Presidente da Argentina por uma década, nos anos 1990, Carlos Menem morreu, ontem, aos 90 anos, numa clínica de Buenos Aires, em decorrência de uma infecção agravada por problemas cardíacos. O governo decretou três dias de luto. “Com profundo pesar, soube da morte de Carlos Saúl Menem. Sempre eleito na democracia, foi governador de La Rioja, presidente da Nação e Senador Nacional. Na ditadura foi perseguido e preso. Todo o meu carinho para (sua primeira esposa) Zulema, (sua filha) Zulemita e todos os que choram por ele”, escreveu, em seu perfil no Twitter, o presidente Alberto Fernández.
Como é de praxe, o corpo de Menem, político de linha peronista como o atual presidente, está sendo velado no Congresso. “Ele estava acompanhado por toda a família e foi embora segurando a mão da mãe”, declarou, emocionada, Zulemita, ao deixar o hospital.
Segundo ela, o pai será sepultado no cemitério islâmico de Buenos Aires, próximo ao túmulo de seu filho Carlos, falecido, em 1995, em um acidente de helicóptero que nunca foi esclarecido. “Ele vai descansar no cemitério islâmico com meu irmão, embora professasse a religião católica, para ficar com meu irmão”, disse Zulemita.
Senador desde 2005, Menem estava com a saúde debilitada e foi hospitalizado várias vezes nos últimos oito meses. Em 13 de junho passado, no meio da quarentena do coronavírus, teve a primeira internação, por pneumonia, complicada com histórico cardíaco. A partir de então, teve diversas enfermidades.
Em 29 de dezembro, Menem não conseguiu participar da votação no Senado sobre a lei do aborto na Argentina porque estava internado. “Tinha um carisma enorme”, disse o presidente Fernández, ontem, em uma entrevista ao canal de tevê C5N. Nascido em uma família de imigrantes sírios, na província de La Rioja, “El Turco”, como foi apelidado, gabava-se de nunca ter perdido uma disputa eleitoral.
Reeleição
Sucessor de Raúl Alfonsín, Menem governou a Argentina entre 1989 e 1999, com um programa neoliberal. Em 1994, ele impulsionou a reforma da Constituição, que introduziu a reeleição presidencial imediata, além de remover o requisito de professar a religião católica a quem exerce a liderança do Estado.
Sob o comando de Menem, o país viveu um período de extremos. O ex-presidente privatizou a maioria das empresas públicas e implementou uma taxa de câmbio em paridade com o dólar, um esquema que gerou uma súbita abundância, mas que implodiu em 2001, culminando na pior crise econômica da história do país.
À frente do governo, Menem indultou os máximos responsáveis da última ditadura (1976-1983) que haviam sido processados e membros de organizações de guerrilha. Foi o único presidente latino-americano a aderir à aliança ocidental para participar da Guerra do Golfo (1990-91), com o despacho de dois navios.
O ex-presidente foi investigado em vários casos por corrupção, mas nunca houve uma condenação firme. A Justiça o esquivou da prisão nos julgamentos que enfrentou, entre eles, o que foi acusado de encobrir o atentado contra a associação judaica Amia, em 1994, no qual 85 pessoas morreram.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.