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Lagos, a capital econômica da Nigéria, continua imersa em um toque de recolher nesta quinta-feira (22/10), com suas ruas desertas e lojas fechadas, após dois dias de morte e violência depois da repressão violenta das manifestações pacíficas.
Ao menos 38 pessoas morreram na terça-feira em todo o país, entre elas 12 manifestantes em Lagos, onde o exército e a polícia dispararam com armas de fogo contra os protestos, especialmente na área de Lekki, segundo a Anistia Internacional.
Desde o início das manifestações há duas semanas, 56 pessoas morreram em todo o país, segundo essa ONG.
Milhares de jovens nas grandes cidades da Nigéria, inicialmente mobilizados via redes sociais, estão há 15 dias indo às ruas para denunciar a violência policial e a ineficácia e corrupção do poder central.
Nesta quinta-feira (22/10) vários disparos foram ouvidos e uma espessa fumaça preta emanava do teto da prisão central de Lagos, segundo uma jornalista da AFP. "Estão atacando a prisão", declararam os policiais perto do centro penitenciário.
Mas no meio da tarde "a situação se tranquilizou e parecia sob controle", segundo um morador perto do presídio.
Silêncio do presidente
Dois dias após a repressão que gerou condenações em todo o planeta, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari ainda não se dirigiu aos seus concidadãos. O silêncio está sendo muito criticado e várias personalidades pedem sua renúncia.
A polícia e o exército, acusados por essas mortes, negam qualquer responsabilidade.
Mas os vídeos gravados em Lekki mostram militares disparando sobre uma multidão que agitava bandeiras e cantava o hino nacional.
Essas imagens percorrem as redes sociais desde terça-feira e provocaram uma onda de indignação entre centenas de jovens.
Várias delegacias, as sedes de um canal de televisão e da Autoridade Portuária, assim como um terminal de ônibus, foram incendiados. Houve confrontos violentos entre as forças de segurança e jovens em vários bairros da cidade.
Desaprovação internacional
A repressão das manifestações na terça-feira gerou uma grande condenação internacional.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, condenou nesta quinta-feira "o uso excessivo da força" por parte do Exército na Nigéria, depois da repressão sangrenta dos protestos pacíficos.
"Estados Unidos condena energicamente o uso excessivo da força por parte dos militares que dispararam contra manifestantes pacíficos em Lagos, causando mortes e feridos", disse Pompeo, pedindo que haja uma investigação imediata sobre o ocorrido.
A União Europeia, por sua vez, julgou "crucial que os responsáveis por esses abusos compareçam à Justiça e prestem contas", enquanto a ONU pediu "o fim da brutalidade e dos abusos policiais na Nigéria".
O candidato a presidência dos Estados Unidos Joe Biden pediu "ao presidente Buhari e aos militares que cessem a violenta repressão que custou a vida de vários manifestantes", escreveu em seu site.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, considerou que "parece bastante claro que as forças nigerianas recorreram excessivamente ao uso da força, disparando e matando com balas reais".
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