Corona vírus

A "fórmula vencedora" da AstraZeneca

Pascal Soriot, CEO da farmacêutica anglo-sueca, anuncia que a vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford tem eficácia similar às concorrentes e proteção de 100% contra as formas graves da covid. Agência britânica deve se manifestar esta semana

Correio Braziliense
postado em 27/12/2020 23:56
 (crédito: Nelson Almeida/AFP - 23/10/20)
(crédito: Nelson Almeida/AFP - 23/10/20)

Com o compromisso de divulgação, em breve, de estudos científicos definitivos, o conglomerado farmacêutico anglo-sueco AstraZeneca anunciou ter encontrado a “fórmula vencedora” para a vacina contra o novo coronavírus, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. Segundo Pascal Soriot, CEO do laboratório, o imunizante tem desempenho equivalente aos produzidos pelas concorrentes, além de garantir uma “proteção de 100%” contra as formas graves da covid-19.

“Acreditamos que encontramos a fórmula vencedora e como obter uma eficácia que, com duas doses, está à altura das demais”, afirmou Soriot, em entrevista concedida ao jornal Sunday Times. A agência reguladora britânica — a MHRA (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency) — recebeu os estudos completos sobre a vacina na quarta-feira passada e deve se pronunciar nos próximos dias.

Com esse aval, o imunizante estará apto para ser aplicado no Reino Unido, onde a população vem recebendo a primeira dose do imunizante produzido pelo consórcio teuto-americano Pfizer/BioNTech. A previsão é a de que comece a ser aplicada em 4 de janeiro.

Brasil

A vacina de Oxford, como vem sendo popularmente chamada, é a grande aposta do governo brasileiro. Ainda no início de agosto, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória que abriu crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para viabilizar a produção e aquisição de 100 milhões de doses do imunizante. Recentemente, o governo anunciou acordo para a compra de 70 milhões de doses da Pfizer.

Nos resultados provisórios de testes clínicos em larga escala, no Reino Unido e no Brasil, o laboratório anglo-sueco anunciou, em novembro, que sua vacina tinha eficácia média de 70%, contra mais de 90% dos fármacos da Pfizer/BioNTech e Moderna.

Por trás do resultado médio, estavam grandes diferenças entre dois protocolos: a eficácia alcança 90% para os voluntários que receberam primeiro metade da dose e uma dose completa um mês depois, mas de apenas 62% para outro grupo vacinado com duas doses completas.

Esses resultados foram alvos de crítica porque aconteceu um erro na injeção de meia dose, embora um grupo relativamente pequeno tenha seguido este protocolo. A empresa anunciou mais tarde que sua vacina exigia estudos adicionais, agora concluídos.

Acessível

A vacina Oxford/AstraZeneca é aguardada com impaciência, porque é relativamente barata e não precisa ser armazenada a uma temperatura tão fria como a da Pfizer/BioNTech, por exemplo, que deve ser mantida a -70ºC. O fármaco do consórcio anglo-sueco pode ser armazenado em condições de refrigeração (2ºC a 8ºC), o que facilita a vacinação em larga escala e em casas de repouso.

O Reino Unido foi o primeiro país ocidental a iniciar a imunização com a vacina da Pfizer/BioNTech, no início de dezembro. Agora conta com a segunda vacina para ganhar impulso e cortar a curva de aumento de casos atribuídos à nova cepa do coronavírus detectada em seu território.

Pascal Soriot externou otimismo quanto à possibilidade de o imunizante ser capaz de enfrentar as variantes do Sars-CoV-2. “(Diante da mutação) pensamos, no momento, que a vacina deve continuar sendo eficaz”, disse. “Mas não podemos ter certeza e faremos alguns testes”, admitiu.

Na entrevista ao Sunday Times, o CEO do conglomerado garantiu que novas versões do imunizante foram preparadas. Ele disse esperar, porém, que elas não sejam necessárias. “Você tem que estar preparado”, observou.


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Nova cepa encontrada na Nigéria

 (crédito: Kola Sulaimon/AFP - 7/9/20)
crédito: Kola Sulaimon/AFP - 7/9/20

Uma nova cepa do Sars-CoV-2 foi encontrada na Nigéria, país de maior população da África, com 200 milhões de habitantes, provocando a convocação de uma reunião de emergência da agência de saúde do continente. Segundo as informações de especialista, a variante é distinta da detectada recentemente na África do Sul e na Inglaterra, embora compartilhe algumas mutações com a última.

A descoberta foi anunciada, de forma discreta, pelo Centro Africano de Excelência para a Genômica das Doenças Infecciosas (Acegid), com sede em Ede, sudoeste da Nigéria. Depois disso, o Centro Africano de Controle de Doenças (CDC), a agência de saúde da União Africana, organizou um encontro de especialistas para dimensionar o real impacto.

O professor Christian Happi, biólogo molecular que participou no sequenciamento genético da nova variante, pediu cautela. O Acegid analisou, no início do mês, 200 mostras do vírus e duas delas, obtidas de pacientes em 3 de agosto e 9 de outubro, apresentaram mutações genéticas. “Não temos ideia, nem certeza, se essa variante tem relação direta com o aumento de casos na Nigéria atualmente”, disse Happi.

Em comparação a outros países, os números da covid-19 da Nigéria são relativamente baixos. Segundo balanço atualizado no último sábado, eram 82 mil casos registrados e 1.246 mortes. Apesar do cenário, o número de contágios no país, que realiza pouquíssimos testes, registra aceleração.

Hipóteses

Graças ao sequenciamento genético do vírus, uma operação de rastreamento sofisticada que apenas 12 laboratórios conseguem executar no continente africano, o professor Happi e sua equipe mostraram a evolução da mutação. “Não sabemos de onde vem a nova variante. Mas, acreditamos que seja independente, que se produz na Nigéria. Não acredito que seja importada”, disse o biólogo.

Ex-professor de Harvard, especializado em doenças infecciosas, Christian Happi assinalou que os vírus sofrem mudanças de maneira natural. “O importante não é a mutação, e, sim, a transformação da proteína spike, a parte do vírus que permite o acesso às células do corpo e que tornaria essa mutação infecciosa”, explicou.

O Acegid trabalha com o Centro de Doenças Infecciosas da Nigéria (NCDC), organismo de saúde pública nacional, para tentar explicar o aumento recente de casos da covid-19 no país e se essa evolução pode ser sido motivada pela nova cepa. Mas, uma coisa parece correta: a taxa de mortalidade relativamente baixa na Nigéria não aumentou recentemente.

“Peço que as pessoas não extrapolem”, disse o professor. “Nada prova, por exemplo, que a cepa encontrada na Inglaterra teria os mesmos efeitos na Nigéria e vice-versa”, enfatizou.

O especialista lembrou que decifrar o comportamento do novo coronavírus é um desafio constante. “Se há algo que a covid-19 nos ensinou é que, em tudo que acreditávamos saber sobre esse vírus, estávamos equivocados”, enfatizou, acrescentando: “Alguns previram que um terço da população da África morreria, mas não podemos reunir as pesquisas e os números da Europa e dos Estados Unidos e aplicá-los aqui: somos geneticamente diferentes, nossa saúde imunológica é diferente.”

Até o momento, a África registra, oficialmente, 2,4 milhões de infecções, ou seja, 3,6% do total mundial, segundo o balanço da agência de notícias France-Presse. O continente confirmou pouco mais de 57 mil mortes, número menor do que o notificado na França (59.072).

A testagem reduzida pode colocar em dúvida as estatísticas. Em contrapartida, é certo que nenhum país africano observou um aumento excessivo da mortalidade, o que seria indício de propagação do vírus.


Esperança na Europa

Menos de uma semana após a autorização da União Europeia (UE) para o uso da vacina dos laboratórios Pfizer e BioNTech, Portugal, Espanha, França e Itália começaram, ontem, a campanha de imunização. Na véspera, Alemanha, Hungria e Eslováquia anteciparam-se à ação conjunta contra a covid-19, que infectou mais de 80 milhões de pessoas no mundo e provocou 1,7 milhão de mortes.

“Não senti nada, nada. Muito obrigado”, reagiu, sorridente, Araceli Hidalgo Sánchez, 96 anos, a primeira pessoa a receber a aguardada dose na Espanha, em uma casa de repouso de Guadalajara.

Mónica Tapias, auxiliar de enfermagem da instituição, foi a segunda espanhola a ser imunizada. “O que queremos é que a maioria das pessoas receba a vacina”, ressaltou.

As autoridades de Madri esperam vacinar entre 15 milhões e 20 milhões, de uma população de 47 milhões de pessoas, até junho do ano que vem. A Espanha é um dos países da Europa mais afetados pela pandemia, com 50 mil mortes e mais de 1,8 milhão de casos. “Hoje (ontem), Araceli e Mónica representam uma nova etapa de esperança. Um dia de emoção e confiança”, tuitou primeiro-ministro Pedro Sánchez.

Quase no mesmo horário, a enfermeira Claudia Alivernini e Maria Rosaria Capobianchi, diretora de um laboratório de virologia no Hospital Spallanzani, de Roma, foram as primeiras a receber a vacina na Itália. “É um gesto pequeno, mas fundamental para todos nós”, disse Alivernini.

Na Itália, o país europeu mais castigado pelo novo coronavírus (71 mil óbitos), a vacinação generalizada começará em 8 de janeiro, data em que passará a receber 470 mil doses por semana. A Europa é, numericamente, a região mais afetada do mundo pela pandemia, superando os 25 milhões de casos da covid e 546 mil mortos.

O primeiro país a vacinar foi a China, que aplicou as primeiras doses no verão (Hemisfério Norte, inverno no Brasil). Ao longo deste mês, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Suíça, México, Costa Rica e Chile também iniciaram suas campanhas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação