ESTADOS UNIDOS

Trump quis atacar Irã, diz NY Times

Autoridades da Casa Branca revelaram ao jornal que presidente republicano sondou assessores sobre bombardeio a central de enriquecimento de urânio nos próximos dois meses. Conselheiros fizeram-no desistir da ideia

Correio Braziliense
postado em 17/11/2020 18:47
 (crédito: Jim Watson/AFP)
(crédito: Jim Watson/AFP)

 

Em uma reunião no Salão Oval da Casa Branca, na última quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, consultou assessores sobre a possibilidade de atacar instalações nucleares do Irã. A informação foi divulgada, ontem, pelo jornal The New York Times, com base nos relatos de quatro autoridades e ex-integrantes do governo A ideia de Trump envolveria um bombardeio à planta de enriquecimento de urânio de Natanz, na região central do país. Segundo o NY Times, o magnata republicano questionou a vários conselheiros — incluindo o vice-presidente, Mike Pence; o secretário de Estado, Mike Pompeo; e o comandante do Estado-Maior conjunto, o general Mark Milley — “se tinha opções de adotar medidas contra a principal instalação nuclear do Irã nas próximas semanas”.

Os assessores teriam convencido Trump a não levar adiante a ofensiva, com o receio de que isso poderia deflagrar uma conflito maior no Oriente Médio a poucas semanas de ele deixar o poder. O presidente levantou a hipótese do ataque depois que um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revelou que o Irã continua a armazenar urânio. De acordo com a AIEA, as “reservas de urânio de Teerã eram 12 vezes maiores que o permitido pelo acordo nuclear que Trump abandonou em 2018”, três anos depois da assinatura do pacto que tinha o objetivo de frear a capacidade nuclear iraniana.

Em entrevista ao Correio, Joshua Pollack — especialista em não proliferação do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury (em Monterey) — afirmou que qualquer discussão sobre o uso de força contra o Irã é “um atestado de fracasso”. “A decisão do governo Trump de sair do acordo de 2015 trouxe o oposto dos resultados prometidos. Acontece que não é fácil obrigar um adversário a cumprir ordens”, comentou. “Um ataque contra Natanz ou outras instalações nucleares do Irã seria uma tolice. Isso daria a Teerã uma justificativa para retirar-se do que restou do acordo de 2015 e até mesmo do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). O Irã poderia reconstruir as instalações de enriquecimento destruídas em locais secretos e bem protegidos. Poderiam até mesmo fabricar a bomba atômica, se quisessem, sob essas circunstâncias”, advertiu.

Pollack não descarta uma retaliação iraniana e lembra que, nos últimos anos, o Irã atacou petroleiros no Golfo Pérsico, derrubou um drone (aeronave não tripulada) da Marinha dos EUA e bombardeou a infraestrutura de petróleo da Arábia Saudita. “Eu esperaria ver mais ações do tipo, talvez em escala maior e por um período mais longo”, acrescentou.

Por sua vez, Robert Manning, especialista em segurança pelo think tank Atlantic Council, disse à reportagem acreditar que a hipótese de ação militar no Irã “é o último suspiro de Trump em cumprir todas a suas promessas de campanha”. “A saída dos EUA do acordo nuclear aumentou as tensões e levou Teerã a fabricar mais urânio de baixo enriquecimento. Com Trump, qualquer coisa é possível. Mas, sei que o Pentágono e o Estado-Maior Conjunto veem um bombardeio a Natanz como imprudente e contraproducente.”

 

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Redução de tropas

 (crédito: Munir Uz Zaman/AFP)
crédito: Munir Uz Zaman/AFP

Os Estados Unidos reduzirão, até janeiro, o número de suas tropas no Afeganistão e no Iraque, deixando 2.500 militares em cada país — o menor contingente norte-americano em duas décadas de conflito. A medida, anunciada pelo Pentágono, é parte da estratégia militar do presidente em fim de mandato, Donald Trump. Cerca de 2 mil soldados serão retirados do Afeganistão até 15 de janeiro e outros 500 deixarão o Iraque, informou o ministro da Defesa interino, Christopher Miller.

A decisão foi tomada apesar da derrota de Trump nas eleições presidenciais para o democrata Joe Biden, a quem ele deverá ceder o poder, em 20 de janeiro. Segundo Miller, a retirada reflete o desejo de Trump “de pôr fim, de forma exitosa e responsável, às guerras no Afeganistão e no Iraque e trazer nossos corajosos soldados para casa”.

Antes do anúncio do Pentágono, vários altos funcionários dos Estados Unidos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos jihadistas, como a rede Al-Qaeda e o Estado Islâmico. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, considerou que os EUA “abandonariam” seus aliados se tirassem seus soldados cedo demais destes países.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) julgou, por sua vez, que o Afeganistão poderia “voltar a ser uma base para os terroristas internacionais”. “As forças americanas continuam comprometidas em proteger a segurança do povo americano e em apoiar nossos aliados e sócios no mundo”, assegurou Miller.

Desde o lançamento das ofensivas militares no Afeganistão, em 2001, e no Iraque, dois anos depois, mais de 6.900 militares americanos morreram e 52.000 ficaram feridos nos dois países, de acordo com o Pentágono. A milícia fundamentalista islâmica Talibã e o governo afegão celebraram negociações de paz, depois de um acordo assinado entre Washington e os insurgentes, que implica a retirada das forças americanas até meados de 2021.

Embaixada no Iraque

Vários projéteis foram disparados, na noite de ontem, contra a Embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, rompendo, assim, a trégua respeitada há um mês por grupos iraquianos pró-iranianos, informou à agência France-Presse uma fonte dos serviços de segurança. Jornalistas da agência France-Presse (AFP) escutaram várias explosões, seguidas do som de outras detonações e de clarões avermelhados no céu, o que indica que o sistema de defesa americano C-RAM foi rapidamente ativado na sede diplomática, situada na Zona Verde de Bagdá, a mais segura da capital iraquiana.

» Netanyahu chama Biden de “presidente”

'O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente do país, Reuven Rivlin, conversaram por telefone, ontem, com o democrata Joe Biden. Em um comunicado à imprensa, Netanyahu, aliado-chave de Donald Trump, refere-se a Biden como “presidente eleito”. No entanto, em entrevista a uma rádio israelense, o premiê evitou uma pergunta sobre quem acha que venceu as eleições dos EUA. “Por que eu deveria ter uma opinião”?, respondeu. Também ontem, a Autoridade Palestina, presidida por Mahmud Abbas, anunciou a retomada da coordenação em questões de segurança com Israel. As relações estavam rompidas desde 19 de maio passado.

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