Bombardeio

Armênia acusa Azerbaijão de bombardear a principal cidade de Nagorno Karabakh

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), pelo menos 28 combatentes pró-turcos, dos 850 enviados para ajudar as tropas do Azerbaijão, morreram desde o início das hostilidades

A Armênia acusou o Azerbaijão de ter bombardeado a principal cidade de Nagorno Karabakh, Stepanakert, no sexto dia de violentos combates nesta região separatista, apesar do fato de as autoridades de Yerevan terem se manifestado dispostas a trabalhar para um cessar-fogo com os países mediadores.

Ao mesmo tempo, a Turquia está recebendo críticas internacionais porque teria enviado "jihadistas" em apoio ao Azerbaijão, o que pode significar uma virada perigosa neste conflito. De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), pelo menos 28 combatentes pró-turcos, dos 850 enviados para ajudar as tropas do Azerbaijão, morreram desde o início das hostilidades.

O presidente russo, Vladimir Putin, sem acusar diretamente a Turquia, expressou "sérias preocupações" sobre a suposta presença de jihadistas em Karabakh, durante uma reunião com o primeiro-ministro armênio, Niko Pashinyan.

Esta manhã, em um comunicado, a diplomacia armênia iniciou uma abertura tímida, ao afirmar que está pronta para "discutir com os países que copresidem o grupo de Minsk da OSCE para restabelecer um cessar-fogo", em referência aos mediadores (EUA, França e Rússia) do conflito.

Após este primeiro gesto no sexto dia de hostilidades, Baku ressaltou que o conflito tem apenas um resultado: a retirada armênia de Nagorno Karabakh, uma região do Azerbaijão habitada principalmente por armênios e que se separou com a queda da URSS.

Na sexta-feira à noite, Stepanakert, a principal cidade do enclave separatista de cerca de 50.000 habitantes, foi atacada novamente, forçando os moradores a se refugiarem em porões ou abrigos, segundo um correspondente da AFP.

Esses bombardeios causaram "muitos" feridos, de acordo com um alto representante de Nagorno Karabakh, Artak Beglarian, que indicou que bairros residenciais foram atingidos.

Na sexta-feira, o governo armênio disse que estava disposto a trabalhar com o grupo de mediação co-presidido por Rússia, Estados Unidos e França para estabelecer um cessar-fogo. No entanto, para o Azerbaijão, a resolução do conflito exige a retirada da Armênia deste enclave em seu território.

"Se a Armênia quer ver o fim dessa escalada (...) deve acabar com a ocupação", declarou à imprensa Hikmet Hajiyev, assessor da presidência do Azerbaijão. Esses anúncios acontecem no dia seguinte a uma declaração conjunta dos presidentes Emmanuel Macron, Vladimir Putin e Donald Trump pedindo o fim das hostilidades.

Os confrontos, porém, continuam. A principal cidade separatista, Stepanakert, foi atingida por bombardeios do Azerbaijão, causando "muitos feridos entre a população civil" e danos materiais, de acordo com o Ministério da Defesa da Armênia.

Sirenes de ambulâncias soaram por volta das 10h00 GMT na cidade, onde várias explosões foram ouvidas nas últimas horas, segundo um correspondente da AFP.

Sem medo 

Em ambos os lados do front, os moradores estão determinados. "Não há medo, mas orgulho (...) Na guerra como na guerra. As negociações são uma besteira, é preciso uma capitulação", diz Arkadi, de 66 anos, residente de Stepanakert, enquanto uma explosão é ouvida.

No distrito de Fizouli, no lado do Azerbaijão, as crianças foram evacuadas de localidades próximas à frente, de acordo com um fotógrafo da AFP. Muitos homens se ofereceram para lutar.

"Não temos medo, não temos muitos feridos", disse Anvar Aliev, 55 anos, um taxista azerbaijano, pedindo a "retomada de nossas terras". Os dois lados denunciaram bombardeios em áreas civis. Os separatistas também acusaram o Azerbaijão de ter destruído uma ponte que ligava a Armênia a Karabakh.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha emitiu um comunicado expressando preocupação com os civis, "presos no fogo cruzado", e destacou que inúmeras famílias "incluindo bebês e crianças, passam dias e noites abrigadas em porões sem aquecimento".

A organização também relatou "centenas de casas e infraestruturas civis, como escolas e hospitais, destruídas por artilharia pesada". O porta-voz da diplomacia armênia afirmou novamente na sexta-feira que "o exército turco está lutando ao lado do Azerbaijão", algo que as partes interessadas negam.

Uma intervenção direta da Turquia seria um marco decisivo, pois abriria as portas para uma internacionalização do conflito nesta região do sul do Cáucaso, onde muitas potências como Rússia, Turquia e Irã têm interesses.

Ambas as partes ignoraram os apelos feitos pela comunidade internacional desde domingo pelo encerramento dos combates. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reiterou isso na sexta-feira e pediu "o fim imediato das hostilidades".

A Rússia mantém relações cordiais com os adversários, duas ex-repúblicas soviéticas, mas é mais próxima da Armênia. O Kremlin também tem uma relação complicada, mas pragmática, com Ancara.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, e seu equivalente iraniano, Mohamad Javad Zarif, conversaram por telefone nesta sexta-feira à noite e compartilharam sua "preocupação" com a chegada de combatentes da Síria ou da Líbia.

Enquanto isso, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse na sexta-feira que iniciou uma investigação sobre o suposto uso de tecnologias militares canadenses no conflito, noticiado pela mídia local.

A imprensa afirmou que o Azerbaijão utiliza sistema canadenses de imagens e direcionamento de drones. Defensores do controle armamentista documentaram a venda de equipamentos para a Turquia, aliada do Azerbaijão.

"É extremamente importante que as expectativas do Canadá de não violação dos direitos humanos sejam sempre respeitadas", disse Trudeau.

Informações contraditórias 

Nagorny Karabakh, habitado principalmente por armênios, separou-se do Azerbaijão, levando a uma guerra no início da década de 1990 que deixou 30.000 mortos. A linha de frente estava quase congelada desde então, apesar de alguns confrontos regulares, pois nenhum tratado de paz foi assinado.

As duas partes acusam uma à outra de ataques e afirmam ter causado perdas dolorosas ao adversário desde o início dos combates no domingo. Nesta sexta-feira, Yerevan garantiu que o exército azerbaijano "não conseguiu romper as defesas armênias", enquanto Baku disse que havia tomado posições no norte e forçado os armênios a recuarem no sul.

De acordo com balanços parciais comunicados desde domingo, 190 pessoas morreram: 158 soldados separatistas, 13 civis armênios e 19 civis azerbaijanos. Baku ainda não comunicou suas perdas militares. Mas o número de mortos pode ser muito maior: a Armênia afirma que 2.650 soldados azerbaijanos morreram, enquanto Baku diz ter matado 2.300 soldados adversários.