EUA

Trump e Biden baixam o tom no último debate antes das eleições de 3 de novembro

A 12 dias das eleições, no debate em Nashville (Tennessee), o presidente dos Estados Unidos anunciou que a vacina contra a covid-19 estará pronta em poucas semanas

Rodrigo Craveiro
postado em 23/10/2020 06:00
 (crédito: CHIP SOMODEVILLA/AFP)
(crédito: CHIP SOMODEVILLA/AFP)

Pela última vez, o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden estiveram frente a frente, ontem, sem barreira de acrílico e de forma menos caótica do que no primeiro duelo, em 29 de setembro. A 12 dias das eleições, no debate em Nashville (Tennessee), o presidente dos Estados Unidos anunciou que a vacina contra a covid-19 estará pronta em poucas semanas, defendeu sua política de combate à pandemia do coronavírus — que matou 222 mil norte-americanos —, voltou a culpar a China e previu um futuro brihante para o país. “Fechamos a maior economia do mundo para conter essa pandemia que veio da China. (…) Temos uma vacina a caminho, que está pronta e será anunciada em poucas semanas”, declarou Trump, ao assegurar que foi parabenizado por vários líderes mundiais pela resposta à doença. “Esperamos ter 100 milhões de frascos (da vacina) assim que estiverem prontos”, acrescentou o magnata, dessa vez menos agressivo. “Qualquer um que seja responsável por tantas mortes não deveria permanecer como presidente. (…) Ele disse que estamos aprendendo a viver com isso. As pessoas estão aprendendo a morrer com isso. Você, que está em casa e tem uma cadeira vazia ao lado, preste atenção: estamos morrendo”, respondeu Biden.

Para tentar convencer o eleitorado e reverter as pesquisas, Trump respondeu à ultima pergunta — sobre o que diria, na posse, aos que não votaram neles — com ataque à China e incitação ao medo. “Temos que voltar a ter um país com sucesso total, como antes dessa praga chinesa. Estamos reconstruindo (a nação) com números incríveis, com milhões e milhões de empregos. Estamos na estrada do sucesso. Se ele (Biden) entrar, teremos uma depressão como nunca antes vista”, advertiu. Por sua vez, Biden declarou que governará para toda a população e criará milhões de empregos. Ambos candidatos se focaram na esperança e no medo para seduzir os indecisos. Pelo menos 47 milhões dos 240 milhões de eleitores, o equivalente a 19,5%, enviaram seus votos pelos correios, um número recorde.

No segundo tema do debate, eles responderam sobre as acusações de interferência estrangeira nas eleições de 3 de novembro. “Qualquer país, se interferir nas eleições americanas, pagará um preço. Se você interfere na soberania do país, vicê deve pagar. Está muito claro que a China, a Rússia e o Irã estão envolvidos”, disse o democrata, que questionou o motivo pelo qual o republicano não falou nada sobre isso com o colega russo, Vladimir Putin. Trump reagiu com uma acusação contra o oponente. “Joe recebeu US$ 3,5 milhões que vieram da Rússia, de Putin. Ele era muito amigo do ex-prefeito de Moscou”, atacou. Biden garantiu que não recebeu “nenhum centavo de nenhum outro país” e lembrou que Trump mantém contas secretas na China.

Pressionado por Biden e pela mediadora, Trump prometeu liberar as próprias contas (do imposto de renda) “assim que puder”. “Paguei milhões e milhões de dólares. Não ganhei dinheiro da Ucrânia, você que recebeu”, disparou o presidente, em direção ao rival. O titular da Casa Branca voltou a associar Hunter Biden, filho de Joe, a suspeitas de corrupção envolvendo a empresa ucraniana de produção de energia Burisma. Trump afirmou que, quando Biden tornou-se vice, a Burisma pagou US$ 183 mil por mês a Hunter e um repasse adiantado de US$ 3,5 milhões. “Quem ficou em apuros na Ucrânia foi esse cara, que tentou subornar o governo (de Kiev) contra mim. Meu filho não ganhou dinheiro”, asegurou, ao explicar que Hunter foi alvo de uma investigação que o isentou de qualquer malfeito.

Trump voltou a criticar o Obamacare — plano de subsídios de seguro-saúde criado pelo ex-presidente Barack Obama. “O Obamacare não é bom. Não importa o quão bem ele seja gerenciado. O que vamos fazer é encerrá-lo”, avisou o republicano. “Queremos dar um plano de saúde acessível às pessoas, e é isso que vamos fazer”, devolveu Biden. Ao se confrontado sobre o tema da imigração, Trump demorou a responder sobre 540 crianças separadas nas fronteiras cujos pais ainda não foram encontrados. “Crianças são trazidas aqui por transportadores ilegais, cartéis. (…) Estamos tentando reunir as crianças com os pais”, afirmou. Biden sublinhou que as crianças foram separadas na fronteira para desincentivar a travessia. “Elas foram separadas dos pais, e isso nos torna uma piada no mundo.”

Racismo

O tema do racismo foi responsável por um dos momentos mais polêmicos. “Eu sou a pessoa menos racista desse auditório”, vangloriou-se Trump, depois de dizer que “ninguém fez mais para a comunidade negra do que Donald Trump, talvez a exceção seja Abraham Lincoln”. Biden aproveitou e emendou com ironia. “O Abraham Lincoln aqui é um dos presidentes mais racistas que já tivemos”, disse. Segundo o democrata, os EUA sempre se gabam da igualdade entre os homens como uma verdade. “Temos levado esse ponteiro para a exclusão, não para a inclusão. Isso vai acabar.”

Lawrence Gostin, professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown e especialista em direito de saúde pública, disse ao Correio que Trump assumiu, falsamente, que os EUA precisam se abrir para salvar a economia. “É uma falsa escolha entre saúde pública e economia. A única maneira de fazer a economia funcionar é deter a covid-19. Precisamos abrir de forma mais inteligente, seguindo as diretrizes de saúde pública. Precisamos usar máscaras e nos distanciar socialmente”, comentou. Para o estudioso, os ataques pessoais de Trump a Biden e a Hunter são uma falácia. “A questão aqui não deve ser sobre famílias, mas sobre a saúde e a segurança dos EUA.”

Por sua vez, John Myles Coleman, cientista político da Universidade da Virgínia, classificou de “agradável surpresa” a postura de Trump de não tergiversar e não discutir com a moderadora. “Como eu suspeitava, em sua primeira resposta, o presidente tentou vender a ideia de quão grande estava a economia antes do vírus”, disse ao Correio. “A melhor atuação de Biden deu-se quando ele questionou Trump sobre a resposta à pandemia e quando usou a metáfora da cadeira vazia nos lares vitimados pela covid-19. O democrata é mais eficiente quando fala diretamente aos telespectadores.”

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“Os microfones mudos funcionaram bem. Com a calma, foi fácil perceber que Trump não respondia às perguntas. Biden teve um debate melhor, pois falou sobre os planos para o país. Trump tinha pouco a dizer sobre como ajudará a nação sobre a covid-19.” Todd Graham, diretor de Debate da Universidade do Sul de Illinois.

“O vencedor do debate desta noite (ontem) é o botão mudo. Trump se manteve calmo por cerca de meia hora, mas depois se perdeu. Apesar de não ser o ‘Senhor Eloquente’, Biden esteve muito coerente e convincente durante todo o debate.” David Greenberg, professor de história, jornalismo e estudos midiáticos da Rutgers University (Nova Jersey).


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