Negócios

Máfia e pandemia, o desafio duplo dos empresários italianos

As autoridades temem que, com a pandemia de coronavírus, a pressão da máfia sobre as empresas aumente ainda mais

Agência France-Presse
postado em 23/10/2020 13:08 / atualizado em 23/10/2020 13:09
Uma visão geral mostra o distrito de Navigli vazio no distrito de Navigli no sul de Milão em 22 de outubro de 2020, após o fechamento de bares e restaurantes. -  (crédito: Miguel MEDINA / AFP)
Uma visão geral mostra o distrito de Navigli vazio no distrito de Navigli no sul de Milão em 22 de outubro de 2020, após o fechamento de bares e restaurantes. - (crédito: Miguel MEDINA / AFP)

"Se não me pagar, vamos te quebrar em dois pedaços". Um empresário italiano conta à AFP, ainda abalado, as ameaças e coerções que recebeu de criminosos e mafiosos que se aproveitam da pandemia para ganhar dinheiro.

Falar sobre isso não é fácil, confessa Gabriele Menotti Lippolis. "Estou falando porque acredito que os empresários devem denunciar quando acontece. Pelo bem das empresas e do país", diz ele.

"Não devemos aceitar a violência, nem as ameaças, é preciso mostrar que o Estado é mais forte. Somente unidos venceremos as máfias", acrescenta.

Menotti Lippolis, de 43 anos, lidera uma empresa de eventos e também tem propriedades no turismo, entre elas vários restaurantes e um dos maioes "beach clubs" da região de Apulia (sul).

Em duas ocasiões, foi vítima de tentativas de extorsão, em 2013 e 2017.

"Alguém se aproximou de mim e me pediu para pagar uma boa quantidade de dinheiro. Evitei responder imediatamente que 'não', para ganhar meia hora e ir à delegacia fazer a denúncia. As forças de ordem prenderam quem havia me ameaçado. As autoridades sempre estiveram do meu lado. Isso é importante, porque são momentos muito difíceis. Eu pensava na minha família, nos meus colaboradores", porque "as ameaças eram claras", relata.

As tentativas de extorsão não foram detidas, conforme demonstrado pela revolta de um grupo de comerciantes de Palermo, na Sicília, contra o chamado "pizzo" - uma espécie de imposto cobrado pela máfia local, o que levou à prisão de 20 pessoas na semana passada.

Apesar disso, as autoridades temem que, com a pandemia de coronavírus, a pressão da máfia sobre as empresas aumente ainda mais.

"O confinamento deixou muitas empresas no prejuízo, de joelhos. Os mafiosos estão tentando se aproveitar deste momento para se infiltrar. Uma das estratégias é emprestar dinheiro e, quando não puderem devolvê-lo, se 'apropriam' da empresa", explica Enzo Ciconte, autor de vários livros sobre a máfia.

Empréstimos com juros exorbitantes

Geralmente, os empréstimos oferecidos aos empresários à beira da falência e que não conseguem obter a ajuda bancária necessária têm taxas de juros exorbitantes, acima de 500%.

A pressão para que reembolsem os empréstimos tende a aumentar gradualmente, com ligações e visitas.

Uma vez que o empresário é encurralado, "os mafiosos às vezes o deixam em paz, mas todos os lucros terminam em seus bolsos. É uma técnica eficaz porque dificulta as investigações policiais", explica Ciconte.

Originárias do sul da Itália, as máfias se ramificaram por toda península, inclusive nas regiões prósperas e industrializadas do norte.

Infiltrar-se em uma empresa pode ser uma boa forma de lavar as enormes quantidades de dinheiro ilegal que vêm do tráfico de drogas e da prostituição.

A melhor forma de fazer isso é assumir essas empresas em crise, criar novas e fundar sociedades, levando em consideração que, em breve, a Itália receberá bilhões de euros do plano de recuperação europeu.

Essas proibições administrativas reduzem a atratividade dessas empresas. Segundo os dados do Ministério do Interior, comunicados à AFP em meados de outubro, os prefeitos italianos assinaram mais de 1.600 de medidas antimáfia desde o início do ano.

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