ESTADOS UNIDOS

Julgamento de Trump avança; procuradora da Geórgia abre investigação

Jaime Raskin, um dos promotores do julgamento político de Donald Trump, acusa o ex-presidente de ter abdicado de funções e se regozijado com invasão ao Capitólio. Magnata republicano também é alvo de investigação criminal na Geórgia

Rodrigo Craveiro
postado em 11/02/2021 06:00
 (crédito: Drew Angerer/Getty Images/AFP)
(crédito: Drew Angerer/Getty Images/AFP)

No segundo dia do julgamento político de Donald Trump, os nove deputados democratas que encarnam o papel de promotores acusaram o ex-presidente de ter atuado como o principal incitador da invasão ao Capitólio por simpatizantes do republicano, em 6 de janeiro. “A evidência mostrará que o ex-presidente não foi um espectador inocente. Ele abdicou de seu papel de comandante-chefe e se tornou o incitador chefe de uma perigosa insurreição”, declarou o legislador Jamie Raskin, um dos promotores. A expectativa é de que o veredicto do ex-líder republicano seja divulgado na noite de sábado. A situação de Trump pode se agravar nos próximos dias. Uma procuradora da Geórgia abriu uma investigação criminal sobre as “tentativas do magnata de influenciar as eleições gerais” no estado, em 2020.
Os senadores tiveram acesso, ontem, a novos vídeos inéditos sobre o ataque ao Capitólio. Uma das gravações das câmeras de segurança mostra como Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado, esteve a poucos metros dos invasores. Outras imagens sugerem que os extremistas pretendiam executar o então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que se refugiou no Congresso. Uma terceira gravação também revela que os vândalos invadiram o gabinete da democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, e planejavam feri-la ou assassiná-la.

Além de apontar Trump como incitador chefe, Raskin disse que o ex-presidente “ainda está promovendo a grande mentira responsável por incitar a multidão”. “Seu foco não era nos defender ou consolar. Era continuar a agir como incitador chefe, dizendo à multidão que a eleição tinha sido roubada”, comentou. Segundo ele, “as evidências mostram que ele (Trump) sabia o que estava para acontecer e que não ficou surpreso com a violência”. A invasão ao Capitólio deixou cinco mortos.

“Quando, inexoravelmente e inevitavelmente, a violência ocorreu, mergulhando este órgão e a Câmara de Representantes no caos, nós iremos mostrar que ele abdicou totalmente de suas funções”, ressaltou Raskin. “Ele se regozijou com isso e não fez nada para nos ajudar como comandante-chefe”, acrescentou. Os promotores teriam 16 horas para expor os motivos pelos quais esperam que o Senado condene Trump.

Em entrevista ao Correio, Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), acredita que os promotores conseguiram provar que Trump incitou a insurreição não apenas em 6 de janeiro, ao pedir aos simpatizantes que lutassem “como o inferno”, mas ao longo de dopis meses, desde as eleições de 4 de novembro. “O tuíte mais incriminador veio depois das 18h daquele 6 de janeiro, mais tarde apagado pela rede social. Trump escreveu: ‘Essas são as coisas e os eventos que acontecem quando uma vitória eleitoral sagrada esmagadora é, tão sem cerimônia e cruelmente, retirada de grandes patriotas que foram mal e injustamente tratados por tanto tempo. Vão para casa com amor e em paz. Lembrem-se deste dia para sempre!’”, afirmou o especialista. Ontem, o Twitter anunciou que o banimento de Trump da rede social é definitivo.

Segundo Lichtman, o próprio Trump admitiu que o protesto violento foi uma consequência provável das queixas sobre uma eleição supostamente roubada. “Mas, foi o ex-presidente quem desencadeou essas reclamações, com uma bateria de mentiras, ao longo de 62 dias, que culminou na retórica inflamada de seu comício, em 6 de janeiro”, explicou. Ao ser questionado sobre o risco de o julgamento político acentuar o ódio dos simpatizantes de Trump, Lichtman disse que “extremistas não precisam de incentivos”.

Geórgia

Fani Williams, promotora do condado de Fulton (Geórgia), explicou que a investigação contra Trump “incluirá possíveis violações das leis eleitorais da Geórgia, que proíbem pedir a funcionários locais e estaduais que cometam fraude ou falso testemunho, embora não vá se limitar a isso”. Em 2 de janeiro passado, Trump pediu ao secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, que “encontrasse” os votos necessários para alcançar o democrata Joe Biden no estado.

» Eu acho...

“Em uma nação profundamente polarizada, como os Estados Unidos, qualquer resultado do julgamento político do ex-presidente Donald Trump despertará a indignação de um lado. No entanto, até agora, quase toda a violência veio do campo pró-Trump, não dos opositores ao republicano.” Cas Mudde, professor do Centro para Pesquisa sobre Extremismo da Universidade de Oslo e da Faculdade de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade da Geórgia (EUA).

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação