EUA

Hora de virar a página

Colégio Eleitoral confirma vitória de Joe Biden nas eleições, com 306 dos 538 votos dos delegados. Em discurso, presidente eleito diz que, na batalha pela alma da nação, a democracia prevaleceu, acusa Trump de ignorar a vontade popular e defende união para curar o país

Rodrigo Craveiro
postado em 14/12/2020 22:59
 (crédito: Drew Angerer/AFP)
(crédito: Drew Angerer/AFP)

É hora de unificar e de curar os Estados Unidos. O pedido foi feito, na noite de ontem, pelo democrata Joseph Robinette “Joe” Biden Jr., pouco depois de ser confirmado pelo Colégio Eleitoral como o 46º presidente dos EUA. Joe Biden, 78 anos, obteve 306 dos 538 votos de delegados do Colégio Eleitoral, superando os 270 necessários para a vitória nas eleições de 3 de novembro. O republicano Donald Trump, que tentava um segundo mandato, reuniu 232 votos. Em discurso à nação, Biden elogiou as instituições do país e enviou um recado ao atual presidente. “Mais uma vez, na América, prevaleceram o Estado de direito, a nossa Constituição e a vontade do povo. Nossa democracia foi pressionada, testada, ameaçada, e provou ser resiliente, verdadeira e forte. (…) Nesta batalha pela alma dos Estados Unidos, a democracia prevaleceu. Nós, o povo, votamos. A fé em nossas instituições foi mantida. A integridade de nossas eleições permaneceu intacta. Agora, é hora de virar a página. Para unir. Para curar”, afirmou. “Eu serei o presidente para todos os norte-americanos. Vou trabalhar muito duro tanto para aqueles que não votaram em mim, quanto para aqueles que votaram. (…) A chama da democracia foi acesa nesta nação há muito tempo. Agora sabemos que nada, nem mesmo uma pandemia ou abuso de poder, pode apagar essa chama.”

Biden lembrou que Trump obteve os mesmos 306 votos do Colégio Eleitoral em 2016. “Naquela época, ele chamou a vitória de ‘esmagadora’”, ironizou. “A campanha de Trump trouxe dezenas de processos para contestar a eleição. Foram ouvidos e viu-se que não tinham mérito nenhum. Eles (republicanos) mobilizaram mais de 80 juízes. Nenhum deles viu margem para reverter o resultado.” Biden acusou Trump de ignorar a vontade do eleitor. “É uma posição tão extrema, nunca antes vista. Uma posição com a qual ele se negou a respeitar a vontade popular e o Estado de direito, e a honrar a Constituição.”

Em 6 de janeiro, os membros do Congresso deverão cumprir com o protocolo e atestar o resultado da votação. O Colégio Eleitoral nem tinha finalizado a votação, e os seis estados em que Trump denunciava existência de fraude confirmavam a vitória de Biden. Não foi o bastante para que o republicano abandonasse o discurso adotado desde 7 de novembro, quando o democrata venceu as eleições.

Por volta das 15h (17h em Brasília), o magnata compartilhou no Twitter uma reportagem do Detroit Free Press sobre uma suposta ordem judicial no estado de Michigan para examinar os tabuladores de votos no condado de Antrim. “Wow! Esse relatório mostra uma fraude imensa. Mudança nos resultados da eleição!”, escreveu Trump. A mensagem, uma vez mais, foi “censurada” pelo Twitter. Até o fechamento desta edição, ele manteve o silêncio sobre a votação no Colégio Eleitoral.

“Não vejo Trump admitindo a derrota neste ponto. Ele deixará o cargo, mas dirá que a eleição foi manchada e que ele foi enganado”, afirmou ao Correio, por e-mail, Robert Alexander, professor de ciência política da Ohio Northern University e autor de dois livros sobre o Colégio Eleitoral — Representation and the Electoral College e Presidential Electors and the Electoral College. “Muitos dos apoiadores de Trump simplesmente não acreditarão que Biden venceu. Isso dificultará o trabalho do democrata de unir o país. Definitivamente, este cenário representa uma erosão das normas nos EUA e surpreendeu muitos analistas. Não é o tipo de coisa que se vê em democracias saudáveis.”

Ao mesmo tempo, Alexander classifica a postura de Trump como consistente com sua maneira de comportar-se em público nos últimos anos. “Ele sempre nadou nas águas da conspiração. É um pouco alarmante como os membros do Partido Republicano não retrocederam ante suas acusações”, admite o estudioso. “Ainda assim, o comportamento do atual presidente não tem precedentes na história recente.” A rede de tevê CNN informou que Trump aposta que a Câmara dos Representantes barre a eleição de Biden, em 6 de janeiro. “Não acredito que ele tenha chance alguma, pois os democratas são maioria na Casa. Eles não o apoiarão e parece-me que um número suficiente de republicanos não está disposto a apoiar tal esforço no Senado”, disse o professor de Ohio.

Baixa

A recusa de Trump em aceitar a derrota levou a uma baixa nas fileiras do Partido Republicano. Paul Mitchell, deputado pelo estado do Michigan, pediu ao secretário da Câmara dos Representantes que mudasse sua afiliação partidária para a categoria “independente” e notificasse a legenda sobre a retirada do “envolvimento e associação” com o Partido Republicano. Pouco depois de anunciar a desfiliação, Mitchell reclamou de ameaças de violência contra o Colégio Eleitoral. “Elas são uma ameaça à nossa República e devem cessar. Todos os líderes políticos devem se opor a tais declarações e ações”, escreveu no Twitter.

 

 

 

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Procurador-geral Bill Barr é afastado

 (crédito: Mandel Ngan/AFP - 2/9/20)
crédito: Mandel Ngan/AFP - 2/9/20

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída do governo do procurador-geral Bill Barr (E), que contradisse suas denúncias de que teria existido fraude nas eleições presidenciais, embora o anúncio não tenha evidenciado nenhuma rusga entre os dois. “Acabo de ter uma reunião muito agradável com o procurador-geral Bill Barr na Casa Branca. Nossa relação é muito boa, ele fez um trabalho excepcional. Como diz sua carta, Bill vai deixar o cargo logo antes do Natal para passar as festas com sua família”, informou o presidente no Twitter. Em sua carta de despedida, Barr disse que estava “muito honrado por ter trabalhado neste governo”. Ele será substituído por Jeff Rosen, atual subsecretário de Justiça dos EUA.

Nova proposta para plano de alívio

 (crédito: Chip Somodevilla/AFP)
crédito: Chip Somodevilla/AFP


Um grupo de parlamentares republicanos e democratas dos Estados Unidos apresentou, ontem, um plano de US$ 908 bilhões ao Congresso para a retomada de uma economia muito impactada pela pandemia da covid-19. A expectativa é de que o texto seja submetido a votação nesta semana. A medida paliativa inclui auxílios aos governos estaduais e locais e aos desempregados e às pequenas empresas. No entanto, a pouco mais de um mês do fim do governo Donald Trump, sua possibilidade é incerta.

“Estamos realmente esperançosos de que este pacote faça parte de um acordo final que votaremos nesta semana”, afirmou o legislador democrata Josh Gottheimer, um dos parlamentares por trás da iniciativa, à CNBC. A negociação ocorre em um contexto de urgência — depois de meses de conversas infrutíferas — e menos de duas semanas após o fim do último auxílio previsto em um grande plano de ajuda econômica aprovado pelo Congresso no começo da pandemia, de cerca de US$ 2,2 trilhões.

Sem um acordo, milhões de pessoas ficarão sem qualquer tipo de renda em meio a uma crise prolongada e diante das incertezas de uma doença que matou mais de 300 mil norte-americanos. O plano dos legisladores para romper o impasse nas negociações consiste em dividir a proposta em duas partes, uma com as questões mais consensuais e outra com os temas mais espinhosos.

Entre democratas e republicanos, uma questão de atrito é a proteção jurídica das empresas, mas também de universidades e escolas, contra possíveis ações judiciais de funcionários ou alunos infectados pelo coronavírus. Os republicanos exigem que a medida seja incluída no pacote, mas os democratas insistem que isso pode colocar os trabalhadores em risco e encorajar os patrões a não tomarem medidas de proteção.

A divisão do Congresso — a Câmara dos Deputados tem maioria democrata, enquanto os republicanos controlam o Senado — travou as discussões sobre o plano durante meses. As principais lacunas incluem o tamanho do pacote a ser aprovado e o destino dos fundos. Mitch McConnell, líder do Senado, favoreceu medidas mais restritivas e orientadas, em valores menores: cerca de US$ 500 bilhões.

Dado o recesso iminente para os feriados de fim de ano, qualquer iniciativa será uma “cota inicial” antes da chegada ao poder do democrata Joe Biden, que lançou vários apelos para que o Congresso aprove um plano de auxílio para o país. Os Estados Unidos enfrentam uma taxa de desemprego de 6,7%, quase o dobro de antes da pandemia.

 

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