Irã

Central nuclear avança operação

Agência Internacional de Energia Atômica confirma que a instalação de processamento de urânio de Natanz deslocou e ativou "centrífugas modernas" para área subterrânea. EUA impõem novas sanções a ministro e a fundação

Correio Braziliense
postado em 18/11/2020 19:01
 (crédito: Henghameh Fahimi/AFP)
(crédito: Henghameh Fahimi/AFP)

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revelou que o Irã iniciou o funcionamento das “centrífugas avançadas” que foram transferidas para um setor subterrâneo de Natal, a principal central de enriquecimento de urânio. Em dossiê publicada na semana passada, a agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) informou sobre o deslocamento dos equipamentos depois de uma explosão danificar outra instalação — o evento foi considerado por Teerã como “sabotagem”. Conforme o Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, pela sigla em inglês), acordo de 2015 assinado em Viena, o Irã não tem autorização para utilizar centrífugas tão modernas.
Desde maio de 2019, o Irã foi abandonando gradualmente seus compromissos em resposta à retirada dos EUA do acordo assinado em Viena em 2015, e ao restabelecimento das sanções por parte do governo do presidente Donald Trump. De acordo com o último relatório da AIEA, a quantidade de urânio de baixo eniquecimento supera 12 vezes o limita autorizado.
Depois de ler este documento, Trump teria sondado algumas autoridades americanas sobre a possibilidade de “agir” contra uma instalação nuclear iraniana, provavelmente Natanz, informou o jornal The New York Times nesta semana. As autoridades “dissuadiram o presidente de um ataque militar”, devido ao risco de desencadear rapidamente um conflito maior, afirmou o jornal.
Ao ser questionado sobre o assunto, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, recusou-se a especular. “Não recebemos nenhuma informação”, comentou. O chefe da AIEA também voltou a visitar o local suspeito do distrito de Turquzabad em Teerã, denunciado no passado pelo governo israelense como palco de atividades atômicas secretas. A agência pediu recentemente “uma explicação completa e rápida ao Irã sobre a presença de partículas de urânio antropogênico (resultantes de atividades humanas)”. “O que nos dizem, de um ponto de vista técnico, não se sustenta”, explicou Rafael Grossi. “Precisam nos explicar por que encontramos o que encontramos.”
Trita Parsi, fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano — organização devotada a fortalecer a
voz dos iraniano-americanos e a promover entendimento entre as duas nações — disse ao Correio que, caso os EUA realizem um ataque em grande escala contra o Irã, Teerã vai retaliar. “Uma resposta será contra alvos americanos no Oriente Médio, além de aliados de Washington, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Seria uma situação desastrosa”, advertiu. O próprio regime teocrático islâmico alertou que um bombardeio a Natanz causaria uma “reação esmagadora”. “Eu levo esses avisos muito a sério. Acho improvável que os EUA ataquem o Irã sem que haja uma contra-ofensiva. Isso seria desastroso para a região, provavelmente bem mais desestabilizador do que a invasão dos EUA ao Iraque.”

Sanções
O governo Trump sancionou uma fundação iraniana e o ministro da inteligência do país, intensificando ainda mais a pressão sobre Teerã antes da posse de Joe Biden. O Departamento do Tesouro anunciou o congelamento de qualquer participação nos Estados Unidos da Fundação dos Oprimidos, que se apresenta como uma organização de caridade que tem interesses em toda a economia iraniana, incluindo petróleo e mineração. O ministro da Inteligência e Segurança do Irã, Mahmoud Alavi, também foi sancionado com base nos direitos humanos. Os EUA afirmam que seu ministério é responsável por espancamentos e outros abusos contra presos políticos.

» PALAVRA DE ESPECIALISTA

Manobra inexplicável

“Não existe explicação geopolítica para os movimentos de Trump sobre o Irã, muito menos para começar uma guerra, no momento em que ele está prestes a terminar o mandato. O que pode explicar isso é a pressão de alguns de seus doadores — simpatizantes de quem ele precisa urgentemente para a vida pós-presidencial e, especialmente, se planejar fazer um retorno político. Pouco antes da reunião de 12 de novembro, na Casa Branca, quando sondou a possibilidade de atacar o Irã, Trump encontrou-se com Bernard Marcus, um bilionário que apoia fortemente uma guerra contra Teerã. Mais tarde, Marcus revelou, em entrevista, o desejo de financiar uma emissora de tevê para o republicano.”

Trita Parsi, fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano — organização devotada a fortalecer a voz dos iraniano-americanos e a promover entendimento entre as duas nações

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