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No dia seguinte ao atentado terrorista que matou dois franceses e a brasileira Simone Barreto Silva, 45 anos, na Basílica de Notre-Dame, em Nice (sul), a tensão no país aumentou, enquanto muçulmanos de várias nações saíram às ruas para protestar contra a França. O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, recomendou cautela aos conterrâneos que moram no exterior e admitiu perigo iminente e sem fronteiras. “A mensagem de ‘ataque urgente’ foi enviada ontem (quinta-feira) à noite a todos os nossos compatriotas que vivem no exterior (…), porque a ameaça está em toda a parte”, declarou, depois de conselho de defesa convocado pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Ele advertiu que o ódio on-line pode se transformar em violência real. Também prometeu tomar “todas as medidas necessárias” para resguardar a segurança dos interesses do governo e dos cidadãos”.
Por volta das 9h de quinta-feira (5h em Brasília), o tunisiano Brahim Aouissaoui, 21 anos, invadiu a igreja armado com uma faca, decapitou uma mulher de 60 anos, perto da pia de água benta; degolou o sacristão Vincent Loquès, 55; e golpeou Simone, que morreu numa cafeteria em frente. O ataque teria sido motivado por caricaturas do profeta Maomé publicadas nas últimas semanas pelo jornal satírico Charlie Hebdo. Dezenas de milhares de muçulmanos acusaram o governo Macron de “islamofobia”, queimaram a bandeira francesa e gritaram “Morte à França!” e “Ao seu serviço, ó, Profeta de Deus”.
Em Jerusalém, milhares de palestinos realizaram um ato de repúdio contra Paris depois das tradicionais orações de sexta-feira. “Não há deus além de Deus, Macron é o inimigo de Deus” e “Maomé, sua nação não cederá”, bradavam os manifestantes na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do islã. Também houve protestos no Paquistão, em Bangladesh, no Líbano e no Afeganistão.
Baiana
O músico, plaquista e ajudante de pedreiro Kennedy Santos Silva, 32, conhecia Simone desde 2011, quando ele chegou a Nice vindo de Salvador. “Ela tem três irmãs e um irmão aqui na França, além de sobrinhos. Infelizmente, deixou três filhos — uma menina de 7 anos e dois meninos, de 8 e de 13. Era uma mãezona. Simone sempre foi uma mulher guerreira, batalhadora, extrovertida, brincalhona. Não tinha tempo ruim para ela, sempre estampava um sorriso”, contou o amigo ao Correio, por telefone. “Nós fizemos capoeira, juntos; o sobrinho dela era nosso professor. Éramos muito amigos”, acrescentou. Simone nasceu no bairro de Lobato, na capital da Bahia, e morava em Nice havia 25 anos.
Kennedy relatou que recentemente Simone havia se formado como chef de cozinha. “Estamos todos em choque. O delinquente a apunhalou na região do abdome. Ela conseguiu fugir da igreja, alertando a todos que estavam na rua. Gritou pedindo socorro e dizendo que houve um ataque terrorista. Se não fizesse isso, o delinquente teria feito mais vítimas. Foi um ato heróico de Simone, que caiu na frente da cafeteria e pediu que dissessem às crianças que a mãe os amava”, desabafou. A partir das 14h de hoje (10h em Brasília), familiares e amigos de Simone farão uma caminhada em homenagem à brasileira. “Todos vestiremos branco e levaremos velas brancas ou vermelhas”, disse o amigo.
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