O governo do Irã pediu novamente aos Estados Unidos nesta sexta-feira (19) a retirada de todas as sanções impostas pelo ex-presidente Donald Trump, horas depois de uma proposta de negociações da parte da administração de Joe Biden.
Teerã "anulará imediatamente" suas medidas de represália se Washington "retirar, sem condições, todas as sanções impostas, reimpostas ou rebatizadas por Trump", tuitou o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif.
As autoridades americanas expressaram na quinta-feira a vontade de salvar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015, do qual Washington se retirou em 2018.
Após uma reunião virtual entre os ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, o governo Biden anunciou que estava disposto a aceitar um convite da União Europeia (UE) para participar em conversações com o Irã.
O encontro reuniria os países que assinaram o acordo (Irã, Estados Unidos, Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia) com o objetivo de "abordar a melhor forma de avançar a respeito do programa nuclear" iraniano, segundo a diplomacia americana.
Em um gesto de boa vontade, o governo Biden também anunciou que a proclamação de sanções internacionais contra o Irã, feita de maneira unilateral por Trump em setembro, permanecerá no papel. Os demais países do Conselho de Segurança da ONU já haviam considerado que o anúncio não teria nenhum efeito.
- "Algo bom" -
O Departamento de Estado americano também anunciou que aliviaria as restrições de deslocamento em Nova York dos diplomatas iranianos na ONU, que também foram aumentadas durante o mandato de Trump.
Estas medidas obrigavam os representantes iranianos a não se afastarem mais que algumas ruas da sede da ONU. Agora poderão fazer deslocamentos por Nova York e sua periferia.
Os sinais de boa vontade em relação ao Irã foram elogiados inclusive pela Rússia nesta sexta-feira.
"Deixar de pedir sanções é algo bom (...) é um fato positivo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, antes de destacar que ainda resta muito trabalho pela frente para retomar o apoio ao acordo nuclear com o Irã.
A mudança de governo nos Estados Unidos aumentou as esperanças de retomada de diálogo entre Washington e Teerã após a política de "pressão máxima" exercida por Trump.
Joe Biden já deixou claro que Washington só pretende retornar ao pacto quando Teerã demonstrar que cumpre o acordo plenamente.
O momento atual é especialmente delicado. Com base em uma lei aprovada pelo Parlamento do Irã, o governo planeja restringir, a partir de 21 de fevereiro, o acesso dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a algumas instalações, caso o governo dos Estados Unidos não retire as sanções.
Na quinta-feira, os chefes da diplomacia da França, Jean-Yves Le Drian, Alemanha, Heiko Maas, Reino Unido, Dominic Raab, e Estados Unidos, Antony Blinken, afirmaram que se a lei for aplicada, isto representaria o início de uma situação "perigosa".
Os quatro pediram ao Irã que "considere as consequências de uma ação tão grave, especialmente neste momento de renovada oportunidade diplomática".
- "Atos com atos" -
"Nossas medidas são uma resposta às violações americanas e europeias", declarou Zarif na quinta-feira. "Responderemos aos atos com atos", completou.
França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos também expressaram a "preocupação comum" com a recente decisão do Irã de produzir urânio enriquecido a 20% e urânio metálico, o que constitui um "passo chave no desenvolvimento de uma arma nuclear".
Desde a retirada dos Estados Unidos do acordo e do retorno das sanções que asfixiam a economia iraniana, Teerã se liberou de muitos limites que havia aceitado impor a seu programa nuclear.
O diretor geral da AIEA, Rafael Grossi, tem uma viagem programada no sábado a Teerã para "encontrar uma solução mutuamente aceitável", segundo o organismo com sede em Viena, que está preocupado com o "grave impacto" das restrições.
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