O chavismo busca uma vitória arrasadora nas questionadas eleições legislativas deste domingo (6/12) na Venezuela para entregar o controle do Parlamento ao presidente Nicolás Maduro, em um processo que não tem respaldo internacional e do qual os principais partidos da oposição não participam.
Mais de 20 dos 30 milhões de venezuelanos foram às urnas em eleições em que o governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) busca a "vitória perfeita" com a conquista do único poder que desde 2015 é controlado pela oposição liderada por Juan Guaidó.
Os locais de votação continuarão abertos até às 22h00 GMT ou até que não haja mais eleitores, ainda que ao longo do dia muitos desses espaços estivessem vazios e com poucas pessoas nas filas.
"Chegou o dia, chegou a hora, tivemos paciência, a sabedoria de esperar este momento, este dia e livrar-se dessa nefasta Assembleia Nacional (...) que trouxe a praga das sanções, da crueldade, da dor, do sofrimento", disse Maduro a jornalistas ao votar.
Os Estados Unidos são o principal aliado de Guaidó e lideram a pressão contra Maduro a partir de sanções econômicas, incluindo um embargo ao petróleo válido desde abril de 2019.
"Apelo a toda a oposição para que abandone a rota extremista (...) que peçamos a uma só voz o levantamento de todas as sanções contra o novo governo dos Estados Unidos de Joe Biden, a uma só voz... que restauremos todos os mecanismos de diálogo nacional", acrescentou Maduro.
Os Estados Unidos já anunciaram que não reconhecerão o resultado da votação, assim como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
"Fraude"
A autoridade eleitoral afirmou que todos os centros de votação estão abertos, embora muitos estejam vazios ou com pouco movimentação de eleitores.
O uso de máscara é obrigatório. Marcas no chão mantêm o distanciamento físico por causa da pandemia.
No bairro 23 de Enero, em Caracas, reduto do chavismo, os centros estavam um pouco mais lotados.
Em várias cidades do país, porém, havia mais gente esperando para reabastecer seus veículos do que para votar, reflexo da crise econômica do país, que, segundo especialistas, também contribui para a alta abstenção.
"Isto é uma humilhação, sinto indignação", argumenta José Alberto à AFP, engenheiro de som que esperava por gasolina depois de várias horas de espera. "Não vou votar", acrescentou, acompanhado de seu filho adolescente.
Guaidó, reconhecido como o presidente da Venezuela pelos Estados Unidos e cerca de cinquenta países, exortou seus seguidores a se absterem e ficarem em casa.
"Será a melhor maneira de rejeitar fraudes", escreveu no Twitter, acompanhado de vídeos de centros de votação vazios.
Os grandes partidos da oposição já se abstiveram nas eleições presidenciais de 2018, que consideraram fraudulentas, e foi a justificativa para Guaidó se proclamar presidente interino com o apoio dos Estados Unidos.
Mesmo assim, uma pequena fração dissidente da oposição tentará ganhar alguma das 277 cadeiras.
"Rebeldia"
O chavismo perdeu o controle do Parlamento em 2015 após 15 anos de hegemonia chavista.
No entanto, Maduro rapidamente anulou seu poder por meio do Supremo Tribunal Federal, enquanto Guaidó reivindicou a presidência em 2019, depois que a Câmara declarou Maduro "usurpador" por ter sido reeleito de forma "fraudulenta" em maio de 2018.
Paralelamente, Guaidó tenta organizar uma espécie de plebiscito (de 7 a 12 de novembro) para estender a legislatura até que sejam realizadas eleições "livres, verificáveis e transparentes".
Mas essa consulta nada mais será do que testemunhal, já que Maduro exerce o controle territorial e institucional com o apoio da cúpula militar, considerada seu principal apoio.
Guaidó conta com apoio internacional para rejeitar o processo eleitoral.
Além dos EUA, a União Europeia, que tentou sem êxito que o processo fosse adiado, não considera que a votação será "justa, transparente e credível", pelo que é improvável o seu reconhecimento do processo, disseram fontes europeias à AFP.
"Quero que a União Europeia reflita depois dessas eleições", indicou o ex-presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que liderou os processos de diálogo na Venezuela e hoje atua como observador do processo.
"Não reconhecer é se desentender? Há que se comprometer com a Venezuela".
Os ex-presidentes Evo Morales, da Bolívia, e Fernando Lugo, do Paraguai, junto com a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba, também estão entre os convidados internacionais.
"Essas eleições vão fortalecer a democracia na América Latina", afirmou Morales. "Não tenho dúvidas de que em pouco tempo voltarão os tempos de Chávez, Lula, Kirchner, Fidel".
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.