RÚSSIA

Rússia expulsa diplomatas suecos, poloneses e alemães

Moscou expulsa diplomatas da Suécia, da Polônia e da Alemanha, sob a acusação de terem participado de ato em favor da libertação do líder opositor Alexei Navalny. Berlim convoca embaixador russo e prepara resposta. Estocolmo e Varsóvia criticam o Kremlin

Rodrigo Craveiro
postado em 06/02/2021 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

O recado do Kremlin teve destinatário certo e entrega imediata. O alto representante da União Europeia (UE) para Assuntos Externos e Política de Segurança, Josep Borrell, se reunia com o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Moscou, quando o governo de Vladimir Putin anunciou a expulsão de diplomatas da Suécia, da Polônia e da Alemanha. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que um protesto foi feito pessoalmente aos embaixadores dos três países em relação à participação de funcionários diplomáticos dos Consulados-Gerais da Suécia e da Polônia em São Petersburgo, e da Embaixada da Alemanha, em Moscou, em “ações ilegais em 23 de janeiro de 2021”. “Eles receberam ordens de deixar o território da Federação Russa em um futuro próximo”, diz o comunicado. O governo de Putin insinua que os diplomatas marcaram presença em manifestações a favor do líder opositor russo Alexei Navalny, que cumpre pena de 2 anos e 8 meses de prisão por desrespeitar um controle judicial de 2014.
A reação também foi instantânea. A chanceler alemã, Angela Merkel, classificou as expulsões como “injustificáveis”; Berlim convocou o embaixador russo, em protesto, e avisou que as ações não ficarão sem respostas. “Consideramos essas expulsões injustificadas. Acreditamos que é outro aspecto que pode ser observado agora, o de que a Rússia está muito longe do Estado de direito”, declarou Mekel. A Polônia advertiu que o incidente pode danificar os laços bilaterais entre Varsóvia e Moscou. A Suécia, por sua vez, denunciou um gesto “completamente infundado”.

Investigação

Após ser comunicado diretamente por Lavrov, Borrell admitiu que as relações entre UE e Rússia “estão no seu ponto mais baixo desde o envenenamento e a prisão” de Navalny. “Em um debate aberto e franco, solicitei uma investigação imparcial sobre o atentado contra a sua vida e a sua liberdade. (…) Soube, durante o encontro, que três diplomatas europeus serão expulsos da Rússia. Eu condenei veementemente essa decisão, rejeitei as alegações de que realizaram atividades incompatíveis com o seu status de diplomatas estrangeiros. A decisão deve ser reconsiderada”, disse.
O russo Sergey Radchenko, professor de relações internacionais da Universidade de Cardiff (Reino Unido), avalia a decisão da Rússia de expulsar os diplomatas como “um passo amplamente simbólico e um tapa na cara da diplomacia europeia”. “A mensagem é: ‘A todos com quem nos importamos, podemos romper relações diplomáticas amanhã. Vocês terão de pedir que retornemos à mesa de negociações’”, afirmou ao Correio. Ele entende a manobra do Kremlin como “um novo grau de atrevimento, uma mistura de arrogância e dureza que Putin tenta projetar”. Radchenko aposta que as elites russas não abraçarão, sem hesitar, essa guinada da política externa. “Mas, o próprio Putin claramente espera deixar as elites de lado e forjar um consenso doméstico, em favor de um confronto de médio prazo com o Ocidente.”
O especialista acredita em uma reação limitada do Ocidente, como expulsões baseadas em reciprocidade diplomática. “A tendência geral será claramente alguns países restringirem relações com Moscou. O verdadeiro teste envolve o impacto disso nas relações econômicas, como Nord Stream-2”, disse Radchenko, a citar o gasoduto que liga a Rússia à Alemanha e é formado por dois ramais de 1.224km de comprimento.


» Eu acho...

“Não tenho dúvidas de que Alexei Navalny seria impedido
de caminhar em liberdade, após retornar a Moscou. O Kremlin tinha deixado claro que eles o prenderiam e, se fracassassem, pareceriam muito fracos. Então, eles o prenderam, o enviaram a uma colônia penal, e pretendem mantê-lo lá. É uma questão de credibilidade, de sinalizar quem está no controle.”

Sergey Radchenko, professor de relações internacionais da Universidade de Cardiff
(Reino Unido)

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