Crise institucional

Francisco Sagasti toma posse como novo presidente do Peru

Segasti chega ao poder sob enorme apoio popular e no congresso nacional

Agência France-Presse
postado em 17/11/2020 09:58
Francisco Segasti:
Francisco Segasti: "É um momento para nos perguntarmos onde foi que perdemos o rumo" - (crédito: AFP / Peruvian Congress / Luka GONZALES)

Lima, Peru - O centrista Francisco Sagasti toma posse, nesta terça-feira (17/11), como o novo presidente do Peru com enormes desafios pela frente, mas com o apoio dos cidadãos indignados que derrubaram seu antecessor.

O engenheiro e acadêmico de 76 anos será empossado em sessão plenária no Congresso marcada para 16h (18h de Brasília), a fim de acabar com a crise política no país andino.

“Não é um momento de festa, temos muitos problemas, tragédias e dificuldades (...). É um momento para nos perguntarmos onde foi que perdemos o rumo”, declarou Sagasti após ser eleito novo chefe do Congresso na segunda-feira.

Sua eleição, em votação em que era o único candidato, fez dele automaticamente o novo presidente do Peru, o terceiro a ocupar o cargo em oito dias.

A crise foi desencadeada em 9 de novembro pelo próprio Congresso, quando destituiu o popular presidente Martín Vizcarra (centro-direita) num processo relâmpago de impeachment, sob a acusação de suposta corrupção quando era governador em 2014. A denúncia está sendo investigada pelo Ministério Público e a Justiça proibiu o ex-presidente de deixar o Peru por 18 meses.

No dia seguinte, o chefe do Congresso, Manuel Merino, também de centro-direita, tomou posse, mas milhares de cidadãos indignados, principalmente jovens, saíram às ruas para protestar contra o que chamaram de "golpe de Estado".

Os protestos, que duraram cinco dias, foram reprimidos com violência pela polícia, deixando dois mortos e mais de cem feridos.

A bancada do centrista Partido Morado de Sagasti foi a única que votou em bloco contra a destituição de Vizcarra, o que contribuiu para que assumisse a liderança do novo governo de transição até 28 de julho de 2021, dia do bicentenário da Independência do Peru.

As eleições presidenciais e legislativas estão convocadas para o próximo dia 11 de abril.

Beneplácito de Vizcarra


A eleição de Sagasti foi saudada na segunda-feira por centenas de manifestantes reunidos em frente ao prédio do Congresso, em outros pontos de Lima e em várias cidades.

O parlamentar disse que as prioridades de sua presidência interina de oito meses serão a pandemia do coronavírus (o país acumula 930 mil infecções e 35 mil mortes), a recessão econômica, o combate à corrupção e à insegurança, além da realização de eleições limpas.

É basicamente a mesma agenda promovida por Vizcarra, que saudou a eleição de Sagasti, afirmando que ele “terá condições de suportar a difícil situação do país”. O presidente deposto havia denunciado a falta de "legalidade e legitimidade" de Merino.

Abandonado pelo Congresso, Merino renunciou no domingo, cinco dias depois de assumir o cargo, encurralado por protestos nos quais Inti Sotelo, de 24 anos, e Jack Pintado, de 22, agora chamados de "Heróis do Bicentenário", morreram.

"O que oferecemos? O que falta ao nosso país neste momento, confiança", disse Sagasti depois de ser eleito pelo Congresso por 97 votos a 26, ocasião em que lamentou a morte dos dois jovens.

"Quando um peruano morre, e mais ainda se é jovem, todo o Peru está de luto. E se ele morre defendendo a democracia, a indignação se soma ao luto", afirmou em um discurso emocionado, contrastando com a grosseria de Merino.

Com Sagasti como presidente, a liderança do Congresso será assumida pela esquerdista Mirtha Vásquez, que também votou contra a destituição de Vizcarra - ao contrário de outros em seu partido.

Porém, ninguém pode prever o que o Congresso fará no governo de Sagasti, depois de frequentes confrontos com Vizcarra nos últimos dois anos e com seu antecessor Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018).

O fragmentado Parlamento é dominado por quatro partidos populistas. Antes, o fujimorismo tinha hegemonia, mas perdeu-a em janeiro nas eleições extraordinárias depois que Vizcarra dissolveu constitucionalmente o Congresso para superar outra crise, em setembro de 2019.

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