Com quase 12 mil mortes, a violência na Venezuela foi “mais letal” do que a pandemia da covid-19, segundo o Observatório Venezuelano da Violência (OVV), referência no país pela falta de dados oficiais sobre a criminalidade. Em 2020, foram registradas 11.891 mortes violentas — 45,6 por 100 mil habitantes —, afirmou um relatório anual da entidade apresentado ontem. O número representa uma redução em relação a 2019, mas ainda é muito superior à média global e regional. A queda deveu-se, sobretudo, à pandemia, mas a Venezuela se mantém como o país da América Latina com mais mortes violentas.
“Em 2020, a Venezuela foi castigada por duas epidemias: a de covid-19 e também a epidemia da violência”, disse Roberto Briceño-León, presidente do OVV. “Quando a gente observa os dados, vemos que a epidemia de violência foi 11 vezes mais letal do que a epidemia de covid-19”, acrescentou, citando uma estatística de quatro mortos pela covid-19 por 100 mil habitantes no país. Até o fechamento desta edição, o governo venezuelano tinha reportado 112.636 casos da covid-19 e 1.018 mortes.
Do total de mortes violentas, 4.231 (35,5%) ocorreram nas mãos da polícia, no que se classifica como “resistência à autoridade”, acima dos homicídios, que somaram 4.153; e as chamadas “mortes em investigação” — 3.507. “Pela primeira vez, foram mais os mortos pela polícia do que os assassinados pelos delinquentes”, acrescentou Briceño-León, ao alertar que a violência policial “se generalizou”. “Em 12 (dos 24) estados do país, a polícia matou mais do que os delinquentes”, acrescentou o sociólogo. “Em 18 municípios do país, não houve homicídios cometidos por delinquentes, mas houve vítimas de violência policial.”
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