Em retaliação a novas sanções impostas a funcionários venezuelanos, Caracas declarou, ontem, a embaixadora da União Europeia (UE), Isabel Brilhante, persona non grata e a expulsou do país. Foi dado à diplomata um prazo de 72 horas para deixar a Venezuela. O ministro das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, entregou, pessoalmente, a certidão do governo de Nicolás Maduro à representante do bloco europeu, ao recebê-la na chancelaria. É a segunda vez, em oito meses, que Isabel Brilhante é alvo desse tipo de ação por parte do Palácio de Miraflores.
“Espero que haja uma reflexão na União Europeia, espero que possamos reconstruir as pontes de entendimento, de diálogo, espero que aprendam a respeitar”, insistiu Arreaza.
“A UE lamenta profundamente essa decisão, que só levará a um maior isolamento internacional da Venezuela. Pedimos que essa determinação seja revertida”, reagiu o bloco europeu, por meio da porta-voz Nabila Nasrali. “(A Venezuela) só vai superar a atual crise mediante negociação e diálogo, com o qual a UE está sempre comprometida, mas a quem esta decisão afeta diretamente”, acrescentou.
A medida foi uma resposta do governo de Maduro às sanções contra 19 funcionários — incluindo Remigio Ceballos, um dos principais líderes militares da Venezuela; Indira Alfonzo, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — e dois congressistas.
Pouco depois da reunião com Isabel Brilhante, Arreaza entregou cartas de protesto ao embaixador da França em Caracas, Romain Nadal, e a representantes da Alemanha, Espanha e Holanda, pedindo aos seus governos para reavaliarem a posição em relação à Venezuela. “Como hoje dissemos adeus em português porque a senhora Brilhante é portuguesa de origem, não queremos ter que dizer adiós, auf wiedersehen ou au revoir”, disse o chanceler a repórteres.
Eleições
Os 19 funcionários venezuelanos foram acusados de prejudicar a democracia após as eleições parlamentares de 6 de dezembro, boicotadas e denunciadas como fraudulentas pelas principais legendas de oposição a Maduro. Arreaza definiu as sanções como ilegais. “É realmente inaceitável”, classificou o chanceler venezuelano.
O resultado das eleições, que não foram reconhecidas por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina, deu ao partido do governo e seus aliados 256 das 277 cadeiras do Parlamento, conferindo ao líder chavista o controle do único poder que estava nas mãos de seus adversários políticos. A União Europeia havia pedido, sem sucesso, o adiamento dessas eleições, visando buscar condições que garantissem a participação da oposição.
Anteontem, o novo Parlamento pediu ao presidente venezuelano a expulsão de Brilhante, que ocupava o cargo de embaixadora da UE em Caracas desde outubro de 2017. Além disso, também pediu a revisão do acordo de funcionamento do escritório do bloco europeu em Caracas.
A Venezuela se tornou o primeiro país latino-americano a ser punido pela UE há quatro anos. Desde então, foram aprovadas medidas contra 55 funcionários do governo Maduro — sanções que vão desde a proibição de viajar para países integrantes do bloco até o congelamento de bens.
Precedente
Em 29 de julho do ano passado, após outro pacote de sanções, Maduro também declarou Brilhante como persona non grata e lhe deu 72 horas para abandonar o território venezuelano. No entanto, quando esse prazo expirou, o governo socialista recuou, pedindo “gestos do bloco” em troca.
Na ocasião, em um comunicado conjunto, Arreaza e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, “concordaram com a necessidade de manter o marco das relações, especialmente em um momento em que a cooperação entre ambas as partes pode facilitar os caminhos do diálogo político” em prol das soluções para a crise venezuelana.
“Espero que haja uma reflexão na União Europeia, espero que possamos reconstruir as pontes de entendimento, de diálogo, espero que aprendam a respeitar”
Jorge Arreaza, ministro das Relações Exteiores da Venezuela
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Rebeliões deixam 79 mortos no Equador
Os motins simultâneos deflagrados em quatro presídios do Equador, na terça-feira, terminaram na morte de pelo menos 79 detentos, segundo informações divulgadas, ontem, pelo Serviço Nacional de Atenção às Pessoas Privadas de Liberdade (SNAI). De acordo com o órgão, responsável pelo sistema penitenciário do país, houve 37 mortes em duas prisões de Guayaquil (sudoeste), 34 em uma unidade de Cuenca (sul), e oito, em Latacunga (centro).
Os quatro presídios concentram 70% da população carcerária equatoriana. Segundo informações, as ações coordenadas foram protagonizadas por facções rivais que disputam o controle das unidades.
O diretor do SNAI, Edmundo Moncayo, afirmou que não houve mortes entre os agentes penitenciários, mas falou em policiais feridos, sem especificar o número. Comunicado divulgado ontem à tarde pela instituição destacou que a situação estava, finalmente, sob controle. A Defensoria Pública classificou os motins de “massacre sem precedentes”.
Diante da situação, o presidente Lenín Moreno ordenou ao Ministério da Defesa que realize um “controle estrito de armas, munições e explosivos nos perímetros externos” das quatro prisões. Moreno declarou estado de exceção para o sistema prisional, que, desde 2019, registra alto nível de violência. No ano passado, foram 103 assassinatos nas unidades prisionais.
O Equador tem cerca de 60 presídios, com capacidade para abrigar 29 mil pessoas. A superlotação está em torno de 30%, o que corresponde a uma população carcerária de aproximadamente 38 mil detentos. Em contrapartida, a segurança é composta por aproximadamente 1,5 mil agentes penitenciários, um deficit de, pelo menos, 2,5 mil.