Nos bastidores do quarto dia de julgamento do ex-presidente Donald Trump, senadores republicanos admitiram que o futuro político do magnata está arruinado, mesmo em caso de absolvição. Segundo o site The Hill, os congressistas do partido de Trump não esconderam o ultraje e a ira ao assistirem às imagens das câmeras de segurança que registraram a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro.
A percepção é de que Trump sequer conseguirá uma eventual nomeação para disputar a Casa Branca, em 2024. Para um dos senadores consultados pelo The Hill, os nove democratas que atuaram como promotores indiretamente favoreceram o partido adversário. “Inconscientemente, nos fazem um favor. Eles estão desqualificando Donald Trump para concorrer à presidência”, declarou, sob a condição de anonimato.
A senadora Lisa Murkowski foi a única republicana a falar abertamente sobre o tema. “Depois que a opinião pública americana vir a história completa apresentada aqui, não vejo como Trump poderia ser reeleito novamente”, comentou a repórteres, na quarta-feira. Outro senador admitiu que o julgamento na Câmara Alta é “muito prejudicial para qualquer disputa política futura de Trump”.
Depois de a acusação classificar Trump como o incitador chefe da insurreição, a estratégia de defesa focou-se, ontem, em denunciar “vingança política” e “caça às bruxas”. Os advogados do ex-presidente tacharam a acusação de “mentira absurda e monstruosa” e ligaram os eventos de 6 de janeiro à Primeira Emenda da Constituição. Ao concluir a argumentação da defesa, Bruce Castor apelou aos senadores pela absolvição. Segundo o advogado, o objetivo da acusação a Trump é “anular os 75 milhões de eleitores de Trump e penalizar pontos de vista políticos”.
Outro defensor, David Schoen, alertou que os promotores do impeachment agiram com ódio e raiva, em um “perigoso padrão duplo”. Por sua vez, o também advogado Michael van der Veen destacou que “a história lembrará esse esforço vergonhoso como uma tentativa deliberada do Partido Democrata de difamar, censurar e cancelar não apenas o presidente Trump, mas os 75 milhões de americanos que votaram nele”.
“O artigo de impeachment ante o Senado é um ato injusto e flagrantemente inconstitucional de vingança política. (…) Este abuso terrível da Constituição somente divide ainda mais nossa nação. (…) Como qualquer outra caça às bruxas com motivação política, na qual a esquerda engajou-se nos últimos quatro anos, este impeachment é completamente divorciado dos fatos”, disse Van der Veen.
Voto final
Os 100 senadores pretendem realizar o voto final às 15h de hoje (17h em Brasília). A condenação de Trump exige dois terços dos votos, ou 67 senadores — 17 republicanos teriam que seguir os democratas, uma manobra improvável.
Se senadores republicanos creem em danos eleitorais para Trump, cientistas políticos consultados pelo Correio adotam cautela. James Green, historiador político da Universidade Brown (Rhode Island), considera prematura uma análise do impacto do julgamento sobre o futuro de Trump. “Embora uma minoria muito pequena do Partido Republicano finalmente tenha se levantado contra o ex-presidente, Trump detém uma maioria de simpatizantes leais no Partido Republicano e entre a base do partido”, explicou. “Talvez a imagem dele esteja prejudicada entre eleitores brancos suburbanos da classe média, que tradicionalmente votavam nos republicanos, mas têm se distanciado do partido por causa do ex-presidente.”
O cientista político Charles Stewart III, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pensa diferente. “Acho que Trump provavelmente será o membro mais dominante do Partido Republicano no próximo biênio, se não nos próximos quatro anos. Mas, é inegável que sua marca política está significativamente maculada. O processo de impeachment lembra aos republicanos menos conservadores porque Trump é uma figura política tóxica”, disse à reportagem.
Garantia de livre expressão
A Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos integra um conjunto de 12 emendas e data de 15 de dezembro de 1791. O texto proíbe o Congresso de promover uma religião em detrimento de outras e de restringir as práticas religiosas de um indivíduo. Também protege a liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e o direito de petição ao governo para a reparação de queixas. A Suprema Corte dos EUA interpretou a Primeira Emenda como aplicável a todo o governo federal, e não somente ao Legislativo.
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“As forças políticas que Trump empoderou não partirão imediatamente. Há força significativa entre os simpatizantes de Trump em posições políticas estaduais e nacionais. Eles somente serão derrubados se o partido experimentar uma série de perdas políticas ligadas ao fato de os republicanos serem vistos como ‘o partido de Trump’. Vai demorar para isso ocorrer.” Charles Stewart III, professor de ciência política do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
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