RÚSSIA

Veneno na cueca de Navalny

Correio Braziliense
postado em 21/12/2020 22:36
 (crédito: Handout/AFP - 15/9/20)
(crédito: Handout/AFP - 15/9/20)

O opositor russo Alexei Navalny afirmou que enganou e conseguiu desmascarar um agente do serviço de segurança russo (FSB) para que admitisse, por telefone, a tentativa de seu envenenamento na Sibéria. As declarações foram repudiadas pelo FSB. “O vídeo desta conversa telefônica é uma falsificação”, indicou o órgão, que denunciou uma “provocação planejada” com ajuda estrangeira.

Em uma postagem em seu blog, na qual publica a suposta conversa, Navalny explica que conseguiu camuflar seu número de telefone e se apresentar ao agente, Konstantin Kudriavtsev, como assistente do secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patruchev, alguém considerado próximo ao presidente Vladimir Putin. Durante a conversa, o espião revelou que o agente nervoso Novichok foi colocado na cueca de Navalny.

“Putin pensa muito nas minhas cuecas”, ironizou o opositor, que segue em tratamento na Alemanha pelo ataque que o deixou à beira da morte. Navalny apresenta Kudriavtsev como um especialista em armas químicas do FSB e teria feito com que ele acreditasse que precisava de sua ajuda para elaborar um relatório sobre a tentativa de asssassinato da qual foi vítima.

O interlocutor ao telefone deu a entender que não participou do envenenamento, mas da destruição das pistas posteriormente. O opositor, persona non grata no Kremlin, afirma que obteve o número de telefone de Kudriavtsev pelo site de investigação inglês Bellingcat, que publicou em 14 de dezembro, com outros meios de comunicação, uma investigação que supostamente identifica oito agentes do FSB — entre eles Kudriavtsev — encarregados de controlar seus movimentos desde 2017.

Navalny também afirma em seu blog que tentou falar com vários desses agentes, e que todas as tentativas fracassaram até topar com Kudriavtsev. Essas ligações ocorreram algumas horas antes da publicação da investigação da Bellingcat. Na quinta-feira, Putin deu a entender que Navalny estava sob vigilância, mas negou que o oponente tenha sido envenenado pelos serviços de inteligência, pois já estaria morto. A oposição, especializada em investigações sobre a corrupção das elites, acusa o presidente russo de ter ordenado esta tentativa de assassinato.

Moscou recusa-se a abrir uma investigação criminal neste caso, citando a recusa da Alemanha em transmitir seus dados ao país. A Rússia nega reiteradamente que Navalny tenha sido envenenado em Tomsk e diz que a substância tóxica do tipo Novichok detectada pelos laboratórios ocidentais, após sua hospitalização na Alemanha, não estava presente em seu organismo quando foi atendido na Rússia.

Na noite desta segunda-feira, Liubov Sobol, assessora de Navalny, foi detida em frente a um prédio de Moscou, apresentado como o imóvel onde Kudriavtsev mora. Sobol anunciou sua própria detenção pelo Twitter, onde publicou anteriormente o endereço do suposto agente.


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