Donald Trump encerrou a corrida pela Casa Branca falando em judicialização das eleições dos Estados Unidos. Desconfiado com os votos por correio, ameaçou: “Assim que acabar, vamos entrar com nossos advogados”. Ontem, o discurso mudou. Ao passar pela sede da campanha do Partido Republicano, em Arlinggton, na Virgínia, o presidente surpreendeu: “Deveríamos ter o direito de saber quem ganhou na mesma noite”, cobrou, depois de percorrer mais de 4.000km à caça dos últimos votos — mais do que a distância entre Brasília e Santiago, no Chile.
O presidente referia-se, principalmente, à discordância com a Suprema Corte, relutante em intervir em uma decisão que permitisse à Pensilvânia continuar contando os votos recebidos pelo correio até três dias após a eleição. A medida foi tomada em meio às complicações logísticas do país diante da pandemia do novo coronavírus, que teve uma grande quantidade de votos enviados pelo correio. Trump votou antecipadamente, na Flórida.
A Pensilvânia era vista como um estado-chave nesta eleição. Tanto Trump quanto Biden fizeram campanha lá nos dias anteriores à eleição. “Você não pode atrasar essas coisas por muitos dias e, talvez, semanas”, declarou Trump, ao mesmo tempo em que os cidadãos americanos votavam em todo o país. Mais de 100 milhões de pessoas votaram antecipadamente. O mundo inteiro está esperando. Este país está esperando”.
A agenda de Trump no dia da eleição começou ainda na madrugada, em Michigan. O último comício terminou nas primeiras horas de ontem. Pela manhã, o candidato deu entrevista à Fox News. Na sequência, visitou a sede do Partido Republicano. Cauteloso e aparentemente respeitoso, mediu palavras. Evitou favoritismo e prognósticos antes da abertura das urnas. Estava prevenido após campanha acirrada contra o democrata Joe Biden.
Quando questionado se havia escrito um discurso para a reeleição ou uma eventual derrota, Trump disse que não. “Ganhar é fácil. Perder nunca é, não para mim”, respondeu, descartando, também, a hipótese de declarar-se reeleito. “Acho que vamos ter uma vitória, mas apenas quando houver vitória. Não há motivos para brincadeira”.
O republicano falou sobre o sentimento em relação à possibilidade de reeleição. “Nos sentimos muito bem. Acredito que vamos vencer”, disse Trump ao canal Fox News em entrevista por telefone. Àquela altura, o presidente projetava vitória em estados cruciais, incluindo Arizona, Flórida e Texas, além da Carolina do Norte e da disputada Pensilvânia. “Acreditamos que estamos indo muito bem em todos os lugares”, avaliou antes de voltar à Casa Branca.
Segundo informação da CNN, o comitê de campanha de Trump marcou uma festa para 250 convidados no Salão Leste da Casa Branca em caso de reeleição. Os convidados passariam por testes rápidos de covid. Porém, a legislação vigente em Washington proíbe aglomerações com mais de 50 pessoas para impedir a transmissão da doença.
Ao longo de sua vida pública, tornou-se uma tradição para o democrata Joe Biden retornar à casa em que passou parte da infância, na cidade industrial de Scranton, no estado da Pensilvânia. Ontem, último dia das eleições presidenciais, ele cumpriu o ritual. E, para atrair sorte, escreveu seu nome e uma mensagem numa das paredes da sala. “Desta casa à Casa Branca com a Graça de Deus”, registrou Biden com caneta preta, acrescentando a data “11/03/2020”.
Mais tarde, na Filadélfia, a maior cidade do estado, Biden, cometeu alguns lapsos, anunciando a seus apoiadores que apresentaria o filho Beau, falecido em 2015, aos 46 anos, após lutar contra um tumor cerebral., Em seguida, o presidenciável disse que queria anunciar sua filha Natalie, apontando para uma de suas netas, que o acompanhava na viagem. Percebendo seu erro, Biden recuou e disse: “Oh, não espere, não é ela, é a outra.”
A perda de capacidade cognitiva do democrata tem sido um tema em toda a campanha, desde as primárias do partido. O presidente Donald Trump, fez constantes referências aos erros do adversário e até mostrou gravações em seus comícios de campanha para entreter os participantes.
Na Filadélfia, Biden foi saudado por um grande número de eleitores, que o chamava de “Tio Joe”. Satisfeito com a recepção, ele se mostrava impressionado com o grande comparecimento às urnas. “Vamos ter mais pessoas votando este ano do que em qualquer outro momento da história americana”, observou.
A primeira escala foi Stranton. “Vamos para casa”, disse Biden, acompanhado por duas de suas netas, ao desembarcar na cidade para realizar um de seus últimos gestos de uma campanha presidencial de 18 meses. Lá o clima foi de grande emoção para o ex-vice-presidente de Barack Obama. “Estou muito orgulhosa de você”, disparou Anne Kearns, atual dona da primeira casa onde Biden viveu até completar 10 anos, quando sua família mudou-se para Delaware.
A visita de Biden agitou a rua. Mais de 100 vizinhos, seguidores ou curiosos, quase todos com máscaras, reuniram-se perto de sua antiga casa, com um toldo cinza na entrada e venezianas pretas. “Está aí! Oh, meu Deus!”, gritou o eleitor de primeira viagem Mardan Daurilas, 19 anos, acrescentando. “Esse é o meu futuro presidente.”
Biden encontrou alguns vizinhos antigos e fez outras paradas pela cidade, incluindo a casa da mãe do senador Bob Casey e um escritório sindical local, num esforço final para obter votos. Como o democrata, Trump deu grande atenção a Pensilvânia, um estado que muda suas preferências partidárias de uma eleição para outra e se tornou, ao lado da Flórida, o principal campo de batalha desta campanha.
À tarde, Biden retornou para sua casa em Wilmington, Delaware, de onde acompanhou o fim da votação e a apuração dos votos.
“Ganhar é fácil. Perder nunca é, não para mim”
Donald Trump,
presidente americano e candidato à reeleição
“Desta casa à Casa Branca com a Graça de Deus”
Joe Biden,
presidenciável democrata, em mensagem escrita na sala da residência onde passou a infância
A única sem proteção
Infectada pelo novo coronavírus no mês passado, a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, dispensou a máscara ao votar, ontem de manhã, em West Palm Beach, na Flórida, onde fica a residência particular do casal. Melania era a única pessoa no local sem a proteção. Trump votou antecipadamente no mesmo posto eleitoral. Perguntada por que não havia ido com o marido, ela respondeu: “Este é o dia da eleição, então, quis vir aqui e votar”. A Flórida foi um dos principais campos da batalha entre o republicano e o democrata Joe Biden.
Preces por Kamala
Moradores de Thulasendrapuram, no estado indiano de Tamil Nadu, oraram, ontem, pelo triunfo democrata nas eleições presidenciais americanas. Parte da família de Kamala Harris, candidata democrata à vice- na chapa encabeçada por Joe Biden, é do país asiático. “A cidade inteira a apoia. Esperamos que ela ganhe”, disse Rajesh, morador de Thulasendrapuram. No templo principal da cidade, cerca de 60 pessoas rezaram e serviram comida durante uma cerimônia dedicada à primeira mulher descendente do sul da Ásia a ser eleita para o Senado dos Estados Unidos. As ruas próximas foram adornadas com vários pôsteres com a foto da candidata. Kamala Harris, 56 anos, nasceu na Califórnia, mas se considera próxima da Índia por causa da mãe, a especialista em câncer de mama Shyamala Gopalan.
Protesto em frente à Casa Branca
Com Washington sob um esquema inédito de segurança, manifestantes contrários à reeleição do presidente Donald Trump reuniram-se em frente a Casa Branca, totalmente cercada por tapumes em proteção a eventuais atos de violência. O protesto foi liderado por ativistas antirracismo do grupo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que reforçaram a atuação por todo o país após o assassinato de George Floyd, asfixiado até a morte por um policial na cidade de Mineápolis, no estado de Minnessota. Dentro da Casa Branca, Trump organizava um convescote para 200 convidados, que, segundo a mídia americana, seriam submetidos a testes rápidos da covid-19.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.