EUA

Trump sanciona "Lei de Alívio da Covid" e impede paralisia nos EUA

Presidente transforma em lei estímulo econômico e financiamento do governo da ordem de US$ 2,3 trilhões, dos quais US$ 900 bi serão usados para mitigar efeitos da pandemia. Medida evita o fechamento da máquina pública e ocorre a 24 dias da posse de Joe Biden

Rodrigo Craveiro
postado em 28/12/2020 06:00
 (crédito: AFP / ANDREW CABALLERO-REYNOLDS)
(crédito: AFP / ANDREW CABALLERO-REYNOLDS)


O sinal foi dado pelo republicano Donald Trump em seu perfil no Twitter, na noite deste domingo (27/12): “Boas notícias sobre a Lei de Alívio da Covid. Informações a seguir”. Por volta das 22h15 (hora de Brasília), a Casa Branca confirmou que o presidente acabava de sancionar o pacote de estímulo econômico e de financiamento do governo da ordem de US$ 2,3 trilhões (ou R$ 12 trilhões), dos quais US$ 900 bilhões (R$ 4,6 trilhões) serão usados para mitigar os efeitos da pandemia da covid-19. “O presidente está assinando este projeto de lei para restaurar os benefícios de desemprego, interromper os despejos, fornecer assistência para aluguel (…), devolver nossos funcionários de companhias aéreas de volta ao trabalho e adicionar, substancialmente, mais dinheiro para a distribuição de vacinas, e muito mais”, declarou Judd Deere, porta-voz da Presidência dos Estados Unidos.

Pouco antes de sancionar o pacote, Trump fez um comunicado à imprensa. “Vou assinar o pacote Omnibus e Covid com uma mensagem forte, que deixa claro para o Congresso que os itens inúteis precisam ser removidos”, declarou. “Vou enviar de volta ao Congresso uma versão destacada em vermelho, item por item, acompanhada de um pedido formal de revogação, insistindo que aqueles fundos sejam removidos do projeto de lei”, acrescentou. Entre os trechos destacados pelo presidente no documento, está a exigência de se aumentar o pagamento direto por pessoa de US$ 600 (R$ 3,1 mil) para US$ 2 mil (R$ 10,4 mil). No dia seguinte à aprovação no Congresso, o republicano classificou o texto como uma “vergonha” e anunciou que não assinaria o documento.

Líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell afirmou aplaudir a decisão de Trump. “Estou feliz com o fato de o povo americano receber essa assistência tão necessária, enquanto nossa nação segue lutando contra a pandemia”, escreveu na rede social. Caso Trump não assinasse o projeto de lei até a meia-noite de hoje, o Congresso poderia ser forçado a decretar o shutdown (paralisação temporária do governo). A relutância do presidente fez com que 12 milhões de norte-americanos perdessem momentaneamente o benefíco de desemprego. Agora, essa parcela da população receberá o benefício por mais 11 semanas.

É o caso de Dakota Grainger, 24 anos, desempregado desde o início da pandemia. Morador de Tampa, na Flórida, ele trabalhava em uma empresa que organiza formaturas. “Passaram-se oito meses. A ajuda emergencial de US$ 600 expirou em julho. Tenho vivido com US$ 275 por semana. Em algumas noites, simplesmente não como”, disse ao Correio. Para ele, a assinatura do pacote é “um começo”. “Mas, os Estados Unidos precisarão fazer mais para ajudar a população. Depois que Joe Biden prestar juramento, ele terá de fazer mais do que prometeu. Nós estamos nos afogando em dívidas”, lamentou. “Eu não me sinto aliviado, mas terei um tempo para respirar. Esse esforço representa o mínimo para o povo americano. Tira um pouco do estresse, mas não estou nem um pouco aliviado”, acrescentou.

Em Theodore (Alabama), Dianna Scott, 48, não trabalha há 222 dias e receberia a última parcela de ajuda desemprego nesta semana. “Por um lado, estou agradecida, porque o benefício estará disponível. Por outro lado, não tenho ideia sobre o motivo pelo qual esperaram até hoje. A menos que Trump acredite que McConnell não permitirá, no Senado, a aprovação de uma lei para repassar o cheque de US$ 2 mil a cada cidadão”, comentou à reportagem.

Além do corte no benefício aos desempregados e do risco de shutdown, a resistência de Trump em sancionar o projeto de lei aprovado pela Câmara dos Representantes e pelo Senado poderia custar o despejo de várias famílias norte-americanas, impossibilitadas de arcar com a hipoteca. A moratória que evitaria tal situação venceria em 72 horas.

Cerca de uma hora depois do anúncio da Casa Branca, o presidente eleito, Joe Biden, fez um pronunciamento, divulgado em vídeo, por meio de seu perfil no Twitter. “Como uma nação, nós certamente ficamos abalados em nossas profundezas neste ano. Agora, é hora de despertar, de nos mover, é tempo de esperança. Nós atravessamos momentos duros, antes, neste país. E também conseguiremos sair desses tempos difíceis”, declarou. O democrata defendeu que as diferenças partidárias sejam colocadas de lado e que todos trabalhem pelo interesse da segurança nacional. “Depois de um ano de dor e de perdas, é hora de nos unirmos, de nos curarmos e de reconstruirmos”, disse.

Professor de economia da Universidade de Yale e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2013, Robert Shiller explicou ao Correio que o fim do seguro desemprego seria ainda mais dramático em época de pandemia. “Isso criaria muitas dificuldades, caso se prolongasse por muito tempo. Várias pessoas fizeram planos presumindo a continuação do pagamento do benefício. Elas ficariam sem recursos”, comentou. Segundo Shiller, a sanção do pacote de estímulo econômico terá um efeito psicológico importante. “Será uma evidência de uma sociedade solidária”, observou.

 

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 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

“Talvez, Trump tenha recebido a mensagem de que o seu fracasso em assinar o pacote de estímulo econômico diretamente impactaria muitos de seus simpatizantes e somente ele seria responsabilizado por isso. Trump gosta de exibir seu julgamento independente, mas, às vezes, reage quando está realmente a ponto de cometer um grave erro.”
Robert Shiller, professor de economia da Universidade de Yale e Prêmio Nobel de Economia em 2013


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