EUROPA

Economista que salvou o Euro tem a tarefa de resgatar unidade na Itália

Depois de comandar o Banco Central Europeu, o economista Mario Draghi aceita o convite do presidente italiano, Sergio Mattarella, para formar governo de unidade nacional. Missão do primeiro-ministro indicado será combater pandemia e crise financeira

Rodrigo Craveiro
postado em 04/02/2021 06:00

Apenas 0,65% dos italianos foi imunizado contra a covid-19. O coronavírus infectou 2,5 milhões (4%) da população e deixou quase 90 mil mortos. Não bastasse a pandemia, a instabilidade política se impõe como obstáculo ao futuro da Itália: em média, os governos tendem a durar pouco mais de um ano. É nesse contexto que o economista Mario Draghi, 73 anos, ex-chefe do Banco Central Europeu (BCE) que salvou a Zona do Euro, aceitou, com reservas, o convite do presidente italiano, Sergio Mattarella, para formar um governo de unidade. A coalizão do premiê Giuseppe Conte ruiu, abandonada pelo partido Itália Viva — do antecessor Matteo Renzi.

“Eu agradeço ao presidente Mattarella pela confiança”, declarou Draghi em seu primeiro discurso como potencial primeiro-ministro da Itália. “Este é um momento difícil. O presidente recordou a dramática crise sanitária, com seus graves efeitos para a vida das pessoas, a economia e a sociedade”, declarou, ao citar a conversa com Matarella, que tem a prerrogativa de designar o premiê ou dissolver o Parlamento.

Segundo o jornal Corriere della Sera, Draghi disse que os principais desafios de sua virtual gestão serão “vencer a pandemia, realizar a campanha de vacinação, responder aos problemas cotidianos da população e relançar a Itália”, com atenção especial nas novas gerações e na coesão social. “Confio na unidade dos partidos políticos e dos grupos parlamentares”, disse. A decisão de confirmar Draghi como premiê caberá a Mattarella. A previsão, segundo analistas políticos italianos, é de que isso ocorra no prazo de uma semana. Defensor do socialismo liberal, Draghi herdou a direção do BCE, em novembro de 2011, com a Zona do Euro sacudida por dívidas. Conseguiu tranquilizar o mercado e salvar a moeda única. 

Para Lorenzo Castellani, historiador político da Universidade Luiss Guido Carli (em Roma), a missão de construir um governo de unidade exigirá habilidade política de Draghi. “Nos próximos dias, ele terá que barganhar com os partidos políticos para construir maioria no Parlamento e obter voto de confiança que lhe permitirá manter o governo”, explicou ao Correio. “Ele deverá convencer o Movimento 5 Estrelas (M5E, antissemita), e, provavelmente a Liga (de Matteo Salvini), para montar uma maioria sólida. O Partido Democrático, o Itália Viva (do ex-premiê Matteo Renzi) e o Forza Italia (de Silvio Berlusconi) ainda têm que expressar o desejo de fazerem parte da maioria”, acrescentou. Na terça-feira, antes da reunião com Draghi, Matarella exortou as forças políticas a apoiarem um “governo de alto perfil” e “forte” para fazer frente à emergência sanitária e colocar em marcha o plano colossal de reconstrução financiado pela União Europeia.

Reputação

Professor de estratégia do Politécnico de Milão, Giuliano Noci afirmou ao Correio que Draghi é “a melhor opção para a crise italiana por quatro motivos”. “Além de ser um político refinado, postura moldada durante a gestão do Banco Central Europeu (BCE), ele tem uma extraordinária capacidade de execução. Draghi também é funcionário público há três décadas, como diretor do Tesouro da Itália. E goza de ótima reputação internacional”, comentou. Para Noci, os principais desafios do novo governo serão relacionados à turbulência que atinge os partidos italianos, “incapazes de preparar uma versão eficiente do Plano de Recuperação Econômica”.

Noci vê dois problemas no establishment da Itália. “O sistema eleitoral, baseado em uma regra de proporcionalidade, reduz significativamente a estabilidade política. O segundo obstáculo está ligado ao parlamento bicameral — Câmara dos Deputados e Senado, ambas com mandato legislativo.”
Castellani explicou que o primeiro dos dois governos de Conte foi frágil por não ter surgido de um pacto pós-eleitoral e pelo fato de a Liga tê-lo abandonado. “O segundo governo foi uma aliança entre o Partido Democrático e o M5E. A Itália é caracterizada por uma política de partidos fragmentados. Eles se dissolvem em legendas muito pequenas e, por isso, torna-se difícil ter um governo estável.”

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“Mario Draghi deverá enfrentar desafios significativos em sua gestão. Em primeiro lugar, terá que assegurar a implementação efetiva do Plano de Imunização contra a covid-19. Os primeiros países que conseguirem vacinar suas populações ganharão vantagens econômicas importantes. Em segundo lugar, ele deverá criar políticas ativas para a geração de empregos, a fim de assegurar a melhoria das competências da mão-de-obra. Em terceiro lugar, deverá intervir em dois fatores que impactam negativamente no crescimento do país: a burocracia e o sistema judicial.” Giuliano Noci, professor de estratégia do Politécnico de Milão.

O Reino Unido aplaude o “Capitão Tom”

O primeiro-ministro Boris Johnson convocou os britânicos a aplaudirem o capitão Tom Moore, herói nacional que arrecadou 33 milhões de libras (cerca de R$ 225 milhões na época) para a saúde pública durante a pandemia, que faleceu aos 100 anos. Ontem, os deputados britânicos respeitaram um minuto de silêncio na Câmara dos Comuns. Johnson pediu à população que aplaudisse o “Capitão Tom e todos os profissionais da saúde para os quais arrecadou recursos” às 18h (15h de ontem em Brasília). Moore “dedicou sua vida a servir o seu país e os demais”, afirmou o primeiro-ministro, que elogiou sua “longa vida bem vivida”. Com o modesto objetivo de arrecadar 1 mil libras para o Serviço Nacional de Saúde (NHS), o veterano da Segunda Guerra Mundial percorreu 100 vezes os 25 metros de seu jardim. Conseguiu um valor 33 mil vezes maior.

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