EUA

Biden confirma intenção de comprar 200 milhões de doses adicionais de vacinas

Com os novos lotes, os EUA teriam o suficiente para imunizar 300 milhões de americanos

Foi a terceira conversa telefônica de Joe Biden com um chefe de Estado ou de governo desde que assumiu o cargo de 46º presidente dos Estados Unidos. Três dias depois de falar com o premiê Justin Trudeau (Canadá) e com o colega Andrés Manuel López Obrador (México), o democrata manteve um diálogo firme, franco e aberto com o presidente russo, Vladimir Putin, por volta de meio-dia de ontem (14h em Brasília). Por meio de nota, a Casa Branca informou que ambos admitiram a disposição mútua de prorrogar o New Start por cinco anos e concordaram que suas equipes trabalhem urgentemente para concluir tal extensão até 5 de fevereiro.O tratado nuclear, em vigor desde 5 de fevereiro de 2011, limita o arsenal russo e norte-americano a 700 mísseis balísticos intercontinentais, 1.550 ogivas nucleares e 800 lançadores de mísseis e bombardeiros pesados para cada lado.
O diálogo incluiu temas sensíveis para as relações bilaterais e a segurança nacional. “O presidente Biden reafirmou o firme apoio dos EUA à soberania da Ucrânia. Também levantou outras questões preocupantes, incluindo a invasão cibernética sofrida pela (empresa americana) SolarWinds; relatos de que a Rússia concedeu recompensas por soldados dos Estados Unidos no Afeganistão; a interferência nas eleições americanas de 2020; e o envenenamento de Alexei Navalny”, afirma o comunicado. O serviço secreto russo é suspeito de utilizar o agente neurotóxico Novichok para tentar matar o líder opositor, que está preso em Moscou.
De acordo com a Casa Branca, Biden deixou claro que “os EUA agirão com firmeza na defesa de seus interesses nacionais, em resposta a ações da Rússia que prejudiquem” Washington ou seus aliados. “Os dois presidentes concordaram em manter uma comunicação transparente e consistente no futuro”, acrescenta a nota. Pouco depois do telefonema, Putin apresentou um projeto de lei na Duma (câmara baixa da Assembleia Federal ou parlamento) para prolongar por cinco anos o New Start. Durante a conversa, o líder russo defendeu uma “normalização” das relações russo-americanas e explicou que ela responderia aos interesses de ambos os países e de toda a comunidade internacional, “dada a particular responsabilidade (de ambos) na manutenção da segurança e da estabilidade do mundo”.

Especialistas

Em entrevista ao Correio, Daryl G. Kimball — diretor-executivo da Associação para o Controle de Armas (em Washington) — avaliou que a relação entre os Estados Unidos e a Rússia permanece tensa, apesar do acordo sobre a extensão do único tratado remanescente “que limita os dois maiores e mais letais arsenais nucleares do mundo”. “O presidente Biden deixou claro que confrontará a Rússia quando Putin tomar medidas ou políticas que ameacem a democracia, os direitos humanos e a segurança internacional. No entanto, o democrata pretende trabalhar em tópicos e iniciativas que são de interesse mútuo, como o desarmamento nuclear”, observa.
Segundo Kimball, tanto Biden quanto a maioria dos republicanos e dos demais democratas apoiam a manutenção de limites aos arsenais nucleares dos EUA e da Rússia, a fim de reduzir a corrida atômica. “Se o tratado New Start tivesse expirado, não haveria limites aos dois maiores arsenais do mundo pela primeira vez desde 1972. Nesse cenário, a relação entre as duas nações ficaria ainda mais complicada de gerenciar.” Ele aponta que a extensão do New Start deveria ser apenas o começo da diplomacia de desarmamento nuclear entre Washington e Moscou. “Americanos e russos têm uma responsabilidade especial e um interesse nacional em reduzir e, eventualmente, eliminar seus estoques nucleares inchados, caros e mortíferos, que são, de longe, os maiores entre os nove países detentores de armas atômicas”, diz Kimball.
Matthew Kroenig, especialista em armamento nuclear, professor de ciência política da Universidade de Georgetown e ex-oficial do Pentágono, considera o New Start “um erro”. “Ele apenas cobre as ogivas nucleares ‘estratégicas’ da Rússia e permite a Moscou continuar a construir armas atômicas não estratégicas e exóticas. Como os EUA não possuem tais armas, este tratado confere à Rússia uma vantagem nuclear injusta”, explica ao Correio.

» Eu acho...

“Joe Biden criticou o antecessor Donald Trump por ser muito próximo a Vladimir Putin. Ele prometeu ter uma abordagem mais dura em relação à Rússia. Ambos mantiveram uma conversa telefônica, hoje (ontem), e Biden acenou o desejo de cooperação em certas áreas, como o controle de armas. Mas, acho que podemos esperar um relacionamento gélido entre os dois.”

Matthew Kroenig, especialista em armas nucleares, ex-oficial do Pentágono e cientista político da Universidade de Georgetown