Desde a Segunda Guerra Mundial, a Itália foi liderada por 66 governos, média de quase um por ano. Sem apoio do partido “Itália Viva”, do ex-premiê Matteo Renzi, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, foi forçado a apresentar a renúncia ao presidente, Sergio Mattarella, depois de a coalizão de governo centrista — formada pelo Partido Democrático (PD), pelo Movimento Cinco Estrelas (M5E, antiestablishment) — perder a maioria no Senado. Mattarella deu um prazo de 48 horas a Conte para que tente forjar uma nova coalizão. O êxito dependerá de convencer senadores não alinhados ao governo a aderirem à aliança. Se não conseguir que um ou mais partidos de direita participem da coalizão, Conte terá de recorrer a outras legendas para a sustentabilidade de sua agenda política. Sem consenso, caberá a Mattarella disolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas.
“Renzi está desempenhando um jogo usual na política italiana: utilizar o pequeno partido, crucial na garantia da maioria parlamentar, para ganhar mais poder. É claro que isso desestabiliza o governo, o qual terá que ser fortemente reformulado. O mesmo Conte arrisca sua posição como premiê. No entanto, a Itália é uma democracia parlamentar, e a manobra de Renzi mostra-se perfeitamente legal”, afirma ao Correio Lorenzo Castellani, historiador político da Universidade Luiss Guido Carli, de Roma. O partido de Renzi criticava a resposta de Conte à covid-19 e o plano de mais de 200 bilhões de euros (ou R$ 1,3 trilhão) da União Europeia para a reconstrução da Itália.
Castellani admite que, na segunda onda da pandemia, ocorreram falhas administrativas no rastreamento de infectados, na testagem, na gestão hospitalar e na organização das escolas e dos transportes. Além disso, pondera, que o lockdown não surtiu resultados rápidos. “O cenário mais provável é o de um novo governo, provavelmente com a mesma maioria. O nome a ocupar o cargo de premiê dependerá do acordo entre o “Itália Viva”, o PD, o M5E e a Esquerda Livre Igualitária (LeU). Por enquanto, vejo uma eleição antecipada como uma opção residual”, diz .
Para Angelo D’Orsi, cientista político da Universidade de Torino, a hipótese de um governo de salvação nacional parece ser pouco risível. “A maior possibilidade é uma nova designação do mesmo primeiro-ministro, mas com um governo parcialmente novo. Se Conte fracassar, teremos novas eleições gerais”, explica à reportagem. Até o fechamento desta edição, a Itália registrava 2,4 milhões de infecções pela covid-19 e 85.881 mortes. D’Orsi diz que o governo Conte tem sido acusado de má gestão da crise pandêmica, especialmente após o início da segunda onda. Segundo ele, o premiê centralizou o poder e foi criticado pela oposição de mover o governo da centro-direita para a centro-esquerda. (RC)
Liderança com alta popularidade
Aos 56 anos, Giuseppe Conte, um advogado desconhecido que se tornou premiê por acaso, tornou-se um político habilidoso. Apelidado de “Dom Ninguém”, quando foi nomeado chefe de governo, em junho de 2018, Conte goza de popularidade de 73%, segundo a mais recente pesquisa do canal La7, e 56%, de acordo com sondagem da Ipsos. Muitos italianos o elogiam por sua sobriedade, equilíbrio e capacidade de mediação.
...e britânico faz mea-culpa
No dia em que o Reino Unido ultrapassou a marca dos 100 mil mortos pela covid-19 (até o fechamento desta edição, eram 100.162), o premiê Boris Johnson afirmou: “Lamento profundamente cada vida perdida e, claro, como primeiro-ministro, assumo total responsabilidade por tudo o que o governo fez”. O chefe de governo britânico prestou suas “mais profundas condolências” a todos aqueles que perderam entes queridos, incluindo “pais e mães, irmãos e irmãs, filhos e filhas, e os muitos avós que foram levados”. A Inglaterra é impactada por uma mutação do Sars-CoV-2, que, segundo cientistas, tem pontencial de infecção até 70% maior do que a cepa originária.
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