Flavivírus

Anticorpo-chave contra a dengue

Correio Braziliense
postado em 07/01/2021 20:56
 (crédito: Evaristo Sá/AFP)
(crédito: Evaristo Sá/AFP)

Pesquisadores da Universidade de Queensland (UQ), na Austrália, descobriram um anticorpo com potencial para prevenir e tratar doenças transmitidas por flavivírus, como dengue e zika. Em laboratório, essa imunoglobulina, chamada NS1, melhorou a taxa de sobrevivência de camundongos infectados e reduziu a presença de vírus na circulação sanguínea.
“Fizemos uma descoberta em 2015, após o surto de zika, quando identificamos um novo alvo para tratamentos com flavivírus, uma proteína viral chamada NS1”, diz Daniel Watterson, da Escola de Química e Biociências Moleculares da UQ. “Agora, mostramos, pela primeira vez, que um único anticorpo NS1 pode ser protetor contra vários flavivírus, incluindo dengue, zika e febre do Nilo Ocidental. Nenhum outro mostrou uma gama tão ampla. A proteção aprimorada que vimos, em comparação com os tratamentos existentes, foi realmente inesperada”, comemora.
Estima-se que 390 milhões de pessoas sejam infectadas com dengue em todo o mundo a cada ano, principalmente em áreas tropicais e subtropicais, como o Brasil. Desses casos, cerca de meio milhão de pessoas desenvolvem uma forma mais grave da doença, que pode ser fatal. Watterson ressalta que a descoberta é importante, pois o desenvolvimento de uma vacina para um vírus como o da dengue é um desafio global ainda não respondido.
“A criação de vacinas e terapias tem sido muito dificultada porque os anticorpos que têm como alvo a principal proteína do envelope viral também podem aumentar a doença”, explica. “Esse fenômeno é chamado realce dependente de anticorpos (ADE) e contribuiu para as complicações decorrentes da implantação, em larga escala, da primeira vacina licenciada contra a dengue. Mas, como os anticorpos NS1 não conduzem à ADE, nossas descobertas fornecem o modelo para vacinas de amplo espectro novas e seguras contra vários flavivírus, incluindo o da dengue.”

Novos surtos

O autor principal da UQ, Naphak Modhiran, acrescenta que o anticorpo também pode fornecer a primeira linha de defesa em futuros surtos virais em todo o mundo. “O anticorpo liga-se a uma ampla gama de flavivírus, incluindo o vírus Usuto, na Europa, e os Rocio e Ilhéus, na América do Sul. Esses vírus já causaram surtos locais no passado e têm potencial para ser a próxima zika.”
O coautor Paul Young conta que anticorpos para flavivírus têm sido desenvolvidos em seu grupo há mais de 30 anos. “Desde então, eles forneceram várias informações sobre a biologia da dengue e foram empregados no desenvolvimento de diagnósticos. É ótimo vê-los, agora, progredindo como modelos potenciais para a terapêutica. Isso destaca a natureza crítica da pesquisa, o fornecimento da base para a tradução na prática clínica.”

“Mostramos, pela primeira vez, que um único anticorpo NS1 pode ser protetor contra vários flavivírus, incluindo dengue, zika e febre do Nilo Ocidental. Nenhum outro mostrou uma gama tão ampla”

Daniel Watterson, pesquisador da Universidade de Queensland

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