Quatro dias após ser deposto, num julgamento relâmpago, o ex-presidente do Peru Martín Vizcarra foi proibido, ontem, pela Justiça de deixar o país por 18 meses. A decisão partiu da juíza María Álvarez, a pedido da promotoria que investiga as denúncias de que Vizcarra recebeu propina para autorizar obras públicas quando era governador de Moquegua, no sul do território peruano, em 2014. Foi essa acusação que culminou em sua destituição, na noite de segunda-feira.
“Já falamos que ficaremos no país”, afirmou Vizcarra, que nega as acusações e questiona a legitimidade do governo de Manuel Merino, o chefe do Legislativo que assumiu em seu lugar. “Temos a verdade que nos respalda”, enfatizou o ex-presidente, deposto por “incapacidade moral”, no segundo julgamento político em menos de dois meses.
Desde o anúncio do impeachment, a capital peruana, Lima, e outras cidades são palco de manifestações em defesa do ex-presidente. Sem partido ou bancada no Congresso, Vizcarra tem grande apoio popular. Os protestos, que também repudiam a ascensão de Merino, deixaram um saldo de, pelo menos, uma dúzia de feridos pela repressão policial.
Em meio a uma manifestação, na quinta-feira, um grupo de pessoas que tentou chegar ao Congresso enfrentou com pedras e pedaços de pau a polícia, que dispersou a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha. Após os incidentes, oito pessoas foram presas e uma dezena ficou ferida.
A Defensoria do Povo do Peru exigiu “cessar imediatamente o uso de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha contra cidadãos que exercem seu direito de se manifestar”. “São muito preocupantes os relatos de uso excessivo de força por parte da polícia do Peru. A polícia deve garantir o direito dos peruanos de manifestar-se pacificamente e da imprensa de informar”, criticou no Twitter José Miguel Vivanco, da Human Rights Watch, com sede nos EUA.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da OEA, também expressou preocupação com o uso excessivo da força policial.
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