No dia seguinte à segunda absolvição política de Donald Trump no Senado, sobravam, entre os norte-americanos, questionamentos sobre o futuro do Partido Republicano. Embora o ex-presidente tenha se livrado da condenação, que sepultaria suas pretensões de tentar retornar à Casa Branca em 2024, o novo julgamento de impeachment expôs a dura divisão interna que assola a legenda em relação ao polêmico magnata. O debate, agora, é por quanto tempo permanecerá a sombra que Trump faz não apenas sobre o partido, mas sobre o país.
No total, 57 senadores — sendo sete republicanos — votaram pela condenação de Trump por “incitação à insurreição”, entendendo que ele estimulou seus simpatizantes a atacarem o Capitólio em 6 de janeiro passado, dia da proclamação da vitória do atual presidente, Joe Biden. Na invasão, cinco pessoas morreram.
Faltaram 10 votos para que se alcançasse os dois terços exigidos para a condenação política. De qualquer forma, o resultado do julgamento, com 43 senadores se posicionando pela absolvição, foi considerado uma conquista para os democratas, na avaliação de analistas e de políticos.
Isso porque, além das sete adesões formais, não faltaram, em declarações, vozes republicanas que criticaram a postura adotada por Trump e o consideraram culpado. Uma delas foi a do líder da minoria no Senado, Mitch McConnell. Apesar do voto contra a condenação, o congressista assinalou: “Não há dúvida nenhuma de que o presidente Trump é pratica e moralmente responsável por causar os eventos (de 6 de janeiro).”
Batalha
Enquanto alguns membros dizem que é hora de virar a página, Trump deixou explícita, em um comunicado, a determinação de retornar ao cenário político.
Crítico frequente de Trump, o governador Larry Hogan, de Maryland, previu, ontem, que vem aí uma “verdadeira batalha pela alma” do Partido Republicano. “Isso não acabou”, disse Hogan à CNN, assinalando que votaria a favor da condenação.
Na mesma linha, posicionou-se o senador Bill Cassidy, da Louisiana, um dos sete republicanos que votaram a favor da condenação. Para ele, o domínio ainda expressivo de Trump sobre a legenda vai se esvair. “Acho que sua força está diminuindo. O Partido Republicano é mais do que apenas uma pessoa. Acho que nossa liderança será diferente no futuro”, declarou Cassidy, ontem, no programa This Week da ABC.
Antes mesmo do ataque ao Capitólio, vários republicanos expressavam insatisfação em relação ao comportamento do magnata, que fixou residência na Flórida após deixar a Casa Branca. Em várias ocasiões, Trump deixou apoiadores e correligionários contrariados com falsas alegações de que as eleições de novembro haviam sido fraudadas.
Há, porém, quem permaneça fiel ao ex-presidente de forma irrestrita. É o caso do senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, um dos defensores ferrenhos do ex-chefe da Casa Branca. Para ele, Trump manterá um enorme papel político nas eleições de meio de mandato, em 2022. “É o membro mais vibrante do Partido Republicano”, observou.
E há, ainda, os que temem a mão pesada do magnata. Os republicanos que se opuseram abertamente a Trump, ou mesmo se distanciaram dele, enfrentaram duras retaliações das bases do partido. Muitos temem que o ele continue no poder e siga tentando se vingar dos críticos.
Fato é que, absolvido, Trump está à vontade para fazer suas gestões eleitorais. A mera sugestão de uma possível candidatura o manterá nas conversas políticas e permitirá que continue arrecadando grandes quantias de dinheiro.
Sob outro aspecto, como assinalou Mitch McConnell no julgamento de sábado, agora sem proteção do mandato presidencial, Trump enfrenta vulnerabilidade legal em uma série de questões que vão de problemas fiscais levantados por seus vastos ativos financeiros a alegações de agressão sexual. “Ele não se livrou de nada ainda”, lembrou McConnell.
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Limites às armas
Três anos depois do tiroteio que deixou três mortos em uma escola de Parkland (Flórida), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo, ontem, ao Legislativo para que adote, imediatamente, medidas para restringir a circulação de armas de fogo no país. “Agora, peço ao Congresso que promulgue reformas de sentido comum na questão”, disse o líder democrata, defendendo que se exija a comprovação de antecedentes dos compradores “para todas as vendas” e que os rifles de assalto sejam proibidos.
“Este governo não vai esperar o próximo tiroteio em massa”, disse o chefe da Casa Branca, numa declaração em memória dos 17 mortos na tragédia. Para Biden, é preciso “acabar com a imunidade dos fabricantes de armas que colocam armas de guerra nas ruas”.
Em resposta, a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, garantiu que haverá uma mobilização parlamentar para garantir avanços nessa área. “Promoveremos esses e outros projetos de lei para salvar vidas e ofereceremos o progresso que a comunidade de Parkland e o povo americano merecem e exigem”, assegurou.
Com maioria estreita no Senado, os democratas vão precisar de muita articulação para aprovar essas leis. Serão necessários os votos de, ao menos, 10 republicanos, o que parece difícil no momento.
Há anos os os norte-americans convivem com assassinatos em massa, geralmente, em escolas, centros comerciais, empresas e locais de culto. O episódio no instituto Marjory Stoneman Douglas, um centro de ensino médio no sudeste da Flórida, deixou marcas profundas no país.
Em 14 de fevereiro de 2018, data em que os EUA comemoram o dia dos namorados, Nikolas Cruz, de 19 anos, abriu fogo na escola com um rifle semiáutomático, Quatorze estudantes e três professores morreram. Cruz, que havia sido expulso do instituto por “razões disciplinares”, foi preso.