EUA

Trump prioriza eleição à ajuda

Presidente anuncia a suspensão do diálogo com os democratas sobre o estímulo à economia, volta a minimizar a pandemia da covid-19 e afirma que irá a debate. Biden diz que republicano "deu as costas ao povo"


Confinado na Casa Branca, onde se recupera da covid-19, e em desvantagem nas pesquisas de opinião pública, o presidente Donald Trump tomou uma decisão, ontem, que pode impactar milhões de norte-americanos e ter viés eleitoreiro. O anúncio de suspensão do diálogo sobre o plano de estímulo à economia, no enfrentamento da pandemia, para depois das eleições de 3 de novembro, foi alvo de pesadas críticas de líderes do Partido Democrata. Joe Biden, candidato à Casa Branca, acusou o magnata republicano de virar as costas para a população. “Donald Trump encerrou os esforços para aprovar o alívio bipartidário de que nossa nação desesperadamente precisa. Ele pôs fim a conversas que ajudariam nossas empresas e escolas (…), que preservariam centenas de milhares de empregos”, afirmou Biden, em comunicado à imprensa. “Não se enganem: se vocês estão fora do trabalho, se seu negócio foi fechado, se a escola de seu filho foi fechada, se vocês veem demissões em sua comunidade, Donald Trump decidiu que nada disso importa para ele. Não haverá ajuda de Washington em um futuro prevísivel”, acrescentou.

Também ontem, em discurso realizado no local da famosa batalha de Gettysburg, da Guerra Civil americana, Biden advertiu que “forças obscuras” dividem os americanos. Também prometeu acabar com “o medo e o ódio” que consomem os EUA.

Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, disse que Trump mostra sua verdadeira face. “Ele se coloca em primeiro lugar, às custas do país, com a total cumplicidade dos deputados republicanos. (…) Ele se recusa a colocar dinheiro no bolso dos trabalhadores, a menos que seu nome esteja impresso no cheque. (…) Claramente, a Casa Branca está em completa desordem”, declarou.

Instrução

A democrata foi citada por Trump em sua justificativa para suspender o diálogo sobre o plano de ajuda. “Nancy Pelosi está pedindo US$ 2,4 trilhões (cerca de R$ 13,4 trilhões) para resgatar Estados democratas mal administrados, com alta criminalidade; dinheiro que nada tem a ver com a covid-19. Nós fizemos uma oferta muito generosa de US$ 1,6 trilhão (ou R$ 8,9 trilhões), e, como de praxe, ela não negocia de boa-fé. Estou rejeitando seu pedido e olhando para o futuro de nossa nação”, escreveu o presidente em seu perfil no Twitter. “Eu instruí meus deputados a pararem de negociar até depois da eleição, quando, imediatamente depois de minha vitória, aprovaremos uma importante lei de estímulo que se concentre nos trabalhadores americanos e nas pequenas empresas.”

Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown e especialista em direito de saúde pública, Lawrence Gostin disse ao Correio que o fracasso em aprovar um plano de alívio para a covid-19 é “inconcebível”. “Há muitas pequenas empresas em insolvência, várias pessoas desempregadas e sem renda. Elas sofrem muito, assim como a nossa economia. Colocar a eleição acima das necessidades do povo é algo vergonhoso, especialmente no decorrer de uma pandemia”, avaliou.

O anúncio de Trump coincidiu com a divulgação de nova pesquisa, que coloca Biden com 16 pontos percentuais à frente do presidente: 57% contra 41%. A sondagem da consultoria SSRS e da rede de TV CNN ouviu 1.001 eleitores prováveis entre 1º e 4 de outubro, depois do primeiro debate presidencial. A margem de erro é de 3,6 pontos percentuais para cima ou para baixo. Gostin vê um pânico considerável na Casa Branca e entre os congressistas republicanos ante o risco crescente de derrota em 3 de novembro. “Parece que Trump não será reeleito, e seu fraco desempenho poderia indicar que os republicanos também perderão o Senado. Isso seria um desastre político para o partido governista.”

Em sua convalescença na Casa Branca, Trump minimizou a pandemia e garantiu que participará do debate de 15 de outubro. “Me sinto bem!”, tuitou. “Desejo que chegue o debate da noite de quinta, 15 de outubro, em Miami. Será genial!”, acrescentou. Sean P. Conley, médico da Casa Branca, revelou que Trump “não apresenta nenhum sintoma”. “Continua extremamente bem, no geral.” O contágio de Trump colocou vários agentes do Serviço Secreto em quarentena depois de um comício em Tulsa (Oklahoma) e em Tampa (Flórida), segundo o jornal The Washington Post.

 

 

 

"Sim, ele é racista", afirma Michelle Obama

Em vídeo de 24 minutos, a ex-primeira-dama Michelle Obama, esposa de Barack Obama, fez um apelo incisivo aos americanos para que votem no democrata Joe Biden. Na gravação, Michelle afirmou que Donald Trump é um “racista”, cuja estratégia para assustar, dividir e promover teorias da conspiração poderia “destruir” os EUA, caso seja reeleito. A quatro semanas da eleição, ela disse que o republicano injustamente incentiva “medos” em relação aos afro-americanos. De acordo com Michelle, Trump está “moralmente errado” ao intimidar eleitores e ao “mentir” dizendo que as minorias vão arruinar os subúrbios da América. “Novamente, o que o presidente está fazendo é claramente falso. Ele está moralmente errado e, sim: ele é racista”, ressaltou a advogada. No entanto, Michelle alertou que essas táticas podem funcionar, principalmente porque os americanos não têm tempo ou energia para determinar se tudo o que a mídia noticia é verdadeiro. “Quero pedir a cada norte-americano, não importa em qual partido você vota. Por favor, pare por um momento. (…) Busque seu coração e sua consciência, e, então, vote em Joe Biden, como se sua vida dependesse disso.”

Candidatos a vice têm noite de duelo em Utah

O republicano Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, e a senadora democrata Kamala Harris, candidata a vice de Joe Biden, subirão ao palco do Kingsbury Hall, em Salt Lake City (Utah), às 21h (22h em Brasília), para o primeiro de três debates. Pence recusou-se a usar uma proteção de acrílico, recurso que havia sido anunciado pela Comissão Eleitoral depois de Trump testar positivo para a covid-19. Kamala e Biden ficarão separados por quatro metros, em vez dos dois metros previstos originalmente. A senadora e o moderador devem utilizar a barreira.

Pence, 61 anos, testou negativo para covid-19, mas os alertas foram ligados após o presidente Trump anunciar que tinha contraído o vírus. Três dias antes, em 29 de setembro, o presidente participou do primeiro debate contra Biden, à distância, mas em um espaço mais fechado. Na plateia, os familiares do mandatário republicano retiraram suas máscaras enquanto assistiam ao debate, que durou cerca de 90 minutos.

Embora Pence não estivesse presente durante o debate em Cleveland, Ohio, o vice-presidente se encontrou com Trump na Casa Branca em 26 de setembro, durante a indicação da juíza Amy Coney Barrett à Suprema Corte. Diversos assessores, assim como a primeira-dama, Melania, testaram positivo nos últimos dias.

Incapacidade

O debate entre Kamala Harris, 55, e Pence ganhou magnitude devido ao diagnóstico de Trump, mas também à idade entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos. Trump tem 74 anos e Biden, 77. Em caso de incapacidade ou morte do presidente norte-americano, o vice-presidente assume o cargo. Ontem, Kamala instou os eleitores a lutarem pela alma da nação. “Ao longo da história americana, lutamos e vencemos batalhas pela alma de nossa nação e faremos isso de novo”, escreveu em seu perfil no Twitter.

 

 

 

Notas


Censura nas redes sociais
Por volta das 8h de ontem (9h em Brasília), o presidente Donald Trump escreveu um tuíte em que compara a covid-19 à gripe e volta a defender a reabertura do país. “A temporada da gripe está chegando! Muitas pessoas, a cada ano, algumas vezes mais de 100 mil, apesar da vacina, morrem de gripe. Nós vamos fechar o nosso país? Não, temos de aprender a viver com ela, assim como estamos aprendendo a viver com a covid, na maioria das populações muito menos letal!”, afirmou. O Twitter ocultou a publicação e explicou que “este tuíte violou as regras sobre a disseminação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais ligadas à covid-19”. O Facebook, por sua vez, excluiu a mesma publicação. “Retiramos informações incorretas sobre a gravidade da covid-19, por isso, removemos sua postagem”, explicou a rede social à agência France-Presse.


Alerta no Pentágono
O chefe do Estado-Maior dos EUA, o general Mark Milley (foto), está em quarentena, depois de ter tido contato com um oficial da Guarda Costeira que testou positivo para a covid-19, segundo informação repassada por uma fonte militar. O Pentágono informou que vários militares do alto escalão que participaram de uma reunião na semana passada estão em quarentena, mas não os identificou. Uma fonte militar disse à AFP que é correto concluir que Milley seja um deles. Na segunda-feira, o vice-comandante da Guarda Costeira, o almirante Charles Ray, testou positivo para a covid-19. O porta-voz do Pentágono, Jonathan Hoffman, disse que Ray esteve em reuniões do Departamento de Defesa na semana passada. “Entre as pessoas que participaram das reuniões estão os chefes de Estado-Maior”, afirmou Hoffman.


Vandalismo em Hollywood
Um homem, condenado em 2016, por vandalizar a estrela do presidente Donald Trump na Calçada da Fama de Hollywood (foto), foi preso novamente por destruir mais uma vez a homenagem. James Otis entregou-se à polícia, ontem, depois de supostamente depredar a estrela, que o presidente recebeu em 2007 por seu programa O Aprendiz, usando uma picareta e vestido como o Hulk. O ativista de 56 anos tinha expressado nas redes sociais sua intenção de danificar a estrela. A polícia o identificou como o culpado após revisar um vídeo do incidente, ocorrido na sexta-feira passada. Ele foi acusado de vandalismo e solto sob fiança de US$ 20 mil (cerca de R$ 111,8 mil).