Desastre

Ao menos 18 mortos e 200 desaparecidos na Índia após ruptura de geleira no Himalaia

Ao menos 200 pessoas estão desaparecidas e 18 cadáveres foram recuperados

Agência France-Presse
postado em 08/02/2021 09:12
 (crédito: Sajjad HUSSAIN / AFP)
(crédito: Sajjad HUSSAIN / AFP)

Ao menos 18 pessoas morreram e 200 continuam desaparecidas no norte da Índia, após a ruptura no domingo de uma geleira no Himalaia, que provocou a cheia repentina de um rio.

Quase 200 funcionários das equipes de emergência retomaram as tarefas de resgate nesta segunda-feira, informou à AFP um porta-voz da polícia da fronteira Índia-Tibete (ITBP).

Ao menos 200 pessoas estão desaparecidas e 18 cadáveres foram recuperados, informou o primeiro-ministro do estado de Uttarakhand, Trivendra Singh Rawat.

O chefe de polícia local, Ashok Kumar, já havia mencionado no domingo 200 desaparecidos apenas nas duas centrais de energia elétrica localizadas na represa de Richiganga. Alguns trabalhadores ficaram bloqueados em dois túneis obstruídos pela correnteza de água, lama e pedras provocada pela ruptura da geleira.

Doze pessoas foram socorridas no domingo em um túnel e pelo menos 25 continuam retidas em outro túnel, informou à AFP Piyoosh Rautela, secretário estadual para Ajuda às Vítimas de Catástrofes.

Dificuldades técnicas prejudicavam as operações de resgate no túnel, mas 90 metros já foram liberados e estão acessíveis, informou Vivek Kumar Pandey, funcionário do governo local.

"Ao que parece ainda é necessário retirar os escombros por mais 100 metros", completou.

- Como um filme -


"Estávamos trabalhando no túnel, a 300 metros da saída. De repente, escutamos assobios e gritos nos pedindo para sair", disse à AFP Rajesh Kumar, um sobrevivente de 28 anos.

"Nós conseguíamos ver a saída, quando a água entrou. Foi como um filme de Hollywood. Pensamos que não conseguiríamos sair", explicou, aliviado.

A correnteza devastou o vale do rio Dhauliganga, destruindo tudo que encontrava em sua passagem, incluindo estradas e pontes.

"Havia uma nuvem de poeira à medida que a água passava. O chão sacudia como em um terremoto", afirmou Om Agarwal, morador da região, a um canal de televisão

O rio Dhauliganga é um afluente do Ganges, cujas águas são sagradas para os hindus.

Em um primeiro momento, as autoridades declararam que a represa foi destruída pela cheia provocada pela queda de uma parte da geleira que se desprendeu da montanha.

Agora citam um possível fenômeno de inundação de lago glacial (GLOF, na sigla em inglês).

"Esta tragédia era imprevisível", declarou Trivendra Singh Rawat.

"Se o incidente tivesse acontedido à tarde, depois do horário de trabalho, quando os operários e funcionários das obras e dos arredores, a situação não seria tão grave", completou.

Os vilarejos nas montanhas que cercam o rio foram evacuados e as autoridades afirmaram que o maior risco de inundação foi superado.

- "Recordação sombria" -


O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, enviou no domingo pêsames às famílias das vítimas e a todo o país.

"As Nações Unidas estão dispostas a contribuir para os esforços de socorro e assistência em curso e necessário", afirmou.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, informou que estava monitorando a operação de resgate.

"A Índia apoia a população de Uttarakhand e a nação inteira reza pela segurança de todos nesta região", escreveu no no Twitter.

As 14 geleiras que dominam o rio no Parque Nacional Nanda Devi são objetos de estudos científicos por causa dos crescentes temores a respeito da mudança climática e do desmatamento, que aumentam os riscos de rupturas.

O derretimento de 25% do gelo do Himalaia observado nas últimas quatro décadas pode ser atribuído ao aumento das temperaturas.

As inundações devastadoras provocadas pelas chuvas de monção deixaram mais de 6.000 mortos no estado em 2013, o que provocou uma revisão dos planos de desenvolvimento em Uttarakhand, em particular em áreas isoladas como as próximas à represa Rishi Ganga.

Vimlendhu Jha, fundador da ONG ecologista Swechha, afirmou que o desastre é uma "recordação sombria" dos efeitos da mudança climática e do "desenvolvimento incoerente de estradas, ferrovias e centrais elétricas em zonas ecologicamente sensíveis".

"Os ativistas e os habitantes são constantemente contrários aos grandes projetos no vale do rio", disse.

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