Rússia

Dupla derrota a Navalny

Justiça ratifica a prisão de líder opositor e o declara culpado em um caso de difamação contra um veterano de guerra. Ativista terá que cumprir pena de dois anos e meio e poderá ser transferido para um campo de trabalho forçado

Correio Braziliense
postado em 20/02/2021 22:06
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Principal opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, 44 anos, amargou ontem duas derrotas judiciais e, devido às condenações, pode passar os próximos anos em um campo de trabalho forçado no interior da Rússia. O ativista teve negado o pedido de recurso contra a sua prisão — realizada, em 17 de janeiro, quando voltava da Alemanha após ser tratado de um envenenamento que quase lhe custou a vida e cuja mentoria atribui ao governo russo. Na segunda audiência, Navalny foi penalizado por ter divulgado um vídeo considerado difamatório. As decisões da Justiça foram tomadas em meio a uma pressão internacional para a libertação do opositor, sob a alegação de que ele corre risco de morte no país.

Navalny foi detido no mês passado, assim que desembarcou em um aeroporto de Moscou, e, no último dia 2, foi condenado a dois anos e oito meses de prisão. Sua defesa entrou com um recurso contra a decisão da Justiça, mas, ontem, não obteve o sucesso esperado. O juiz, porém, reduziu a pena em um mês e meio, argumentando que levou em consideração o tempo que o líder opositor ficou em prisão domiciliar. Com isso, o adversário do governo russo terá que cumprir pena de cerca de dois anos e meio.

A Justiça transformou uma sentença por fraude, que remonta a 2014 e que Navalny poderia cumprir em liberdade, em uma sentença com cumprimento de pena na prisão. A alegação é de que o ativista violou o controle judicial durante seu período de recuperação na Alemanha. A viagem ao país europeu se deu logo após o envenenamento pelo agente químico novichok, uma substância neurotóxica muito usada pelo Kremlin contra dissidentes.

Ao juiz Navalny rejeitou a condenação e assegurou que sua intenção ao ir para a Alemanha não era se livrar das autoridades russas, às quais, inclusive, advertiu sobre o seu retorno ao país. “Comprei uma passagem e disse a todo mundo que voltaria para casa. Isso é um absurdo”, disse. O promotor respondeu que o réu infringiu a lei “abertamente” e que se comportava como se estivesse acima das normas. “Nosso país se apoia na injustiça”, declarou Navalny, após ouvir a sentença. Antes, citou um trecho da Bíblia: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão satisfeitos”.

O ativista também mencionou uma passagem de Harry Potter sobre a “importância de não se sentir sozinho”, porque, segundo ele, é isso que Voldemort, o inimigo do famoso bruxo, gostaria. Navalny manteve o tom provocador na segunda audiência. “Por que estão tão tristes?”, perguntou, dizendo que havia tentado fazer sorvete no centro de detenção e também que havia preparado picles. Nesse processo, ele foi condenado a pagar uma multa de 850 mil rublos (cerca de US$ 11.500) por ter “difamado” um veterano da Segunda Guerra Mundial em um vídeo. Em audiências anteriores, Navalny denunciou que os tribunais estavam manipulando o homem de 94 anos para reprimir um adversário.

Pressão
As duas audiências aconteceram depois que a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) exigiu, na semana passada, a libertação do militante, alegando que há risco para a vida dele. Moscou rejeitou o pedido, como já havia feito em relação aos da União Europeia (UE), apesar da ameaça de novas sanções. O governo russo vê a situação como uma

“interferência” em seus assuntos domésticos e alertou que pode retaliar os europeus. Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que as sentenças não mudarão o cenário político “rico e plural” da Rússia. Um advogado do opositor, por sua vez, indicou que recorrerá das decisões.

Há a possibilidade de que Navalny seja transferido para um campo de trabalho forçado no interior do país. A informação foi confirmada por Uliana Solopova, porta-voz do tribunal de Moscou, na sexta-feira, à agência France-Presse de notícias (AFP). Uma herança da extinta União Soviética, esses campos prisionais estão localizados, em muitos casos, em regiões remotas. Os detentos cumprem obrigatoriamente um regime de trabalho obrigatório em oficinas de costura ou de fabricação de móveis. As condições de detenção costumam ser alvo de denúncias frequentes de defensores dos direitos humanos.

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Gripe aviária: mais uma cepa em humanos

 (crédito: Remy Gabalda/AFP - 6/1/17)
crédito: Remy Gabalda/AFP - 6/1/17

O primeiro caso de transmissão da cepa da gripe aviária H5N8 para seres humanos foi registrado pela Rússia. Autoridades do país informaram que a detecção ocorreu em funcionários de um criadouro de aves da região sul do país e foi comunicada à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Anna Popova, diretora da agência sanitária russa, assegurou, ontem, que os sete contaminados estão bem. Na região do criadouro, houve uma epidemia de gripe aviária em dezembro. Segundo ela, “medidas foram tomadas rapidamente para controlar a situação”. Com a descoberta de que a cepa H5N8 já tenha “passado a barreira entre as espécies”, ao ser transmitida de aves para o homem, surge o alerta quanto à ocorrência de um novo patamar de transmissão. Popova reforçou que, até o momento, “essa variante do vírus não é transmitida de uma pessoa para outra.”

A descoberta da nova cepa em humanos foi feita pelo laboratório estatal russo Vektor, que isolou material genético do vírus que infectou os funcionários do criadouro. Em nota, o laboratório informou que “é necessário começar a desenvolver um sistema de teste que permita a detecção rápida de casos dessa doença no homem e começar a trabalhar em uma vacina”.

A OMS, por sua vez, confirmou que foi informada pelo governo russo sobre os casos e que mantém contato com autoridades “para reunir mais informações e avaliar o impacto desse fato na saúde pública”. No comunicado, a agência das Nações Unidas também destaca que a circulação de variantes da gripe aviária é uma preocupação global, já que esses patógenos podem “causar doenças graves em humanos que têm pouca ou nenhuma imunidade contra o vírus”. Surtos da H5N8 já foram relatados em Rússia, Europa, China, Oriente Médio e norte da África nos últimos meses, mas, até então, apenas em aves.

Terceira vacina contra a covid-19

O governo russo registrou a terceira vacina contra o novo coronavírus, segundo o primeiro-ministro do país, Mikhail Mishustin. O imunizante, batizado de Kovivak, foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Shumakov, em Moscou. “A partir de meados de março, as primeiras 120 mil doses estarão disponíveis”, comemorou Mishustin, em uma reunião de gabinete. O país já havia registrado a Sputnik V, em agosto, e a EpiVacCorona, em outubro. O registro da Kovivak supõe que a fórmula passará para a fase 3 dos ensaios com humanos, prática que se deu com os outros imunizantes russos e diferente da adotada pela comunidade científica internacional. Tradicionalmente, os registros se dão após a finalização das pesquisas.

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