EUA

Trump sai de cena com a promessa de retorno em breve

Em discurso na base de Andrews, de onde seguiu para a Flórida, o ex-presidente Donald Trump reafirmou sua intenção de permanecer no cenário político. Cerimônia de despedida, com salva de tiros, foi esvaziada por causa da posse do democrata Joe Biden

Nahima Maciel
postado em 21/01/2021 06:00
 (crédito: AFP / ALEX EDELMAN)
(crédito: AFP / ALEX EDELMAN)

Foi ao som de YMCA, do grupo Village People, que Donald Trump subiu pela última vez no Air Force One em direção a Mar-a-Lago, na Flórida, onde decidiu morar. Depois de um discurso no qual elencou suas atuações à frente do governo americano, o agora ex-presidente se despediu dizendo: “Tenham uma boa vida, nos vemos em breve”.

Depois de divulgar um vídeo de 20 minutos, na tarde de terça-feira, no qual avisava que “o movimento que iniciamos está apenas no começo” e de anunciar a vontade de criar um novo partido, Trump reafirmou a intenção de voltar à arena política.

“Eu só quero dizer adeus, mas espero que não seja um adeus de longo prazo”, disse aos repórteres na Casa Branca, antes de embarcar no helicóptero Marine One com a mulher, Melania Trump, em direção à Base Conjunta Andrews, na qual era aguardado para uma cerimônia de despedida com direito a salva de tiros, música pop e a presença da família e alguns convidados.

Na base, em seu último discurso como presidente, o magnata republicano falou sobre como seu governo melhorou a vida dos veteranos e abaixou os tributos. “Espero que eles não aumentem seus impostos, mas se o fizerem, eu avisei”, disse, antes de se elogiar por ter sido o responsável por conseguir que as vacinas contra o coronavírus fossem produzidas em menos de um ano. Ao longo de toda a pandemia, Trump minimizou o vírus, que voltou a chamar de chinês ao longo do discurso, desprezou o uso de máscaras, uma das medidas de contenção da doença, e receitou remédios sem eficácia comprovada, como a cloroquina, além de sugerir injeções de água sanitária como forma de prevenção.

Trump foi o primeiro presidente a não comparecer à posse de seu sucessor em 152 anos. A decisão também ajudou a esvaziar a cerimônia organizada por ele para sua própria despedida. Convidadas, figuras importantes do partido Republicano, como o líder no Senado, Mitch McConnell, e Kevin McCarthy, líder da bancada, declinaram porque preferiram comparecer à posse de Joe Biden.

Durante a cerimônia militar na base de Andrews, Trump voltou a desejar “boa sorte e muito sucesso” ao novo governo, novamente sem citar Biden pelo nome. “Foram quatro anos incríveis”, disse Trump a assessores, simpatizantes e parentes reunidos no local, após uma saudação de 21 tiros seguida da música Salute to the Chief.

“Conseguimos muito juntos”, disse ele. “Sempre lutarei por vocês. É minha maior honra e privilégio ter sido seu presidente.” Antes de partir para a Flórida, Trump encorajou seus seguidores, afirmando: “Vamos voltar de alguma forma”. A decolagem do avião presidencial Air Force One coincidiu com o início de uma missa que reuniu Biden e líderes democratas e republicanos do Congresso antes da transferência do comando.

Carta

Segundo um porta-voz do Executivo americano, Donald Trump seguiu a tradição de deixar uma carta ao seu sucessor. Foi a única respeitada pelo ex-presidente, que dificultou até mesmo o processo de transição de governo e se recusou, por mais de dois meses, a aceitar sua derrota eleitoral. Trump nunca parabenizou Joe Biden pela vitória.

Na mensagem tradicional deixada no Salão Oval e endereçada ao novo presidente, na época Donald Trump, Barack Obama escreveu, quatro anos atrás: “Somos apenas ocupantes temporários deste cargo. Isso nos torna guardiães de instituições e tradições democráticas, como o Estado de direito, a separação de Poderes, a proteção dos direitos civis pelos quais nossos ancestrais lutaram”. “Boa sorte”, concluiu Obama, dizendo que estava pronto para ajudar “de qualquer maneira”.

Dentre todas essas cartas de presidente a presidente, a deixada, em 20 de janeiro de 1993, pelo republicano George H.W. Bush para seu sucessor democrata Bill Clinton, foi uma marca de dignidade e classe. Evocando seu “sentimento de admiração e respeito” ao entrar no Salão Oval quatro anos antes, ele acrescentou: “Haverá alguns momentos muito difíceis (...) Mas não deixe que os críticos o detenham, ou façam você mudar de curso”.

Indultos

Em sua última atuação oficial como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump concedeu uma série de indultos na madrugada de ontem. Entre os 73 que receberam o perdão, está Steve Bannon, seu ex-conselheiro, como antecipado por vários jornais americanos.

Bannon, 66 anos, foi perdoado da acusação de fraudar cidadãos que doaram dinheiro para construir um muro na fronteira com o México, um dos principais projetos de Trump. Bannon foi também um dos arquitetos da campanha presidencial vitoriosa do magnata, em 2016. Depois de alguns meses no governo, o conselheiro foi afastado de suas funções por Trump. “Bannon tem sido um líder importante no movimento conservador e é conhecido por sua perspicácia política”, diz a nota divulgada pela Casa Branca.

Também receberam o perdão presidencial Elliott Broidy, ex-arrecadador de fundos para Donald Trump, que assumiu violação à lei de lobby, e o rapper Lil Wayne, que declarou-se culpado de posse de arma de fogo e munição, crime passível de pena de até 10 anos de prisão.

Nos últimos meses, Trump perdoou outras pessoas, incluindo colaboradores e associados condenados no âmbito da investigação de um possível conluio de sua equipe de campanha com a Rússia, em 2016.

Nem Trump nem nenhum de seus filhos estão na lista de indultados, possibilidade sobre a qual a imprensa norte-americana especulou bastante nos últimos dias. Além dos indultos, Trump comutou a pena de 70 pessoas.

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