A Rússia anunciou, ontem, os resultados preliminares da terceira e última fase de testes clínicos da vacina Sputnik V. De acordo com os desenvolvedores, o imunizante apresentou uma taxa de eficácia de 95%. As conclusões, no entanto, não foram divulgadas em estudo científico. O anúncio foi feito no momento em que a Rússia — a quinta nação com mais casos de covid-19 no mundo — registrou um recorde diário de 491 mortes provocadas pelo coronavírus. De acordo com o governo de Vladimir Putin, o novo fármaco terá preço mais reduzido do que as vacinas desenvolvimento por grupos concorrentes, como as empresas norte-americanas Pfizer e Moderna, que também divulgaram parte de suas análises finais nos últimos dias.
De acordo com um comunicado emitido pelo Centro de Pesquisas Gamaleya de Moscou, responsável pelo desenvolvimento do imunizante em parceria com o Ministério da Saúde e o Fundo Soberano Russo, os resultados se baseiam em análises de um grupo de voluntários feita 42 dias após a aplicação da primeira dose. O documento, porém, não explica quantos participantes foram incluídos nos cálculos. A vacina apresentou uma eficácia de 91,4% quatro semanas depois da primeira dose, segundo estimativa feita a partir de 39 casos. No total, 22 mil voluntários receberam a primeira dose e 19 mil deles receberam a segunda.
A Sputnik V encontra-se em fase final de ensaios clínicos, na qual devem participar 20 mil voluntários da Rússia. Testes também estão em andamento nos Emirados Árabes Unidos, na Venezuela e na Bielorrússia. Embora a fase final não esteja concluída, vários funcionários russos de alto escalão foram vacinados, incluindo os ministros Sergei Shoigu (Defesa) e Denis Manturov (Comércio), assim como o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin. O presidente Vladimir Putin não teria sido imunizado.
A Rússia está disposta a lutar pela liderança na corrida pela vacina. Em agosto, antes mesmo do início dos testes clínicos, garantiu que a Sputnik V era muito eficaz, o que provocou dúvidas da comunidade científica internacional. Ian Jones, professor de virologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, declarou ter ficado surpreso com os resultados divulgados pela Rússia. “Os dados sobre a vacina Sputnik V parecem impressionantes”, revelou, em um comunicado do periódico britânico Science Media Reaction. O especialista alertou que é preciso aguardar mais informações sobre a vacina russa, a fim de compará-la com os concorrentes. Os criadores da Sputnik V reiteraram, ontem, que dados mais detalhados serão publicados em breve “em uma das principais revistas médicas do mundo e revisados por seus pares”.
A concorrência é intensa para desenvolver uma vacina que freie a pandemia do coronavírus. O grupo farmacêutico britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford informaram, na última segunda-feira, que seu imunizante tem eficácia média de 70%. A vacina desenvolvida pela empresa americana Pfizer, em parceria com o grupo alemão BioNTech, apresentou eficiência de 95%. A empresa americana Moderna anunciou resultados similares, 94,5% de eficácia.
Preço
Além da taxa de eficácia, o preço é um dos fatores que mais chamam a atenção de especialistas e autoridades em análises de vacinas para a covid-19. De acordo com os responsáveis pela Sputnik V, o imunizante russo terá valor baixo, o que contribuirá para uma distribuição mais ampla da vacina. “O preço de uma dose da Sputnik V no mercado internacional será inferior a 10 dólares (cerca de R$ 53)”, anunciou o Fundo Soberano Russo. Os cidadãos russos não pagarão pela vacina.
O valor mais baixo do imunizante de Moscou se justifica pela tecnologia usada pelos cientistas, mais simples e bastante explorada na área de desenvolvimento de imunizantes. A Sputnik V utiliza dois adenovírus — patógeno muito comum, que provoca resfriados — que são modificados para carregar uma parte do vírus Sars-CoV-2, o responsável pela covid-19. Quando o adenovírus modificado penetra as células das pessoas vacinadas, elas produzem uma proteína que permite ao sistema imunológico reconhecer o vírus e combatê-lo. O mesmo tipo de estratégia foi usado no desenvolvimento da vacina da Universidade de Oxford, que tem até agora o preço mais baixo entre os imunizantes eficazes, cerca de U$ 2,50 a dose (ou R$ 13). As vacinas das empresas Pfizer (US$ 20 ou R$ 107) e Moderna (US$ 15 ou R$ 80) têm um custo mais alto por serem feitas com base em RNA, uma tecnologia totalmente nova, que exige um congelamento mais severo para conservação do medicamento.
» EUA aplicarão mais de 6 milhões de doses
Os Estados Unidos planejam distribuir 6,4 milhões de doses da vacina desenvolvida pela parceria Pfizer-BioNTech depois que ela for liberada para uso emergencial, informaram autoridades de Washington. A vacinação pode começar depois de 10 de dezembro, quando um comitê da Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora de alimentos e medicamentos) deverá se reunir para decidir se libera, ou não, o medicamento.
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