Com mais de 500 mil mortes e 23 milhões de infecções, a Europa oscila entre o medo e a ansiedade, às vésperas do início da imunização em massa contra o coronavírus. O presidente francês, Emmanuel Macron, testou positivo para a covid-19, começou a cumprir isolamento de sete dias e forçou ao menos sete personalidades políticas a tomarem a mesma medida, entre elas os premiês Jean Castex (França), Pedro Sánchez (Espanha), António Costa (Portugal), Xavier Bettel (Luxemburgo) e Alexander de Croo (Bélgica), além do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Um comunicado assinado por Gabriel Attal, porta-voz do Palácio do Eliseu, afirma que Macron “tem sintomas reais, tosse e cansaço importante”. O chefe de Estado da França foi submetido a “testes PCR quando surgiram os primeiros sintomas” e, apesar de isolado, “continuará trabalhando e realizando suas atividades a distância”. A primeira-dama, Brigitte Macron, testou negativo.
Em seu perfil no Twitter, António Costa publicou uma foto em que um médico coleta secreção nasal com o Sawb para teste de diagnóstico. “Em virtude da confirmação do teste positivo do presidente francês, Emmanuel Macron, com quem estive ontem (quarta-feira) no Palácio do Eliseu, estou em isolamento profilático preventivo até avaliação do grau de risco por parte das autoridades de saúde”, escreveu o premiê português, que cancelou uma viagem à África e suspendeu a agenda pública que exigisse sua presença física. O governo de Portugal informou que o teste foi negativado.
“Na segunda-feira, participei, com o presidente francês, da comemoração do 60º aniversário da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Hoje, após tomar conhecimento de seu (diagnóstico) positivo e seguindo todos os protocolos, suspendi todas as minhas atividades e permanecerei em quarente até 24 de dezembro”, afirmou o premiê espanhol, Pedro Sánchez. O chefe de governo belga, Alexander de Croo, desejou rápida recuperação para Macron e confirmou que, devido ao contato com o francês na quinta-feira passada, ficará em isolamento até a divulgação do resultado do teste. Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, decidiu tomar a mesma medida depois de participar do evento da OCDE em Paris.
Vacinação
A União Europeia (UE) começará a vacinar a população em 27 de dezembro, em uma campanha prevista para durar três dias. “Este é o momento da Europa. Em 27, 28 e 29 de dezembro, a vacinação terá início em toda a UE. Protegemos nossos cidadãos juntos. Somos mais fortes juntos”, declarou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco. Cofundadora do Observatório para a Transparência das Políticas de Medicamentos (OTMeds), organização baseada em Paris, Pauline Londeix (leia Duas perguntas para) disse ao Correio que os países-membros da União Europeia (UE) compraram muitas doses de vacinas e concederam enorme financiamento público a esses desenvolvimentos, muito antes das aprovações nos mercados e antes de sabermos exatamente as caraterísticas de cada vacina desenvolvida.
As principais decisões sobre a estratégia de imunização têm sido tomadas com base em declarações à imprensa das companhias farmacêuticas, como Moderna, Pfizer e Astra. Isso parece muito insuficiente para pensar, desenvolver e implementar a melhor abordagem de vacinação para as populações. Nós lamentamos a falta de transparência no processo, desde o início das pesquisas, em março. Mais transparêcia poderia ter ajudado a desenvolver vacinas que poderiam ser usadas de modo complementar”, comentou Londeix .
Ela explica que, do ponto de vista logístico, a vacina da Pfizer/BioNTech representará um grande desafio. “Como ela requer uma cadeia de ultracongeladores, apresenta dificuldades para atingir as várias populações dentro de nações da União Europeia (UE) que precisarão ser vacinadas com prioridade”, afirmou. “Será um grande desafio implementar uma campanha de imunização em larga escala com um imunizante dotado de tais características.” O imunizante da Pfizer/BioNTech é produzido a partir da técnica de RNA mensageiro, a qual utiliza parte do código genético do coronavírus para provocar, no organismo humano, resposta imune à presença do Sars-CoV-2.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Duas perguntas / Pauline Londeix
Cofundadora do Observatório para a Transparência das Políticas de Medicamentos (OTMeds)
Como a senhora analisa o avanço da segunda onda da covid-19 na Europa?
O número de infecções tem diminuído em países como a França, por causa do lockdowm em vigor. Mas, no momento, estamos muito preocupados com relação a uma potencial terceira onda, que poderia ocorrer entre janeiro e fevereiro. Em particular porque, no fim do ano, as pessoas vão celebrar o Natal e o réveillon e se encontrar em família, com o risco de que número de infecções volte a aumentar.
Com a vacinação em massa programada para começar em 27 de dezembro, a senhora acredita em uma redução no número de casos da doença?
Nós certamente esperamos por isso. Mas, por enquanto, há muitas questões para as quais ainda não temos respostas. O que está por trás da eficiência de 90% de vacinas que algumas farmacêuticas atestam? O imunizante reduz as formas severas da doença ou diminui a transmissão? Parece que as vacinas da Moderna e da Pfizer/BioNTech têm mais impacto sobre a redução de formas graves da doença e não sobre a transmissão. É fundamental reduzir as formas graves da covid-19, especialmente em idosos e em outras pessoas dos grupos de risco. No entanto, para quebrar a curva de infecções, também precisamos de vacinas que reduzam a transmissão. Além disso, não sabemos a duração da imunização. (RC)
Vizinhos na vanguarda
Enquanto a brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não recebeu o pedido de liberação do uso de vacinas contra a covid-19, três nações vizinhas despontam na vanguarda do combate à pandemia na América do Sul. A Argentina encomendou 300 mil doses da vacina Sputnik V, fabricada pela Rússia. Mesmo não aprovado pelos órgãos reguladores, o governo de Alberto Fernández começará a aplicar o imunizante nos argentinos com mais de 60 anos. A Sputnik V chegará a Buenos Aires às 18h (hora local) de 24 de dezembro. As autoridades esperam o envio de 5 milhões de doses até janeiro, indicou o jornal Clarín.
No Chile, a vacina fabricada pelo consórcio Pfizer/BioNTech obteve, anteontem, autorização emergencial para uso por parte do Instituto de Salud Pública (ISP). Segundo o jornal La Tercera, a imunização deverá ocorrer entre 24 e 31 de dezembro. A vacinação deverá compreender cidadãos acima de 16 anos. “O Chile está na vanguarda e estamos muito contentes com essa boa notícia”, declarou Heriberto García, diretor do ISP. As 10,1 milhões de doses deverão chegar a Santiago do Chile, a partir dos Estados Unidos ou da Bélgica, armazenadas em recipientes de gelo seco que mantêm a temperatura a 70ºC abaixo de zero. A primeira remessa, prevista para a próxima semana, será distribuída, por vias terrestre e aérea, aos hospitais que aplicarão a primeira dose.
Por sua vez, a Agência de Regulação e Controle Sanitário (Arcsa) do Equador também aprovou a aplicação da vacina Pfizer/BioNTech, na noite de terça-feira passada. Mais de 50 mil doses deverão desembarcar no país em janeiro. Terão prioridade de imunização os funcionários do setor de saúde, os idosos residentes em asilos e os empregados desses centros geriátricos. O segundo lote da vacinação está previsto para março e contemplará o restante dos médicos e enfermeiros que não tiverem recebido a dose, as forças de segurança e os bombeiros, assim como garis, trabalhadores de setores energéticos e grupos considerados de alto risco. Em uma terceira fase da campanha, serão vacinados os equatorianos com mais de 18 anos. Em 2021, a previsão é de imunizar até 60% da população, ou 9 milhões de pessoas.
Notas
EUA autorizam a vacina da Moderna
Um painel de especialistas dos Estados Unidos recomendou a autorização emergencial da vacina contra a covid-19 da Moderna, abrindo caminho para que 6 milhões de doses comecem a ser distribuídas neste fim de semana. Espera-se, agora, que a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) conceda, de maneira iminente, uma autorização para o uso emergencial — o que tornaria essa vacina a segunda a ser aprovada em um país ocidental. Com isso, os EUA passarão a ter duas vacinas: a da Pfizer/BioNTech e a da Moderna. A FDA disse que revisará a dosagem da vacina Pfizer-BioNTech, após duas pessoas apresentarem reações alérgicas. Os dois, ambos profissionais de saúde, foram vacinados no Alasca e um deles teve uma reação grave ou “anafilática”, o que o levou a ser hospitalizado.
Arábia Saudita inicia imunização
A Arábia Saudita começou, ontem, uma campanha de vacinação contra o coronavírus, na qual o ministro da Saúde foi um dos primeiros a receber uma dose da vacina Pfizer/BioNTech. “É o início do fim da crise”, disse à imprensa o ministro Tawfik Al-Rabiah (foto). O reino anunciou, na terça-feira, uma campanha de vacinação em massa em três fases. A primeira, para pessoas vulneráveis (de mais de 65 anos, com doenças crônicas ou exercendo profissões expostas ao vírus); a segunda, para indivíduos de mais de 50 anos, aos demais trabalhadores da saúde e a pessoas com doenças menos graves; e a terceira, ao restante da população que deseja se vacinar. Mais de 100 mil pessoas, de uma população de 34 milhões de habitantes, inscreveram-se pelo aplicativo do governo “Sehaty” para se beneficiar da vacina “gratuita para todos”, segundo o Ministério da Saúde.
Papa reitera pedido de vacina aos pobres
No dia em que completou 84 anos, o papa Francisco fez um apelo à comunidade internacional. Em mensagem divulgada pelo Vaticano, ontem, o pontífice pediu à comunidade internacional garantias de acesso à vacina do coronavírus para “os mais pobres”. “Renovo meu pedido aos políticos e ao setor privado para que adotem medidas adequadas que garantam aos mais pobres e frágeis o acesso às vacinas contra a covid-19, assim como as tecnologias essenciais necessárias para atender aos doentes”, escreveu. Na mensagem, que será lida pelas paróquias na Jornada Mundial da Paz, em 1º de janeiro, o pontífice propôs a criação de um Fundo Mundial com o dinheiro que usa para a fabricação de armas e os gastos militares na luta contra a pobreza.
Rei da Suécia admite que a nação falhou
Em pronunciamento anual alusivo ao Natal, o rei Carl XVI Gustaf admitiu que o país “fracassou” em não adotar a quarentena para combater o coronavírus e que, em decorrência disso, a população “sofreu tremendamente”. O filho e a nora do monarca testaram positivo para o Sars-CoV-2 na semana passada. Aos 74 anos, o rei considerou o número de mortes na Suécia como “terrível”. “Simplesmente, acho que falhamos. Muitas pessoas morreram, e isso é horrível. (…) Não fomos capazes de ajudá-las, e isso é algo terrivelmente triste”, declarou. Segundo ele, o povo sueco “sofreu enormemente sob circunstâncias difíceis”. “Infelizmente. É assustador falar sobre isso”, desabafou.