Foi em um vídeo de 19 minutos de duração, divulgado no fim da tarde de ontem, que o presidente Donald Trump despediu-se dos quatro anos à frente da Casa Branca, a poucas horas de deixar o cargo. Sem mencionar o nome do sucessor, o democrata Joe Biden, a quem jamais parabenizou pela vitória nas urnas, o magnata republicano pediu aos americanos orações pelo sucesso do novo governo, mas deixou explícita a intenção de permanecer na política.
“Esta semana, inaugura-se uma nova Presidência e rezemos pelo seu sucesso para que os Estados Unidos continuem sendo um lugar seguro e próspero. Estendemos nossos melhores votos e também queremos que tenham sorte, uma palavra muito importante”, afirmou Trump, na mensagem veiculada no canal da Casa Branca no YouTube. “Enquanto nos preparamos para transmitir o cargo ao novo governo, quero que saibam que o movimento que iniciamos está apenas no começo”, acrescentou.
Trump teve um fim de mandato atribulado, com uma inédita invasão do Congresso protagonizada por seus seguidores, o que lhe rendeu um novo processo de impeachment, no início do mês. No pronunciamento de ontem, ele não admitiu responsabilidades no episódio, que resultou na morte de cinco pessoas. “Todos os americanos ficaram horrorizados com o ataque ao nosso Capitólio. Violência política é um ataque a tudo que celebramos como americanos. Nunca pode ser tolerada”, enfatizou.
Grande parte da despedida foi uma exaltação das realizações no cenário internacional. Trump celebrou ter restaurado “a força americana em casa, e a liderança americana no exterior”, o que não tem respaldo de analistas políticos.
Frisou, ainda, ter concluído o mandato sem ter se envolvido em conflitos armados. “Estou especialmente orgulhoso de ser o primeiro presidente, em décadas, que não se envolveu em novas guerras”, disse.
Trump, como é de hábito, não poupou críticas à China. Ele assinalou ter unido o mundo frente a Pequim como “nunca antes”. E ao falar sobre a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 400 mil pessoas nos Estados Unidos, usou a expressão “vírus chinês”.
Ausência
Sempre denunciando fraudes nas eleições de novembro passado, em que tentou permanecer no cargo por mais quatro anos, Donald Trump será o primeiro presidente em 152 anos a não transmitir o cargo para o sucessor. Hoje de manhã, ainda presidente, ele participará de uma cerimônia de despedida na Base Aérea Andrews, nos arredores de Washington, onde embarcará pela última vez na aeronave presidencial, o Air Force One, rumo à Flórida.
Trump tampouco recepcionará o novo casal presidencial na Casa Branca, como é tradição. Há quatro anos, ele e a mulher, Melania, foram recebidos por Barack e Michelle Obama na residência oficial. Joe e Jill Biden serão apresentados ao novo lar por Timoth Harleth, administrador do local.
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Melania: "violência nunca é solução"
Enquanto se preparava para deixar a Casa Branca, a primeira-dama Melania Trump divulgou, ontem, uma mensagem de despedida, lembrando que “a violência nunca é a solução”. A mensagem foi considerada, de certa forma, uma alusão à invasão ao Capitólio por partidários do presidente. “Seja apaixonado por tudo que fizerem, mas se lembrem sempre de que a violência nunca é a solução e nunca será justificada”, afirmou.
Em um discurso de seis minutos, gravado em vídeo, ela fez apenas uma referência ao marido, ao prestar uma homenagem às famílias de militares, profissionais de saúde e aqueles que ajudam as vítimas do abuso de opioides. “Os últimos quatro anos foram inesquecíveis”, disse.
“No momento em que Donald e eu concluímos nossa estada na Casa Branca, penso em todas as pessoas que guardei em meu coração e em suas incríveis histórias de amor, patriotismo e determinação”, elogiou. “Quando cheguei à Casa Branca, refleti sobre a responsabilidade que sempre tive como mãe de estimular, dar força e ensinar os valores da bondade”, acrescentou.
Enigmática
“A promessa desta nação pertence a todos nós que não perdemos de vista nossa integridade e valores, que aproveitamos todas as oportunidades para mostrar consideração pelos outros e que adotamos bons hábitos no dia a dia”, completou Melania Trump.
Nos quatro anos em que o marido foi presidente dos Estados Unidos, a ex-modelo, de 50 anos, sempre primou pela discrição. Isso, no entanto, não impediu que a primeira-dama americana fosse criticada por suas palavras e por suas roupas.
Em um livro publicado em 2019, a repórter da CNN Kate Bennett afirmou que a terceira esposa de Trump é “muito mais poderosa e influente com o marido” do que o público imagina. Em 2018, ela pediu abertamente a demissão de um conselheiro sênior do presidente. Isso foi feito. Mas Melania permaneceu, em grande parte, um enigma — pelo menos em termos políticos.
Quando ela se colocou, intencionalmente, no centro das atenções, recebeu críticas. Sua campanha contra o bullying “Be Best”, um papel característico de primeira-dama, não foi bem recebida. Nem mesmo suas escolhas de moda foram aprovadas, gerando uma longa série de comentários e especulações.
Melanija Knavs, seu nome de batismo, nasceu em abril de 1970 na Eslovênia, então parte da Iugoslávia. Sua mãe trabalhava na indústria da moda, e seu pai era vendedor de carros. Ela estudou design e arquitetura antes de partir para Milão e Paris para iniciar sua carreira de modelo. Isso a levou aos Estados Unidos, em 1996, onde dois anos depois conheceu Trump. Ela sempre disse que tornar-se cidadã americana, em 2006, foi “o maior privilégio do planeta Terra”.
Curtas12
Magnata acirrou os ânimos, diz McConnell
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel (foto), afirmou, ontem, que Donald Trump provocou a multidão que atacou o Capitólio, em 6 de janeiro, quando parlamentares certificavam a vitória eleitoral do democrata Joe Biden. “A multidão foi alimentada com mentiras”, disse o legislador, em discurso no Senado. “Foram provocados pelo presidente e outras pessoas poderosas”, acrescentou McConnell, um aliado fiel de Trump por quatro anos. Cinco pessoas morreram durante a invasão ao Capitólio. O episódio rendeu um novo processo de impeachment contra Trump, aberto pela Câmara dos Representantes no dia 13. Em dezembro de 2019, o presidente foi acusado de “abuso de poder” e “obstruir o bom funcionamento do Congresso” por pedir à Ucrânia que investigasse a suposta corrupção vinculada a Biden. O Senado, de maioria republicana, o absolveu.
O último ato contra Maduro
A poucas horas do fim do mandato, Donald Trumpdesferiu mais um golpe contra a Venezuela de Nicolás Maduro, cuja autoridade ele desconhece. O governo republicano, que multiplicou, em vão, a pressão para tirar Maduro do poder, por considerar sua reeleição fraudulenta, sancionou uma rede acusada de contornar o embargo americano ao petróleo venezuelano. O Tesouro anunciou medidas punitivas financeiras contra três pessoas, 14 entidades e seis embarcações indicadas para fazerem parte dessa rede, que afirma ter vínculos com o México. O chefe da diplomacia dos EUA, Mike Pompeo, disse que isso visa “limitar ainda mais as opções do regime ilegítimo de Maduro de vender petróleo”.
Vogue publicará nova capa de Kamala Harris
Sob críticas por uma capa em que trazia a futura vice-presidente usando jeans, blaser e tênis All Star, o que muitos consideraram falta de respeito, a revista Vogue anunciou que publicará uma nova primeira página, mais formal, com uma foto de Kamala Harris. Uma edição limitada, com a nova capa, celebrará um “momento histórico”, a posse de Joe Biden e Harris. A revista, dirigida pela papisa da moda Anna Wintour, buscou uma foto mais formal, que mostra Kamala diante de cortinas douradas, com um terno azul de Michael Kors e de braços cruzados. A imagem tinha sido descartada para a edição impressa de fevereiro e usada somente na versão digital.