HONG KONG

Ativistas se declaram culpados

Joshua Wong, ícone do movimento pró-democracia na antiga colônia britânica, e dois colegas são detidos por participarem dos protestos de 2019. O trio aguardará a decisão da Corte, em prisão preventiva, e poderá ser condenado à pena perpétua

Correio Braziliense
postado em 23/11/2020 20:43
 (crédito: Peter Parks/AFP)
(crédito: Peter Parks/AFP)

O ativista Joshua Wong, um dos principais líderes do movimento pró-democracia de Hong Kong, e outros dois militantes foram detidos, ontem, após admitirem culpa por seu papel nas manifestações de 2019. Desde o ano passado, a ex-colônia britânica vive a pior crise política desde a devolução a Pequim em 1997, com protestos quase diários para criticar a influência da China na região semiautônoma. Apesar da dimensão do movimento de protesto, que incluiu manifestações com mais de 1 milhão de pessoas, o Executivo de Hong Kong, alinhado a Pequim, não fez nenhuma concessão importante aos ativistas. Além disso, as autoridades responderam com uma repressão vigorosa.
Joshua Wong, 24 anos, é processado ao lado de outros dois famosos dissidentes, Ivan Lam, 26, e Agnes Chow, 23, por uma manifestação organizada diante da sede da polícia de Hong Kong, em 21 de junho de 2019 — 10 dias após o início do movimento de protesto. “Continuaremos lutando pela liberdade, e agora não é momento de nos prostrarmos diante de Pequim e nos rendermos”, completou Wong. “Não nos arrependemos”, afirmou Ivan Lam.
Com o lançamento de ovos e de tinta, os manifestantes vandalizaram a sede da polícia e várias delegacias para exigir uma investigação independente da suposta violência cometida pelas forças de segurança. Wong declarou-se culpado de incitar e organizar uma reunião ilegal; Lam admitiu culpa por incitação; e Agnes Chow se disse culpada por incitar e participar do protesto. Os três ativistas foram colocados em prisão preventiva à espera do anúncio da decisão do tribunal, em 2 de dezembro. A prisão perpétua não está descartada.
“Boa sorte a todos”, afirmou Wong, ao ser levado pela polícia. Os simpatizantes cercaram a viatura e gritavam: “Não há agitadores, apenas tirania!”. Apesar de sua juventude, Wong é um veterano da luta política e já foi preso. “Embora afirma que me preparei mentalmente, ainda estou um pouco assustada”, escreveu Agnes Chow em sua página no Facebook.
Com apenas 13 anos, Joshua Wong participou de um protesto contra trem de alta velocidade para ligar Hong Kong à China continental. Em 2011, envolveu-se com a fundação do Scholarism, um grupo estudantil que protestou contra — e venceu — a introdução de aulas de patriotismo chinês. Com 15 anos, ele chegou a fazer uma greve de fome diante da sede do governo local.

Repressão

Mas foi o envolvimento de Wong no “Movimento dos Guarda-Chuvas” que rendeu sua fama em 2014. Além do sufrágio universal real, os manifestantes ocuparam o centro de Hong Kong, durante 79 dias, para exigir que a China deixasse de interferir nas questões de Hong Kong — um território que supostamente deveria ter autonomia até 2047. Mas, seis anos depois do movimento, os temores dos ativistas foram concretizados com a lei de Segurança Nacional, que Pequim impôs em Hong Kong, em 30 de junho, com as ondas de detenções, as restrições às liberdades e o exílio de parte da população.
Em entrevista ao Correio, Sunny Cheung — ex-líder do movimento estudantil de Hong Kong em 2019 e ativista pró-democracia — classificou a prisão do amigo Joshua Wong como “uma manobra insidiosa que demonstra, mais uma vez, como o Partido Comunista Chinês (PCC) destrói brutalmente a liberdade e a autonomia” da ex-colônia britânica. “O PCC tem transformado em arma a Lei de Segurança Nacional Nacional e outras leis coloniais para processar e reprimir diferentes ativistas. O autoritário governo chinês pode manipular arbitrariamente a lei para expurgar ativistas. Essa legislação representa perigo não apenas para os moradores de Hong Kong, como para as pessoas que visitarem a ilha. Um dia, quando um brasileiro vier a Hong Kong, as autoridades poderão detê-lo sem nehuma razão”, comentou.


“Continuaremos lutando pela liberdade, e agora não é momento de nos prostrarmos diante de Pequim e nos rendermos”
Joshua Wong (D), ativista pró-democracia de Hong Kong, preso com Agnes Chow (E) e Ivan Lam (C)


“Na condição de amigo de Joshua Wong, só pode dizer que ele é corajoso e vocal sobre a ditadura do Partido Comunista Chinês. Ele sempre se mantém positivo e acredita no povo de Hong Kong. Joshua acredita que, enquanto os cidadãos de Hong Kong seguirem na luta pela liberdade e pela democracia, um dia, eventualmente, o mal não vencerá, e as pesoas que amam a liberdade prevalecerão.”
Sunny Cheung, ativista pró-democracia e político de Hong Kong exilado nos EUA, ex-líder do movimento estudantil de 2019

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