Conflitos

Manifestantes voltam a protestar em Mianmar após ameaça da junta militar

Três semanas depois do golpe de 1º de fevereiro, a mobilização pró-democracia prossegue, com protestos diários e uma campanha de desobediência civil que afeta o funcionamento do Estado e da economia

Correio Braziliense
postado em 22/02/2021 10:09
 (crédito: str / AFP)
(crédito: str / AFP)

Yangon, Mianmar - Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades de Mianmar nesta segunda-feira (22) para denunciar, mais uma vez, o golpe de Estado, desafiando a junta militar, que advertiu que os participantes nos protestos correm o risco de morte.

Três semanas depois do golpe de 1º de fevereiro, a mobilização pró-democracia prossegue, com protestos diários e uma campanha de desobediência civil que afeta o funcionamento do Estado e da economia.

O fim de semana foi marcado pela morte de três manifestantes e o falecimento, na sexta-feira, de uma jovem que havia sido atingida por um tiro em uma passeata.

A preocupação da comunidade internacional é cada vez maior e o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou nesta segunda-feira a "força brutal" utilizada pelos militares, enquanto a União Europeia anunciou que está disposta a impor sanções contra a junta.

No domingo à noite, as autoridades advertiram que "os manifestantes estão incitando as pessoas, sobretudo os adolescentes e jovens exaltados, a seguir o caminho do confronto no qual morrerão", segundo um comunicado em birmanês lido no canal de televisão estatal MRTV, com legendas em inglês.

O texto fez um alerta aos manifestantes contra a tentação de "confrontos e anarquia".

Mas a advertência do regime não abalou os manifestantes. Milhares de pessoas se reuniram novamente nesta segunda-feira em dois bairros de Yangon, a capital econômica do país.

- "Raiva" -


Em Bahan, um dos bairros dos protestos, os manifestantes sentaram no chão e exibiram bandeiras de apoio à chefe de Governo civil deposta, Aung San Suu Kyi, que está detida desde 1º de fevereiro em um local não divulgado.

"Estamos aqui para participar na manifestação, para lutar até a vitória", declarou Kyaw Kyaw, estudante de 23 anos. "Estamos preocupados com a repressão, mas vamos continuar. Temos muita raiva".

Os moradores de Yangon constataram o envio de reforço das forças de segurança, que deslocaram caminhões da polícia e do exército nas ruas. O bairro de Bahan foi isolado por vários agentes.

"O exército tomou o poder injustamente do governo civil eleito", afirmou um manifestante de 29 anos, que pediu anonimato. "Lutaremos até obter nossa liberdade, democracia e justiça".

Muitos mercados e estabelecimentos comerciais permaneceram fechados em solidariedade ao movimento pró-democracia.

Também foram registradas manifestações na capital, Naypyidaw, e nas cidades de Myitkyina (norte) e Dawei (sul).

No domingo, os birmaneses prestaram homenagem à primeira vítima fatal da repressão, uma jovem que se tornou ícone da resistência contra a junta militar.

O funeral de Mya Thwate Thwate Khaing, atingida por um tiro na cabeça e que faleceu após 10 dias de internação na UTI, aconteceu na periferia de Naypyidaw e reuniu milhares de pessoas.

No sábado morreram duas pessoas em Mandalay e uma terceira em Yangon, vítimas da repressão policial.

- Condenação internacional e sanções -


De acordo com a associação de ajuda aos presos políticos, 640 pessoas foram detidas desde o golpe.

As autoridades militares voltaram a cortar o acesso à internet na madrugada de segunda-feira, pela oitava noite consecutiva, segundo o NetBlocks, observatório especializado com sede no Reino Unido.

O ministério birmanês das Relações Exteriores classificou de "interferência flagrante" nas questões internas do país as críticas da comunidade internacional.

"Apesar das manifestações ilegais, as incitações aos distúrbios e a violência, as autoridades dão mostras de grande contenção, recorrendo o mínimo possível à força para enfrentar as perturbações", afirmou o ministério em um comunicado.

O secretário-geral da ONU pediu à junta que "pare a repressão imediatamente", em seu discurso anual para o Conselho de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas.

"Peço hoje ao exército de Mianmar que pare a repressão imediatamente, liberte os prisioneiros, acabe com a violência e respeite os direitos humanos e a vontade do povo expressada nas recentes eleições", afirmou Guterres em um vídeo gravado e exibido na abertura da 46ª sessão do CDH.

Ao mesmo tempo, os ministros das Relações Exteriores da UE advertiram nesta segunda-feira que estão dispostos a adotar sanções contra os militares, depois que Estados Unidos, Reino Unido e Canadá tomaram decisões neste sentido.

Em um comunicado, os ministros destacaram que a UE "está pronta" para a adoção de "medidas restritivas dirigidas aos responsáveis diretos pelo golpe militar e a seus interesses econômicos".

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