Buzinas, gritos de comemoração e palmas foram ouvidos nas ruas de várias cidades americanas assim que Joe Biden foi anunciado o 46º presidente dos Estados Unidos. Depois de uma apuração lenta, com uma disputa voto a voto, eleitores de grandes centros, como Nova York e Washington, e também de Wilmington, onde vive o democrata, saíram de casa para festejar. Fantasias, cartazes e bebidas embalaram as comemorações dos apoiadores do democrata, que não esqueceram das máscaras de proteção, acessório recomendado durante a pandemia da covid-19. Os apoiadores de Trump também foram às ruas protestar contra o resultado, mas em número inferior e também com menor adesão ao artefato que impede à infecção pelo novo coronavírus.
Biden foi chamado de “próximo presidente” pela imprensa americana às 11h25, momento em que Donald Trump se dirigia a Virgínia para jogar golfe. Enquanto isso, em frente à Casa Branca, em Washington, uma multidão se aglomerava para comemorar a vitória sob um Sol forte surpreendente — os moradores da cidade vinham enfrentando dias de baixas temperaturas.
Um dos pontos mais cheios foi a Praça Black Lives Matter, próxima à avenida que leva à residência presidencial. O local foi rebatizado, há poucos meses, para denunciar a brutalidade policial contra os afro-americanos, uma temática que, segundo especialistas, pode ter ajudado a impulsionar a vitória democrata. “O povo unido jamais será dividido”, era um dos gritos entoados por moradores da capital federal, que é um reduto democrata.
“Despedido”
Em Nova York, cidade em que Trump nasceu, o clima de celebração foi o mesmo. Milhares aglomeraram-se em frente à Trump Tower, no coração de Manhattan, na Times Square e na Grand Army Plaza, no Brooklyn, para comemorar a vitória de Biden. Os presentes gritavam para Trump: “Você está despedido!”, em alusão ao programa de reality show O aprendiz, apresentado pelo presidente republicano, por anos, antes de ele ter sido eleito para comandar a Casa Branca.
Na Quinta Avenida, em frente ao triplex de Trump, bonés de beisebol vermelhos com o slogan “Adiós” (adeus em espanhol) eram vendidos a US$ 15, e os ocupantes dos carros passavam buzinando, agitando bandeiras americanas e ouvindo, em alto som, a música We are the champions (Nós somos campeões), de Freddie Mercury.
Catherine Griffin, 47 anos, chorava de alegria com um de seus dois filhos. “Estou feliz por Trump ter deixado nossas vidas, espero que para sempre”, disse. “Que haja um pouco de normalidade em nossas vidas, e que meus filhos possam ver um ser humano decente no comando novamente, isso me deixa feliz”, completou.
Como Super Bowl
Na Filadélfia, essencial para a vitória de Biden no estado de Pensilvânia, uma grande multidão se reuniu em frente à prefeitura, também sob alta temperatura. O grupo dava gritos de alegria, como “Cidade de Biden!”, entre carros que buzinavam. Pessoas revezavam-se para tirar fotos sob uma faixa com os dizeres “Coisas boas acontecem na Filadélfia”. Vídeos divulgados em redes sociais mostravam grupos dançando nas ruas e até dando cambalhotas, além de abraços coletivos.
O prefeito da cidade, Jim Kenney, comparou as comemorações de ontem com as ocorridas da noite de 2017 em que o time de futebol americano Eagles, que é da cidade, ganhou o Super Bowl, um dos principais eventos esportivos americanos. As celebrações foram tantas e tão intensas que provocaram o fechamento de estradas em partes do centro da Filadélfia.
Migrantes
Em Ciudad Juárez, na fronteira com o Texas e o Novo México, diretores de abrigos e estrangeiros sem documentos celebraram a vitória do democrata. A fronteira mexicana de Tijuana também foi tomada por comemorações, com imigrantes e ativistas que balançavam bandeiras dos EUA. Centenas de pessoas que residem nos 16 abrigos da cidade souberam dos resultados das eleições pela televisão ou pelo celular. “Esperamos que essa nova Presidência realmente respeite os direitos humanos”, declarou Gustavo Banda, diretor do abrigo Iglesia Embajadores de Jesús, em Tijuana.
O republicano declarou diversas vezes a intenção de construir um muro para impedir que os mexicanos pudessem chegar aos EUA, e que a obra teria que ser custeada pelo México. A ideia foi rechaçada pelo país vizinho e também recebeu críticas de democratas, que bloquearam o pedido de financiamento feito pelo presidente ao governo americano para tocar o projeto. Na tentativa de conter o afluxo maciço de famílias da América Central, o republicano permitiu que as crianças fossem separadas de seus pais, um ato que também repercutiu negativamente em todo o mundo.
Inesperado
Os eleitores republicanos também saíram de casa em cidades como Phoenix, no Arizona, e Miami, na Flórida, e reclamaram do resultado divulgado, alegando que houve fraude no pleito, como tem repetido o presidente. Centenas de pessoas aglomeraram-se em frente ao capitólio estadual em Lansing, em Michigan, agitando cartazes dizendo “Não acabou” e gritando “Nós vencemos!”.
A mobilização dos eleitores de Trump, porém, foi menor do que o esperado. Acreditava-se, inclusive, que poderia haver confrontos em cidades americanas após a divulgação do resultado da eleição. Boa parte da apreensão se justificava pelo fato de apoiadores do republicano terem participado, nos últimos dias, de protestos pedindo o fim da apuração dos votos exibindo armas. Até o fechamento desta edição, não havia registro de embates.
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Líderes falam em parceria
Logo após o anúncio da vitória de Joe Biden, líderes internacionais se manifestaram sobre o resultado da histórica eleição americana. Governantes europeus demonstraram a vontade de estabelecer boas parcerias com o presidente eleito e a vice, Kamala Harris. Nomes importantes do continente citaram a necessidade de discutir pautas globais de alta relevância, como as mudanças climáticas.
“Os americanos escolheram seu presidente. Parabéns Joe Biden e Kamala Harris! Temos muito que fazer para superar os desafios de hoje. Vamos trabalhar juntos!”, escreveu, em seu perfil no Twitter, o presidente francês, Emmanuel Macron. “Joe Biden será o 46º presidente dos Estados Unidos”, afirmou a chanceler Angela Merkel, da Alemanha. “De coração, desejo-lhe boa sorte e sucesso e também parabenizo Kamala Harris, a primeira vice-presidente eleita de seu país”, reforçou, em um comunicado oficial.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que espera enfrentar “os maiores desafios do mundo” com a nova administração, incluindo a questão climática. Boris Johnson, que teve um relacionamento muito mais tranquilo com Trump, também citou a crise ambiental ao parabenizar os democratas. “Parabéns a Joe Biden por sua eleição como presidente dos Estados Unidos e a Kamala Harris por sua conquista histórica. Os Estados Unidos são nosso aliado mais importante, e estou ansioso para trabalharmos juntos em nossas prioridades comuns, desde mudanças climáticas até comércio e segurança”, tuitou o primeiro-ministro britânico.
Latinos
Na América Latina, o presidente colombiano, Iván Duque, desejou sucesso a Biden. Evo Morales, que é um dos maiores críticos ao atual presidente, afirmou, no Twitter, que “a derrota eleitoral de Trump é a derrota das políticas racistas e fascistas”. “Suas práticas intervencionistas foram derrotadas e, também, seus ataques desumanos contra a mãe Terra”, seguiu.
Nicolás Maduro, da Venezuela, também se manifestou pelo microblog, sinalizando uma abertura para uma aproximação entre os países. “A Venezuela, pátria do libertador Simón Bolívar, estará sempre pronta para o diálogo e o entendimento com o povo e o governo dos Estados Unidos”, declarou.
Líderes que estabeleceram uma relação mais próxima com o presidente americano, como Viktor Orbán, da Hungria, Benjamin Netanyahu, de Israel, e Vladimir Putin, da Rússia, não se manifestaram sobre a eleição dos Estados Unidos até o fechamento desta edição.
“Estou ansioso para trabalharmos juntos em nossas prioridades comuns, desde mudanças climáticas até comércio e segurança”