ESTADOS UNIDOS

Votação de republicanos pelo impeachment de Trump abre racha no partido

Deputados governistas pressionam pela renúncia da colega Liz Cheney, terceira liderança do partido, depois de votar pelo segundo impeachment de Trump. Senadora Lisa Murkowsky acena com apoio à condenação do presidente

Rodrigo Craveiro
postado em 15/01/2021 06:00
 (crédito: AFP / MANDEL NGAN)
(crédito: AFP / MANDEL NGAN)

A união e a lealdade dentro do Partido Republicano parecem ter se estilhaçado com a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro. Dez dos 201 deputados governistas votaram a favor do impeachment do presidente Donald Trump, na quarta-feira, enquanto quatro se abstiveram. A acusação formal contra magnata por incitamento à insurreição provocou mal-estar nas fileiras do partido, fundado em 20 de março de 1854. Segundo o jornal The New York Times, um grupo ultraconservador de aliados de Trump na Câmara dos Representantes, pediu a renúncia da deputada Liz Cheney do posto de terceira liderança republicana. A demanda partiu do ultraconservador Freedom Caucus (“Caucus da Liberdade”, pela tradução livre), que acusa Liz Cheney de semear “descrédito e discórdia” interna, por destoar da maioria do partido durante a votação.

“Um desses 10 não pode ser nosso líder. Isso é insustentável, precisamos trocar a liderança”, declarou à emissora Fox News Max Gaetz, deputado republicano pela Flórida e membro do grupo. Líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy se opôs à remoção de Cheney, o que acirrou a tensão partidária. “Não vou a lugar nenhum. Este é um voto de consciência. Existem diferentes pontos de vista em nosso partido. Mas, nosso país enfenta uma crise sem precedentes, desde a Guerra Civil, uma crise constitucional. É nisso que precisamos estar focados”, afirmou a jornalistas, antes da votação de anteontem. Ao justificar o voto pela acusação a Trump, a congressista disse que “nunca houve traição maior, por parte de um presidente dos Estados Unidos, ao seu cargo e ao seu juramento”.
Adam Kinzinger, colega de Cheney na Câmara e no partido, elogiou a congressista e assegurou que ela ganhou “respeito imensurável”. Também defendeu que os republicanos discutam sobre quais integrantes da legenda fomentaram a invasão ao Capitólio e avaliem os papéis de suas lideranças.

A fratura dentro do Partido Republicana deverá ficar mais evidente após o julgamento de Trump no Senado — a decisão da Câmara Alta dos Estados Unidos pode custar os direitos políticos do presidente. Ontem, a senadora republicana Lisa Murkowsky classificou como “apropriado” o impeachment do titular da Casa Branca e indicou que apoiará a condenação de Trump. Para ela, o incitamento à violência, a profanação do Capitólio e a resistência em garantir uma transição de poder pacífica são “ações ilegais que não podem ficar sem consequência”. A votação não deverá ocorrer antes de 20 de janeiro, data da posse do democrata Joe Biden.

Em entrevista ao Correio, Christopher McKnight Nichols —historiador da Universidade Estadual do Oregon e coautor de Rethinking American Grand Strategy (“Repensando a Grande Estratégia Americana”, pela tradução livre) — avalia ser muito complexo prever os rumos do Partido Republicano. “Há fortes incentivos no sistema político americano para preservar a coesão e não ampliar a divisão. No entanto, é claro que o governo Trump e os históricos eventos do ataque ao Capitólio fragmentaram ainda mais o partido. Trump segue como o mais importante republicano, com forte base de apoio”, afirmou. “A história das presidências dos EUA sugere que ex-presidentes perdem o poder rapidamente. Isso parece ser muito provável com Trump, especialmente na esteira dos devastadores incidentes de 6 de janeiro, que reduziram o apoio ao magnata para o nível mais baixo, pouco mais de 30%.”

Posse

A apenas cinco dias da posse do democrata, seguem os preparativos para a cerimônia, maculada pela pandemia da covid-19 e pelos incidentes no Capitólio. A segurança foi significativamente reforçada em Washington, e o Pentágono autorizou o envio de até 20 mil efetivos da Guarda Nacional. No National Mall, a imensa esplanada situada diante do Congresso, haverá um “campo de bandeiras” representando “os cidadãos americanos” que não poderão presenciar a solenidada ao vivo. Nos últimos dias, o FBI (polícia federal americana) descobriu que milícias de extrema-direita e simpatizantes de Trump preparam “protestos armados” em Washington e em 50 estados.

Lady Gaga e Jennifer Lopez cantarão na posse de Biden

As estrelas do pop Lady Gaga e Jennifer Lopez são algumas das atrações na cerimônia de posse de Joe Biden, na próxima quarta-feira, em Washington. Lady Gaga cantará o hino nacional dos Estados Unidos na escadaria do Capitólio. Depois, Lopez realizará uma performance musical, anunciou o comitê organizador da campanha. Lady Gaga, a quem o presidente eleito chama de “grande amiga”, apresentou-se no último grande comício do democrata. Quando Biden era vice-presidente de Barack Obama, eles trabalharam juntos em uma campanha contrao assédio sexual. A cerimônia de posse do 46º presidente dos Estados Unidos será diferente de qualquer outra. Em meio à pandemia da covid-19 e após a invasão ao Capitólio, os organizadores e a prefeitura pediram ao povo que não saia as ruas e que acompanha o evento por meio da televisão e da internet.

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Plano para a economia

Determinado a retirar os Estados Unidos da pior crise em mais de oito décadas, o presidente eleito, Joe Biden, apresentou, ontem, um novo pacote de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão (cerca de US$ 9,8 trilhões), o qual será seguido por ambicioso plano de investimentos. A ideia é que o Congresso aprove o plano imediatamente depois da posse do democrata, na próxima quarta-feira. O pacote prevê que cada norte-americano receberá um cheque de US$ 1,4 mil (ou R$ 7,2 mil), com base na renda pessoal.
O plano de US$ 900 bilhões (R$ 4,6 trilhões) adotado em dezembro, considerado um “pagamento inicial” por Biden, havia colocado US$ 600 (R$ 3,1 mil) no bolso de cada cidadão. Os democratas exigiram US$ 2 mil (R$ 10,4 mil). O texo também contempla a ampliação da suspensão dos despejos e das execuções hipotecárias de aluguéis para até o fim de setembro, bem como o reforço da ajuda alimentar.
O futuro presidente democrata espera aumentar o salário mínimo para US$ 15 a hora no âmbito federal, mais do que o dobro dos US$ 7,25 atuais. Uma alocação de US$ 350 bilhões (ou R$ 1,8 trilhão) está prevista para permitir às autoridades locais e nacionais manter o emprego de professores, policiais, bombeiros e trabalhadores da saúde pública.
Em relação à pandemia da covid-19, Biden anunciou a aceleração do ritmo dos testes de diagnóstico e da imunização contra o Sars-CoV-2, para permitir a retomada da atividade econômica. A estimativa é de que serão necessários meses para que restaurantes, bares, hotéis e companhias aéreas recuperem o nível normal de atividade. A reabertura das escolas também é uma prioridade para Biden. Ele fixou um prazo de 100 dias para que a maioria dos estudantes retornem à instituição. A pandemia cobrou alto preço das mulheres, que viram-se obrigadas a renunciar ao trabalho para tomar conta dos filhos.
O plano de estímulo econômico deverá responder à emergência sanitária nos EUA — a covid-19 infectou 23, 2 milhões de norte-americanos e matou 387 mil. A iniciativa terá que criar milhões de empregos “bem remunerados” prometidos por Biden durante a campanha, responder à emergência climática e reduzir as desigualdades raciais.

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