Europa

Partido de Merkel aposta no continuísmo

Armin Laschet é escolhido novo presidente da CDU, partido da líder alemã, e desponta como potencial candidato para substituí-la no comando da Chancelaria do país

Correio Braziliense
postado em 16/01/2021 22:37
 (crédito: Odd Andersen/AFP)
(crédito: Odd Andersen/AFP)

O resultado da eleição para a escolha do novo presidente da União Democrata Cristã (CDU), o partido conservador de Angela Merkel, sinaliza que a sigla vai apostar no continuísmo para não perder o comando da Chancelaria alemã. Armin Laschet, que defende a manutenção da linha política adotada por Merkel, foi eleito, ontem, para o cargo com 521 votos, de um total de 1.001. Segundo colocado na disputa, Friedrich Merz defendia um giro à direita no partido e obteve o apoio de 466 delegados.

O pleito para o comando da CDU é decisivo para o futuro da Alemanha, já que o vencedor ocupa posição estratégica com relação ao futuro da Chancelaria. Tradicionalmente, ele é escolhido pelo partido candidato nas eleições legislativas de 26 de setembro e pode se tornar o sucessor de Merkel, no poder desde 2005. Há, porém, a possibilidade de os conservadores escolherem outro nome.

Laschet aposta na unificação da legenda. Em seu discurso de candidatura, disse que a tarefa do próximo líder dos democratas cristãos é ganhar a confiança para si e para o partido e reforçou sua capacidade de conciliar as alas partidárias. “Precisamos nos integrar, manter a sociedade unida, caminhar todos juntos. Mas não é nada fácil. Para isso, precisamos nos ouvir (…) Só venceremos se continuarmos fortes no centro (…) Quero que nos unamos de novo, que a CDU chegue à Chancelaria em setembro”, disse ontem, após a confirmação da sua vitória.

Os 1.001 delegados tiveram que escolher entre Laschet, Merz e o independente Norbert Rottgen. Os três vêm da mesma região, Renania do Norte-Westfalia, a mais populosa do país.Várias vezes adiada por causa da epidemia, a eleição de ontem se deu de forma digital e será confirmada por votação postal, com resultados juridicamente vinculativos, no próximo dia 22.

Laschet vai substituir Annegret Kramp-Karrenbauer, considerada a herdeira política de Merkel, que renunciou, no ano passado, por não conseguir unir as fileiras do partido. A líder alemã liderou a CDU entre 2000 e 2018 e passou o cargo a Kramp-Karrenbauer. No último à frente do partido, Merkel anunciou que abandonaria o cargo de chanceler em 2021.

Ela manteve-se mais distante da disputa pela presidência da CDU. Chegou a dizer, no ano passado, que Laschet tinha “as ferramentas” para concorrer à Chancelaria. Na última sexta-feira, porém, Merkel declarou apoio a ele, pediu a continuidade de uma linha “centrista” e a rejeição da polarização. O ex-jornalista é favorável à acolhida de migrantes e, se for candidato em setembro, poderá, inclusive, formar uma eventual coalizão com os Verdes, a segunda força do país.

Pandemia
O caminho para a Chancelaria, porém, não será simples. Markus Soder, dirigente do partido aliado União Social Cristã (CSU), também está muito bem colocado. Isso porque se tornou uma das personalidades mais populares do país pela defesa às restrições mais severas na pandemia da covid-19. Laschet, por sua vez, foi criticado pela forma como geriu a crise sanitária em Renania do Norte-Westfalia, região que governa desde 2017. Ele defendeu uma flexibilização das restrições de isolamento social durante a primavera.

Embora negue, Söder sonha que a CDU o convide depois das eleições locais marcadas para março. Se isso ocorrer, poderá se tornar o primeiro chanceler da sua legenda. Segundo Thorsten Faas, professor de ciência política da Universidade Livre de Berlim, a CDU, que é o maior partido político da Alemanha, tem “opções muito boas para apresentar à Chancelaria”. Segundo ele, o vencedor das eleições de ontem “dificilmente vai dizer: ‘Markus Söder, por favor, apresente-se’”.

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16 milhões

A Alemanha é o segundo país do mundo com o maior número de migrantes: 16 milhões, atrás apenas dos Estados Unidos, que somaram 51 milhões de imigrantes em 2020. Os dados fazem parte do relatório Migração Internacional 2020, divulgado pelas Nações Unidas na sexta-feira. Ainda de acordo com o documento, a pandemia da covid-19 desacelerou a migração global em quase 30%, com cerca de 2 milhões de migrantes a menos entre 2019 e 2020. No ano passado, 281 milhões de pessoas viviam fora de seu país de origem.

Líderes à espera das vacinas

 (crédito: Georges Gobet/AFP)
crédito: Georges Gobet/AFP

Autoridades de saúde europeia temem que o atraso na entrega de vacinas contra a covid-19, anunciado pelo grupo americano Pfizer e laboratório alemão BioNTech, comprometa o enfrentamento à pandemia na região. Ontem, os desenvolvedores da fórmula informaram que a implementação de um “plano” limitará em uma semana o retardo na entrega dos imunizantes. A Europa, porém, teme um prazo maior. Berlim mencionou uma redução “de três a quatro semanas”.

“Voltaremos ao calendário inicial de entregas na União Europeia a partir da semana de 25 de janeiro, com um aumento de entregas a partir da semana de 15 de fevereiro”, afirmaram as duas empresas em comunicado conjunto. A mudança nos calendários foi anunciada na sexta-feira, devido à realização de obras em uma fábrica de produção da vacina em Puurs, na Bélgica.

A Itália, país da UE que mais imunizou a população, terá redução de 29% na entrega do imunizante, e o governo promete processar as empresas pelo descumprimento do contrato. A União Europeia (UE) firmou um acordo com as empresas para receber 12,5 milhões de doses da vacina, o suficiente para vacinar 6,25 milhões de pessoas. O aumento dos registros de novos infectados e mortes na região e a disseminação da cepa mais contagiosa do Sars-CoV-2 pelo continente têm aumentado a pressão para que as imunizações sejam aceleradas.

A França, por exemplo, ultrapassou o marco de 70 mil óbitos em função da covid-19. Na tentativa de frear o novo coronavírus, o país implementou um toque de recolher geral às 18h de ontem, duas horas antes do previsto. Portugal, por sua vez, deu início a um novo confinamento generalizado na sexta-feira, mas mantém as escolas abertas.

Entre os países que vivenciaram mudanças preocupantes nos registros de casos estão Espanha, com aumento de 168%, e Alemanha, que tem a taxa de morte per capita em razão da covid-19 maior que a dos Estados Unidos, país com os maiores números da crise sanitária. Desde meados de dezembro, cerca de 15 a cada 1 milhão de alemães morreram. Nos EUA, essa proporção é de 13 a cada 1 milhão.

Apesar da alta nos números, cerca de 10 mil pessoas fizeram um protesto ontem, nas ruas de Viena, contra o uso das máscaras e as medidas sanitárias. O grupo pedia também que o chanceler Sebastian Kurz renunciasse ao cargo. No fim de dezembro, ele decretou o terceiro confinamento. Desde então, locais não essenciais, como espaços culturais, quadras esportivas, escolas e universidades, estão fechados. Com 8,9 milhões de habitantes, a Áustria registrou, até ontem, 7.053 mortes por covid-19.

Índia dá início à imunização

A Índia começou ontem uma grande campanha de vacinação contra o coronavírus. O objetivo é inocular, inicialmente, 300 milhões de pessoas — o segundo país mais populoso do mundo tem 1,3 bilhão de habitantes. Profissionais da saúde e os grupos mais vulneráveis serão os primeiros a serem imunizados, somando cerca de 30 milhões de pessoas. Só ontem, a estimativa era de aplicar a primeira dose em 300 mil pessoas. Segundo as autoridades, as experiências em organizar eleições e campanhas de vacinação infantil servirão para ajudar na enorme imunização em massa. Cerca de 150 mil trabalhadores, em 700 distritos, foram treinados para essa primeira etapa da campanha. O país contabiliza mais de 150 mil mortes em função da doença.

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