas quase cinco décadas de serviço público, nunca apoiei publicamente nenhum candidato político”, respondeu o imunologista, dizendo que suas declarações no vídeo foram tiradas de contexto. Em vários momentos durante a resposta à pandemia, Fauci esclareceu ou corrigiu os comentários públicos de Trump sobre o desenvolvimento de tratamentos e vacinas para a covid-19. O tom entre eles se tornou tenso algumas vezes, como em abril, quando Trump retuitou uma publicação com a hashtag #FireFauci (Demita Fauci), para depois se dirigir ao povo americano e dizer que “Tony” fazia um grande trabalho.

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Complô de agentes russos

Seis membros da agência de inteligência militar russa GRU foram acusados nos Estados Unidos por ataques cibernéticos globais, incluindo contra a rede elétrica da Ucrânia, as eleições na França em 2017 e os Jogos Olímpicos em 2018, anunciou o Departamento de Justiça americano. Esses agentes “são acusados de realizar a série de ataques informáticos mais destrutiva e preocupante já atribuída a um único grupo”, disse John Demers, procurador-geral adjunto dos Estados Unidos, em coletiva de imprensa.
Os seis membros atuais ou anteriores da GRU também foram acusados de organizar um ataque de malware denominado “NotPetya” — em junho de 2017, a invasão infectou computadores de empresas de todo o mundo, causando perdas estimadas em US$ 1 bilhão.
Além disso, supostamente interferiram nas investigações sobre o envenenamento com um agente nervoso do ex-agente duplo russo Sergei Skripal e de sua filha, e realizaram ataques cibernéticos nos meios de comunicação e no Parlamento da Geórgia. Demers disse que membros da mesma unidade da GRU foram acusados, anteriormente, de tentar intervir nas eleições norte-americanas de 2016. No entanto, ele destacou que “não havia alegações de interferência eleitoral”.

Irlanda retoma o lockdown

Toda a Irlanda voltará a adotar o confinamento a partir da meia-noite de hoje para enfrentar a pandemia da covid-19, tornando-se, assim, no primeiro país da União Europeia a adotar a medida, anunciou o primeiro-ministro, Micheal Martin. O retorno do “lockdown” entrará em vigor à meia-noite local (20h de hoje em Brasília) e terá duração de seis semanas, acrescentou, destacando que as escolas continuarão abertas.
Todos estabelecimentos comerciais não essenciais devem fechar. Bares e restaurantes somente poderão comercializar comida para levar, informou o chefe de governo. “Pedimos a todos no país que fiquem em casa”, acrescentou Martin. Somente as pessoas com um emprego necessário terão “autorização para se deslocar ao trabalho”, afirmou. Os irlandeses só poderão sair de casa para fazer exercícios em um raio de cinco quilômetros ao redor de suas residências, sob pena de multa.
Diante do aumento preocupante da pandemia da covid-19 em grande parte da Europa e nos Estados Unidos, Michael Ryan, diretor de assuntos de emergência sanitária da Organização Mundial da Saúde (OMS), aconselhou, com urgência, a “pôr os casos de contato em quarentena”.

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