Arembepe
Sempre que regresso a este porto seco
— igualmente inundado de sol —
algo do espanto blue volta comigo
e cabras inimagináveis mastigam
(e mastigam) o silêncio do mundo.
Sempre que retorno da costa ao planalto
em mim ainda o manto das águas
a arrastar corais-ampulhetas-areias
a persistir em seu ir-e-vir infindo
no mar na altura dos ombros
no barco ali (na exata linha)
entre o oceano e o céu
no marulho infiltrado no ouvido
nos ventos delirantes do alpendre
(e que nos roubam
o senso o som o sentido)
— talvez a ponta do mistério:
o segredo inicial
a nostalgia de Ulisses
e aquele azul
indevassável.
Luciana Barreto
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