Cansados, física e emocionalmente, os 344 adolescentes sequestrados há uma semana pelos jihadistas do Boko Haram, e libertados na noite de quinta-feira, foram recebidos, ontem, pelas autoridades nigerianas antes de retornarem para suas casas. Pelo menos 200 estudantes ainda estariam em poder dos extremistas, segundo o governo, que considera as circunstâncias do sequestros incertas.
“Vocês sofreram, mas saibam que nós também e seus pais ainda mais”, declarou o governador de Katsina, Aminu Bello Masari, aos jovens. “Para esses estudantes, esse episódio fará parte de sua história e de seu caminho para a idade adulta, estou certo de que se lembrarão por toda a vida”, acrescentou.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reivindicou a libertação imediata e incondicional dos que permanecem em cativeiro, no noroeste da Nigéria. Por meio de um comunicado, Guterres agradeceu as rápidas medidas tomadas pelas autoridades nigerianas para salvar os meninos, mas pediu ao país “para redobrar os esforços para proteger as escolas e os centros educacionais”.
Os menores de idade — mais de 500, segundo estimativas — foram levados, por homens armados, de uma escola para rapazes da cidade de Kankara, na sexta-feira da semana passada. A ação evidenciou o avanço do Boko Haram, que atua no nordeste do país, ou seja, a centenas de quilômetros do local do sequestro.
Vídeo
Anteontem, os jihadistas divulgaram um vídeo dos sequestrados. Com o rosto coberto de poeira e arranhões, um adolescente afirmou fazer parte dos 520 estudantes capturados pela “gangue de Shekau”, numa referência ao nome do líder histórico do grupo.
No vídeo, a facção extremista avisou, por intermédio do jovem, que havia matado alguns dos reféns. Divulgadas pelos canais tradicionais do grupo, as imagens foram gravadas parte em inglês e parte na língua hausa, falada principalmente no norte da Nigéria.
De acordo com vários depoimentos de jovens que conseguiram escapar, os reféns foram divididos em vários grupos na noite do sequestro. Uma fonte de segurança que investiga o caso afirmou à agência de notícias France-Presse que os estudantes que apareceram no vídeo eram os que estavam detidos por Awwualun Daudawa, que responde diretamente às ordens do Boko Haram.
A ofensiva foi similar ao sequestro de mais de 200 meninas em Chibok em 2014, e, na avaliação de analistas, representou um golpe para o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, originário do estado de Katsina.
Em uma década de conflito, o Boko Haram e seu braço dissidente, o Estado Islâmico na África Ocidental (Iswap), causaram 36 mil mortes no país. Dois milhões de pessoas continuam sem poder voltar para casa.
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