Diplomacia

Charlie Hebdo publica charge com presidente turco e recebe críticas

O semanário satírico francês Charlie Hebdo publicou na terça-feira a capa de sua edição mais recente com um desenho de Erdogan de cueca

Agência France-Presse
postado em 28/10/2020 10:14 / atualizado em 28/10/2020 10:15
 (crédito: Adem ALTAN / AFP)
(crédito: Adem ALTAN / AFP)

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou nesta quarta-feira uma charge dele publicada no semanário satírico francês Charlie Hebdo, que chamou de "ataque vil" cometido por "canalhas".

Na tarde de terça-feira, o semanário Charlie Hebdo postou nas redes sociais a capa de sua edição mais recente: um desenho de Erdogan de cueca e com uma cerveja na mão, levantando o vestido de uma mulher com véu enquanto ela grita: "Oooooh! profeta!".

"Não vi a caricatura (...) É inútil falar qualquer coisa sobre estes canalhas", declarou Erdogan em um discurso em Ancara. "Minha ira não se deve ao ataque vil contra minha pessoa, e sim ao insultos contra o profeta Maomé", completou.

Este retrato pouco atraente do líder turco provocou a indignação do governo de Ancara, que denunciou o "racismo cultural" e prometeu tomar medidas "judiciais e diplomáticas".

"Sabemos que o alvo não sou eu, mas nossos valores", disse Erdogan.

O Ministério Público de Ancara abriu uma investigação contra os responsáveis pelo Charlie Hebdo por "insulto ao chefe de Estado". As novas tensões surgem em um momento de crise diplomática entre a Turquia e a França, dois países membros da OTAN, mas com relações complicadas.

Na segunda-feira, Erdogan exortou seus compatriotas a boicotarem os produtos franceses, poucos dias depois de Paris ordenar o retorno de seu embaixador a Ancara, depois que o presidente turco questionou a "saúde mental" de seu homólogo francês.

A Turquia criticou Emmanuel Macron por sua defesa da liberdade de desenhar o profeta Maomé, durante a homenagem ao professor francês decapitado por mostrar caricaturas do profeta em sala de aula.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, alertou nesta quarta-feira que insultar Maomé pode levar à "violência".

"Insultar o profeta não é um feito. É imoral. Encoraja a violência", declarou Rohani em um discurso transmitido pela televisão.

"É surpreendente que isso venha daqueles que se gabam de cultura e democracia, que de alguma forma, mesmo que não intencional, fomentam a violência e o derramamento de sangue", continuou em referência a Macron.

Rohani também pediu ao Ocidente "que pare de se intrometer nos assuntos internos dos muçulmanos" se "realmente quiser alcançar paz, igualdade, a calma e a segurança em nossas sociedades atuais".

Teerã convocou o número dois da embaixada francesa no Irã para protestar contra a "insistência" de Paris em apoiar as charges de Maomé, anunciou o Ministério das Relações Exteriores iraniano em um comunicado na terça-feira.

O semanário Charlie Hebdo publicou pela primeira vez os desenhos satíricos do profeta Maomé em 2006 (assim como outros meios de comunicação europeus) para defender a liberdade de imprensa, depois que sua publicação em um jornal dinamarquês gerou protestos de muitos muçulmanos.

O semanário foi vítima de um atentado em 2015 que deixou 12 mortos, entre jornalistas e cartunistas do jornal.

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