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Vacinação contra covid: três gargalos que países já estão enfrentando

Governantes estão enfrentando problemas logísticos para conseguir, em pouco tempo, a vacinação em massa

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BBC - Coronavirus
postado em 13/01/2021 17:10

O começo de 2021 está sendo marcado pela corrida mundial entre países para vacinar suas populações e pôr fim à pandemia.

Israel, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, China, Rússia, Itália, Canadá são alguns dos países que já começaram a imunizar suas populações.

Algumas metas são ambiciosas. Israel quer se tornar o primeiro país a acabar com a covid-19 por meio de vacinação. Já o governo britânico — que aprovou três vacinas contra covid-19 — anunciou no fim de semana que sua meta é vacinar toda a população adulta até meados de setembro.

Mas garantir a vacinação da população não significa apenas assegurar a compra de doses das vacinas já aprovadas por autoridades sanitárias — como os produtos de Oxford-AstraZeneca, Pfizer-BioTech, Moderna, entre outros.

Governantes estão enfrentando problemas logísticos para conseguir, em pouco tempo, a vacinação em massa.

No Brasil, o governo de São Paulo já anunciou que pretende começar a vacinar contra covid no dia 25 de janeiro, mas até o momento a Anvisa ainda não aprovou nenhum imunizante.

Confira abaixo alguns dos gargalos logísticos que os governos estão enfrentando.

1) Frascos

Uma das primeiras preocupações é a falta de frascos de vidro para as vacinas.

As vacinas precisam passar por um procedimento chamado "fill and finish" — de preenchimento dos frascos e empacotamento final, para envio aos hospitais e postos de vacinação.

As farmacêuticas que produzem as vacinas não costumam ter a capacidade de cuidar dessa etapa, por isso empresas terceirizadas são contratadas.

Esse é um problema histórico de outras campanhas de vacinação. Em 2012, o governo dos EUA passou a investir na criação de redes especializadas nesse processo de "fill and finish", que serviriam para finalizar vacinas em casos de emergências de saúde, como pandemias.

Uma das redes, a Fill Finish Manufacturing Network (FFMN), tem capacidade para finalizar 117 milhões de doses em um prazo de 12 semanas.

Mas nem todos os países têm essa capacidade. E para complicar a situação, autoridades estão alertando para a falta de vidro para os frascos, que é a matéria-prima dessa indústria.

O assunto foi levantado na semana passada pelo vice-chefe médico do governo britânico, Jonathan Van-Tam.

"Muitos de vocês já sabem que não se trata apenas de produzirmos vacinas. Também precisamos de 'fill and finish', que é um recurso em escassez crônica no mundo hoje."

Na semana passada, o Reino Unido havia produzido 15 milhões de doses da vacina de Oxford-AstraZeneca, mas apenas 4 milhões delas haviam passado pelo processo de "fill and finish".

Van-Tam disse que essa escassez pode retardar as metas de vacinação do governo britânico, mas não deu detalhes sobre o tamanho do problema atual.

Como os contratos entre as farmacêuticas e as empresas de "fill and finish" são sigilosos, não há dados públicos para se saber como esse gargalo pode afetar a oferta de vacinas para a população.

A associação britânica de empresas produtoras de vidro, a British Glass, reconheceu que existe o problema afirmou que está em busca de uma solução "de longo prazo" para garantir o suprimento de vidros para os frascos de vacina.

A maior produtora de vidro borossilicato — a matéria-prima dos frascos — vem aumentando a sua produção desde que a pandemia começou, antes mesmo de existir uma vacina. A alemã Schott abriu no mês passado outra fábrica na China para atender a demanda mundial pelo seu produto, que deverá ser usado em 75% das vacinas de covid no mundo.

2) Vacinadores

Um problema para alguns países é a falta de pessoas para vacinar a população.

No Reino Unido, as vacinas ficaram prontas antes que as autoridades tivessem um plano para administrar as doses na população.

Vacinaca
Reuters
Ter pessoas capacitadas para administrar doses segue um desafio

O país passou a convocar pessoas da área médica — como médicos aposentados e dentistas — para ajudar a vacinar a população. No entanto, uma série de entraves burocráticos impediram muitos de se voluntariar.

O sistema nacional de saúde exige uma série de documentos e a realização de dezenas de cursos online para uma pessoa poder ajudar a vacinar.

Entre as exigências estão cursos que tratam sobre como lidar com radicalização ideológica e como proteger crianças — sendo que crianças não receberão as vacinas para covid.

Alguns médicos aposentados que já estavam administrando a vacina em lares de idosos não receberam permissão para virarem voluntários no sistema nacional de saúde.

Muitos voluntários acabaram desistindo de ajudar.

Na semana passada, o secretário britânico de Saúde, Matt Hancock, prometeu acabar com diversas exigências para voluntários de vacinação, como treinamentos em terrorismo e incêndios.

Já na Espanha, o Conselho Nacional de Enfermagem (CNE) do país afirma que o número de vacinadores é suficiente para lidar com a pandemia. Mas a entidade critica o governo por não coordenar de forma eficiente a campanha e vacinação.

"Há grande disparidade regional na imunização da população nesta primeira semana. Um exemplo claro é [a província de] Astúrias, que tem uma proporção de 6,5 enfermeiras por mil habitantes e administrou 80% das doses recebidas. Entretanto, Madrid, com 6,7 enfermeiros por mil habitantes, uma proporção superior à das Astúrias, utilizou apenas 11,5 das suas doses", afirma o CNE.

A Espanha recentemente convocou o Exército para ajudar a entregar as doses de vacina em lugares mais remotos do país, depois que uma forte nevasca atrapalhou a logística de distribuição dos imunizantes.

Diversos países como Alemanha, Itália, Reino Unido e Israel estão enfrentando um problema adicional: as vacinações acontecem em um momento de forte aumento no número de hospitalizações. As autoridades estão tendo que deslocar mais recursos e profissionais para lidar com pacientes de covid-19 — inclusive com o cancelamento de diversos procedimentos não-urgentes.

3) Seringas

Governos estão correndo também para garantir o suprimento de seringas. É o caso do Brasil, que zerou a alíquota de importação de seringas e está atualmente em uma queda de braço com empresas produtoras, após o fracasso de um leilão no mês passado. Outros países onde há relatos de deficiências no número de seringas são Coreia do Sul, Itália e Grécia.

Na semana passada, um novo problema surgiu envolvendo seringas.

A Agência Europeia de Medicina alertou que muitos países estão usando seringas erradas para vacinação, que extraem apenas cinco doses dos frascos da Pfizer, e que uma sexta dose está sendo desperdiçada. A agência também fez um alerta que as sobras de vacina nos frascos não devem ser juntadas para formar uma nova dose completa.

O jornal The New York Times noticiou que autoridades americanas ainda não compraram as seringas certas, que permitiriam um aumento de 20% no número de doses disponíveis para sua população.

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