Os especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que investigam a origem do coronavírus na China visitaram, neste domingo (31), o mercado Huanan de Wuhan, primeiro foco conhecido da pandemia, segundo jornalistas da AFP no local.
Esse mercado, onde eram vendidos animais silvestres vivos, está fechado desde janeiro de 2020, e os guardas só permitiram a entrada dos veículos do grupo investigativo da OMS. Após 14 dias de quarentena, os membros da equipe começaram sua investigação de campo na sexta-feira.
Esta visita é politicamente sensível para Pequim, acusada de ter demorado a reagir aos primeiros casos da covid notificados no final de 2019 na imensa metrópole do centro da China.
O poder comunista pouco comenta sobre o assunto e Pequim minimiza o escopo da missão de especialistas estrangeiros: "Não é uma investigação", declarou na sexta-feira um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
Neste domingo, os especialistas não responderam a perguntas quando chegaram ao mercado. Um deles levantou a janela do carro quando um repórter perguntou o que ele esperava da visita. Membros dos serviços de segurança disseram aos jornalistas presentes na área para saírem.
Um pouco depois, aos repórteres que perguntavam de longe se os especialistas estavam satisfeitos com a visita, um acenou com o polegar.
"Locais muito importantes"
Peter Daszak, um dos membros da missão de investigação, tuitou que a equipe havia realizado "visitas a locais muito importantes, primeiro um mercado atacadista e agora o mercado de Huanan".
"Muito informativo e fundamental para permitir que nossas equipes conjuntas entendam a epidemiologia da covid, como ela começou a se espalhar no final de 2019", acrescentou o presidente da EcoHealth Alliance, associação com sede nos Estados Unidos e especializada em prevenção de doenças.
O jornal nacionalista Global Times publicou um artigo há poucos dias relativizando a importância do mercado de Huanan na origem da pandemia, dizendo que "investigações" sugeriam que não estava na origem da crise.
E neste domingo, o jornal martelou a questão, escrevendo: "não se pode excluir a possibilidade de o coronavírus ter chegado por meio de produtos da cadeia de frio a Wuhan, ou mais especificamente, ao mercado de Huanan".
As autoridades chinesas identificaram inicialmente os animais selvagens vendidos no mercado de Huanan como a fonte provável da epidemia, a ponto de agir em resposta ao comércio de animais exóticos.
Mas, desde então, a mídia oficial tem defendido que o vírus provavelmente nasceu em outro lugar, argumentando que a doença poderia ter sido importada para Wuhan.
Não há certeza científica sobre a questão da origem. Principalmente porque leva muito tempo para um vírus sofrer mutação a ponto de se tornar altamente contagioso. E o vírus já era muito contagioso quando foi relatado em dezembro de 2019.
No entanto, as autoridades chinesas não apresentaram evidências de uma possível introdução do vírus do exterior. Esta manhã, os especialistas da OMS também visitaram o gigantesco mercado atacadista de Baishazhou.
Criticado internacionalmente por uma gestão controversa durante as primeiras semanas da epidemia, o poder comunista elogia, porém, a sua vitória contra o coronavírus, enquanto o resto do mundo continua a padecer.
Se a China conseguiu limitar o contágio a menos de 90 mil casos e o número de mortes a 4.636, segundo dados oficiais, o vírus se espalhou pelo globo, com mais de 2 milhões de vítimas fatais.
No sábado, os especialistas da OMS foram levados, sob escolta e a distância da imprensa, ao hospital Jinyintan, em Wuhan, o primeiro a receber pacientes com o que era então um vírus misterioso.
Eles também foram levados a uma enorme exposição à glória do Partido Comunista que homenageia os salvadores chineses.
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